sábado, 17 de dezembro de 2022

OS SINOS DA MINHA ALDEIA!!!


Quando me mudei para a cidade em abril de 1965, a primeira coisa que estranhei foram os toques dos sinos da igreja a menos de cem metros de casa. Naquela altura tocavam as Trindades a chamar para a missa, anunciar mortes, batizados ou casamentos sem descortinar alguns desses toques a desoras, quando não eram chamadas para novenas ou outras práticas.

Os sinos das torres das igrejas foram, ao longo de muitos séculos, o principal meio de comunicação entre as populações, sobretudo as rurais.

A sua principal função era convocar os crentes à oração e participação nos atos variados litúrgicos. Por isso, eram inúmeros os toques: o sinal (variando conforme se tratasse da morte de homem ou mulher), à missa (se fosse dominical havia um toque: espaçado no tempo para que as pessoas pudessem gerir o tempo até à hora da missa), mesmo assim ainda muitas estavam de saída da tasca apressadamente rumo à porta da igreja, ao terço, a batizado, a casamento, a procissão, às Avé Marias, ás Trindades e outros que, certamente, não recordo. Na minha meninice era o Sebastião a que dominava superiormente todas estas melodias arrancadas dos dois sinos da torre. Hoje é são outros que, briosamente, tratam de nos anunciar quem morre e que  casamentos já não há.

Mas o sino também era utilizado para fins laicos: para reunir as pessoas para qualquer assunto de interesse público, para acorrer a uma aflição, nomeadamente quando havia um fogo que ocrriam mais nas casas que nos campos. Nesta circunstância toda a gente pegava em baldes e acorria a ajudar. Os sinos serviam, até, para quando o povo estava farto do padre, chamar o povo e pô-lo a andar. Por regra, os sinos da Vila, nos tempos que correm tocam aos domingos para a missa enquanto houver padre e alguém  conseguir subir os degraus da torre. 

Sábados e domingos há sons repetitivos e urgentes e esses, eu sabia, eram os do chamamento para a ancestral voz do povo que por eles sempre se regeu ao longo dos séculos para funções civis, religiosas ou até mágicas.

Os que primeiro começaram a desaparecer foram os toques de rebate em caso de incêndio ou outra calamidade. também já não se usa o toque para a escola e perdura sobremodo o toque das horas, a evocar os tempos em que as pessoas não tinham relógio e se guiavam pelo sol e pelas estrelas, os sinos eram parte integrante da vida das pessoas e foram celebrados como no poema “Ó Sino da minha aldeia” de Fernando Pessoa

Na cidade não há lugar para sinos nem seus toques, a cidade não tem tempo para essas ancestralidades arcaicas. Gente de modernices sem sentimentos pelas tradições, a que chamam poluição sonora.

E de lembrar-me, dá-me saudade

Ilídio Bartolomeu


1 comentário:

  1. O sino nas Igrejas e Capelas, referência incontornável em todas as localidades do nosso Concelho, motivo pelo qual estão presentes na imagem de Boas Festas da Rede Atalaia, Movimento Cívico do Concelho de Vimioso.

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