Falar da nossa
terra, da terra dos nossos afetos, é sempre um exercício que, quer queiramos
quer não, nos faz percorrer, através da memória, a nossa existência desde a
infância. Então, percebemos que aquele mundo pequeno, a nossa rua, afinal faz
parte de outras ruas.
E hoje, ao
recordarmos a primeira memória que temos da infância, percebemos que aquele
mundo tão pequeno, afinal, é fisicamente tão grande. “Ilídio, vai ao Tito comprar
um litro de azeite”– pedia o meu pai. Que emoção, ter de ir à praça e invadir o
comercio do Sr. Tito! Aqueles setenta
metros eram uma aventura. Por sua vez minha mãe dizia-me: Ilídio meu filho, vai
buscar um cântaro de água à espadana para fazer o caldo. Depois, veio a
escola e os horizontes alargaram-se mais, mas pouco. Contudo, a memória dos
cheiros, das pessoas e das brincadeiras na rua é imensa, e ficou entranhada na
pele e na lembrança.
Nenhum dos
outros mundos, por muito belos e grandes que sejam, se comparam à nossa rua ou
à comunidade das nossas relações. São, pois, as memórias do coração que
prevalecem: agarraram-se às pedras da calçada; às paredes dos edifícios; aos
rostos envelhecidos das vizinhas; aos cheiros peculiares que saíam, e continuam
a sair, de cada uma das casas; ao barulho da roupa que sacudia, e continua a
sacudir, no estendal. “Como defendeu o Sr. Poi―a memória do coração elimina as
coisas más e amplia as boas”. O desejo de regressar, depois de alguma ausência,
aparece carregado de ansiedade porque, como dizia “Minha mãe, “Esta é a minha
terra, outra mais linda não há”.
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Maquina que media o azeite |
Com certeza que
já todos ouvimos e até já dissemos: “Vou à terra” ou “Vou regressar à minha
terra”. Não, não é provincianismo, é a necessidade de fazermos parte de um todo
significativo que valorizamos, que nos valoriza e que temos orgulho de ter
ajudado a construir. Por isso, o nosso primeiro impulso é achar a nossa terra a
mais linda do mundo, os defeitos são minimizados pela vontade de ajudarmos a
que se transformem em virtudes; e as coisas boas são ampliadas pelo amor que
temos a esse lugar, porque, não tenhamos dúvidas, há lugares de afetos que são
amores para toda a vida.
Esta terra, é minha e de todos
nós... É de todos aqueles que começaram, que construíram, que abandonaram e de
todos aqueles que ainda hoje por aqui permanecem.
Blog Freixagosa