Depois de ter
passado por momentos muito delicados relacionado à minha saúde, a cirurgia a
duas das vertebras da coluna, foi um êxito. Não direi que já estou aqui para as
curvas, mas havemos lá chegar. Está de parabéns a ciência médica!
Como é meu atributo
escrevo simplesmente para deixar para o futuro as memorias duma passagem dum
tempo de alegrias, tristezas, grandezas e miséria, denuncias e enaltecer o que
está bem. Foi, assim que nasceram os meus textos, artigos e crónicas.
Eu, tive desde
a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era
escrever. E não sei porque foi tão tarde que me apercebi que era esta a vocação
que tinha de seguir. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de uma
longa aprendizagem, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida,
vivendo em nós e ao redor de nós. Distrai-me até aos meus 55 anos de idade, para que um dia
eu tivesse a mão em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como
se fosse a primeira vez. Cada texto, artigo ou crónica, é uma estreia penosa e
feliz. Essa capacidade de me renovar à medida que o tempo passa, é o que eu
chamo de viver a escrever desde que me reformei. É assim que o meu tempo vai passando.
O meu ponto de
partida é sempre um sentimento de sectarismo, uma sensação de injustiça. Quando
me sento para escrever um texto , não digo a mim mesmo: ”Vou produzir uma obra
de arte”. Escrevo porque existem mentiras que pretendo expor, um facto para o
qual pretendo chamar atenção, e a minha preocupação é atingir um publico local.
Mas não
conseguiria escrever um texto, nem um longo artigo para uma revista, Não sou
capaz de abandonar por completo a visão de um mundo que adquiri na infância,
nem quero. Enquanto viver e estiver com alguma saúde, continuarei a ter um
forte apego ao meu estilo de conversa, a amar a superfície da Terra, a sentir
prazer com objetos sólidos e fragmentos de informações inúteis. De nada adianta
tentar reprimir esse meu lado. O trabalho é conciliar os gostos e os desgostos enraizados
com as atividades essencialmente locais, não individuais, que esta época impõe
a todos nós.
Porque a
criação só pode encontrar o seu acabamento na leitura; porque o artista deve
confiar a outro a tarefa de concluir o que ele começou; porque somente através
da consciência é que ele pode ter como essencial a sua obra. É um apelo.
Acho que para
cada escritor há uma razão diferente. No meu caso, num certo sentido, é o
desejo interior de dar um testemunho do meu tempo, da minha gente e
principalmente de mim mesmo: eu existi, eu sou, eu pensei, eu senti e eu queria
que todos soubessem. No fundo, é esse o grito do escritor, de todo artista.
Creio que o impulso de todo artista é esse. Eu existo, olhem para mim, escutem
o que eu quero dizer: tenho sempre uma coisa para contar. Creio que é por isso
que eu escrevo.
Escrever é
apelar ao leitor para que ele faça passar à existência objetiva o descobrimento
que empreendi por meio da linguagem.
Espero que todos tenham
um bom dia.
Ilídio Bartolomeu
18-1-2021