Quem vê o
charme sofisticado e displicente de Argoselo moderno, talvez não concorde que
ela seja uma aldeia, mas ela é! Argoselo é uma aldeia inicialmente de Judeus
que se transformou com o passar dos anos, mas sem perder o seu encanto de
vilarejo. Mas essa é a minha aldeia, a que conheço, a que amei, e a que por
bons motivos jamais esquecerei
Regressar a uma aldeia onde fomos felizes, em crianças, é como
tentar coser uma manta de pequenos retalhos de memória. Vale tudo para
recuperar histórias e sensações antigas. Um cheiro, uma porta familiar. Ou uma
conversa informal, empoleirado num balcão de uma taberna.
O verão dá-nos um
sentimento único de liberdade e aventura; esta coragem sazonal faz-nos sair da
zona de conforto, muitas vezes desbravando sentimentos que se encolhem com o
frio.
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Fotografias de 1986 |
Ah, o verão!
Aquela época do ano esperada por muitos, especialmente as crianças, e sinônimo
de dias ensolarados, férias e diversão.
Seja uma bebida ao pôr do sol, um passeio ao entardecer, um piquenique à
beira rio ou uma viagem de sonho. O verão é tempo de férias, é tempo de
descansar com sabor a praia e a campo, a alegria e descontração.
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O verão da
minha infância cheira a aldeia, a terra e a fruta. Era quando as férias
duravam 3 meses e chegava mesmo a ter saudades da escola. Era o tempo das
cigarras, das tardes e noites quentes, em que me deitada no chão e observava o
céu estrelado e imaginava-me a viajar pelo espaço infinito à procura de uma princesa
encantada montada no seu cavalo alado da cor do arco íris ou ser aconchegado e
embalado nos braços da estrela mais brilhante, a Estrela Polar.
Nasci e vivi a minha infância numa pacata, mas linda
aldeia entre dois rios. Para trabalhar tive que ir para o Estoril e somente
regressava à aldeia e à casa paterna no período das férias. Mas sem dúvida que
as minhas férias preferidas eram as do verão. Era o tempo de rever os amigos,
era o tempo dos bailaricos e das paixonetas, era o tempo dos fins de tarde
abafados, já depois do banho tomado num balde grande de lata.
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São Bartolomeu na Procissão em Argoselo 1986 |
Era irmos espreitar, o pôr do sol, na praça. Era jogarmos
à bola. pião ou à bilharda, brincarmos às escondidas ou às apanhadas, era irmos
até à ribeira tomar banho e chapinharmos com a água ou então apanhar as amoras,
rapinar as malapas e as peras das árvores que por lá havia. No final do verão
assaltávamos, também, os vinhedos à procura da uva moscatel, da uva maria e dos
bastardos que eram os mais apreciados, em suma, saudades de quase tudo o que só
o Verão proporciona.
As festas eram o
momento alto! Recordo-me que, na década de 60, alguns dias antes, as ruas eram engalanadas
com arcos bem coloridos. Durante, todo o
mês de agosto decorriam festividades religiosas, culturais e desportivas. A
abertura dos grandes dias, logo pela manhã, eram feitas por lançamento de
foguetes estrondosos enquanto a banda de
musica percorria as ruas da Vila. Lembro-me de acordar sobressaltado, mas logo
me ocorria que era o início da Festa.
As Festas são
um grande acontecimento para a população local e também para os muitos
forasteiros que aqui ocorrem. Durante o ano não há distrações e as expetativas
focam-se entre o religioso e o profano, nas festas e romarias, há convívio e
diversão, compra-se toda a gama de artefactos, ou simplesmente, cumpre-se a
tradição de ver e rever a família, amigos e conhecidos.
As majestosas
procissões saiam da Igreja Paroquial em
volta da população. As pessoas exprimiam aos santos toda a sua devoção e pediam
um futuro melhor, num apelo de bênção e graças para momentos difíceis, que, os
afagam de paz, alegria e profunda
inquietação, angústia e dor.
É uma época
onde muitas histórias marcantes acontecem de
amizade, de aventuras inesquecíveis... é a estação do sol, do calor, dos
dias mais longos e descontraídos…histórias que se eternizam na memória das
pessoas.
Verão é a
estação do “sim”, do “bora lá” e do “agora”! Aproveite todas as oportunidades
desta estação mágica. Não deixe para o próximo verão o que você pode curtir
agora.
Blog Freixagosa