Quando me mudei para a cidade em abril de 1965, a primeira coisa que estranhei foram os toques dos sinos da igreja a menos de cem metros de casa. Naquela altura tocavam as Trindades a chamar para a missa, anunciar mortes, batizados ou casamentos sem descortinar alguns desses toques a desoras, quando não eram chamadas para novenas ou outras práticas.
Os sinos das
torres das igrejas foram, ao longo de muitos séculos, o principal meio de
comunicação entre as populações, sobretudo as rurais.
A sua principal
função era convocar os crentes à oração e participação nos atos variados litúrgicos.
Por isso, eram inúmeros os toques: o sinal (variando conforme se tratasse da
morte de homem ou mulher), à missa (se fosse dominical havia um toque: espaçado
no tempo para que as pessoas pudessem gerir o tempo até à hora da missa), mesmo
assim ainda muitas estavam de saída da tasca apressadamente rumo à porta da
igreja, ao terço, a batizado, a casamento, a procissão, às Avé Marias, ás
Trindades e outros que, certamente, não recordo. Na minha meninice era o Sebastião
a que dominava superiormente todas estas melodias arrancadas dos dois sinos da
torre. Hoje é são outros que, briosamente, tratam de nos anunciar quem morre e
que casamentos já não há.
Mas o sino
também era utilizado para fins laicos: para reunir as pessoas para qualquer
assunto de interesse público, para acorrer a uma aflição, nomeadamente quando
havia um fogo que ocrriam mais nas casas que nos campos. Nesta circunstância
toda a gente pegava em baldes e acorria a ajudar. Os sinos serviam, até, para
quando o povo estava farto do padre, chamar o povo e pô-lo a andar. Por regra,
os sinos da Vila, nos tempos que correm tocam aos domingos para a missa
enquanto houver padre e alguém conseguir
subir os degraus da torre.
Sábados e
domingos há sons repetitivos e urgentes e esses, eu sabia, eram os do chamamento
para a ancestral voz do povo que por eles sempre se regeu ao longo dos séculos
para funções civis, religiosas ou até mágicas.
Os que primeiro
começaram a desaparecer foram os toques de rebate em caso de incêndio ou outra
calamidade. também já não se usa o toque para a escola e perdura sobremodo o
toque das horas, a evocar os tempos em que as pessoas não tinham relógio e se
guiavam pelo sol e pelas estrelas, os sinos eram parte integrante da vida das
pessoas e foram celebrados como no poema “Ó Sino da minha aldeia” de Fernando
Pessoa
Na cidade não
há lugar para sinos nem seus toques, a cidade não tem tempo para essas
ancestralidades arcaicas. Gente de modernices sem sentimentos pelas tradições,
a que chamam poluição sonora.
E de
lembrar-me, dá-me saudade
Ilídio
Bartolomeu
O sino nas Igrejas e Capelas, referência incontornável em todas as localidades do nosso Concelho, motivo pelo qual estão presentes na imagem de Boas Festas da Rede Atalaia, Movimento Cívico do Concelho de Vimioso.
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