quinta-feira, 29 de setembro de 2022

A SABEDORIA DOS MAIS VELHOS


 O envelhecimento tornou-se um fenómeno de massas. Associamos a velhice à perda de algumas faculdades, quer físicas, quer mentais e é perfeitamente normal que tenhamos muito receio em envelhecer. 

A sabedoria das pessoas mais velhas é infinita; elas só precisam que nós estejamos dispostos a escutar com o coração as suas histórias de vida e sobre a vida.

 O abandono dos idosos é cada vez mais uma realidade típica. O isolamento, em particular dos idosos, é um dos grandes dramas das nossas comunidades.  É normal, um filho não visitar os pais; é normal os netos não visitarem os avós.

Existem histórias de todo tipo. Muitos filhos não querem saber nada dos seus pais, com motivo ou sem motivo, não sou eu quem vai julgá-los. Mas tenho a suspeita de que, se algumas pessoas mais velhas pudessem voltar no tempo, fariam as coisas de outra maneira.

Uma sociedade que não respeita os seus idosos está condenada ao fracasso, é como uma árvore sem raízes, apodrece. Se formos carinhosos com os mais velhos, como eles merecem, verão que teremos menos medo de envelhecer, sim, porque não seremos eternamente jovens. Alguns esquecem-se disso e vão colher amanhã, aquilo que semearem hoje.

A solidão mata e mata mais do que muitas outras doenças. A solidão é a moldura da tristeza que muitas pessoas mais velhas sentem. Conhecer a solidão também faz parte da sua sabedoria. Solidão que sentem, às vezes, por não querer incomodar, porque afastaram-se da família, ou porque não têm ou contam com poucos parentes ou amigos.

Todos os dias aprendemos com os mais velhos, as suas historias são de vida, muitas vezes engraçadas mais se prestarmos a atenção nos detalhes vão ver a pura sabedoria.
Eles não tiveram estudos, mas aprenderam com a maior professora de  todas, a vida.

Valorizar a importância da família faz parte da sabedoria das pessoas mais velhas. É necessário refletirmos todos, sobre esta realidade, diria até, é um dos desafios mais importantes dos dias de hoje.

 

Ilídio Bartolomeu


sábado, 24 de setembro de 2022

CONVIVER COM DEFICIENCIA E DOENÇA RENAL




 

O canal da medula apertado e duas vertebras fraturadas da coluna, tirou-me a capacidade de andar. Jamais imaginei que um dia viveria numa cadeira de rodas. A primeira vez que a usei foi para sair do hospital, na ocasião não liguei muito, pois estava focado em voltar para casa, acreditava que esta situação seria passageira.

No começo, foi muito difícil aceitar a nova realidade. Fiquei deprimido, com depressão, acreditava fortemente que durante um ou dois anos voltaria andar.

Não saio de casa há mais de dez anos. “Não tenho vontade de nada. Eu fico a pensar, meu Deus, como vai ser a minha vida numa cadeira de rodas? Tive de aprender a fazer todas as pequenas coisas na nova condição e de ganhar força e resistência física para as executar. Todavia, quando me perguntam em que medida a cadeira de rodas me transformou, respondo que "o que mudou menos foi a questão do andar". "Sou uma pessoa um pouco revoltante e vejo a vida de forma diferente”.

Obviamente que não fico feliz com esta situação, mas é do género: 'OK, esta é a minha condição agora. É uma porcaria? É, mas eu vou tentar viver com isto da melhor forma". Quanto tempo demoramos a mudar de roupa? A sentar no carro? A tomar banho? Eu também não sabia.

Só quero aproveitar a vida", dedico o meu tempo á escrita e ao NOSSO BLOG.

Se há um elemento comum em cada um dos textos, videos e publicações, no blog, esse terá qualquer coisa que ver com a alegria. Podia ter sido tudo diferente? "Depois do que me aconteceu, tenho conhecido muita gente em cadeiras de rodas na clinica, ouço muitas histórias, de facto não consigo bem explicar porque é que reagi tão mal. As coisas acabam por ser cada vez melhores quando a pessoa aceita"

“Às vezes as pessoas dizem-me assim, ‘ah, estás numa cadeira, a vida acabou”. Não, a vida continua, eu nunca questionei a Deus. Eu agradeço a Deus todo dia, porque eu sinto-me uma pessoa feliz.

Uma coisa é imaginarmos estar numa cadeira de rodas, ou outra deficiência; outra completamente diferente é perceber como é a vida de quem tem de lidar também com a diálise. Isto sim complica muito comigo.

A minha fisioterapeuta, mantem-me um plano de exercícios que ajuda a diminuir a controlar o peso, a reduzir o stress e a ansiedade. Permitindo assim, ter uma perspetiva mais positiva, enquanto me encontro a fazer diálise. É claro, que o precioso apoio e aconselhamento da minha esposa, ajuda-me muito a adquirir uma nova e valiosa perspetiva sobre o que estou a sentir. 

A minha família e amigos também acreditavam que esta situação era passageira. Tive alguns que não aceitaram prontamente, assim como amigos que se afastaram até hoje, infelizmente perdi contacto com alguns, a grande maioria felizmente permaneceu.

A cadeira de rodas, será apenas um detalhe na minha vida. Confesso que até hoje faço fisioterapia, vivo dentro de mim a vontade de voltar andar, porém não deixo de viver momentos bons e outros menos bons, como qualquer outra pessoa sem deficiência física.

Ajustar a vida a uma condição de doença crónica é um processo desafiante. Lidar com estes sentimentos não é fácil, mas partilhar e reconhecê-los é essencial para manter a saúde física e mental ao longo do período em que me encontro a fazer diálise.

Graças ao enorme avanço médico e das máquinas de diálise, o “rim artificial” estão ajudando milhões de pessoas a continuar a prolongar as suas vidas por mais tempo e com qualidade.

Mesmo com uma doença crónica, a minha vida e a minha felicidade estão nas minhas mãos. "Todos os nossos sonhos podem tornar-se realidade, se tivermos coragem para os perseguir".

Não gostava, de ficar em casa, mas quando saio eu esqueço que ando numa cadeira de rodas, acho-me uma pessoa normal.

Encare as suas deficiências e problemas como desafios, e não como desculpas…

 

Ilídio Bartolomeu

sábado, 17 de setembro de 2022

QUEM É LIVRE BATE AS ASAS E VOA

Precisamos das raízes: existe um lugar no mundo onde nascemos, aprendemos uma língua, descobrimos como os nossos antepassados superavam os seus problemas. Num dado momento, passamos a ser responsáveis por este lugar.

As raízes é a base de um ser humano, mediante qualquer dificuldade na vida, ele enfrenta, porque ele tem o equilíbrio, ele sabe até onde vai o seu voo: é por isso que atualmente está tudo desestruturado, porque faltam o necessário as raízes (base) as asas, é a fé, a coragem de como podemos enfrentar as adversidades do dia-a-dia.

Chegamos a certa altura das nossas vidas  parece que aquilo que estamos a viver já não faz mais sentido. É como se tivesse perdido o significado. Olhamos para trás e sorrimos nostálgicos e saudosos. “Como era bom aquele tempo, quando tudo tinha uma intenção”. Só que a vida é assim mesmo. Ela continua. Ela prossegue. E nós prosseguimos com ela. De maneira que nos transformamos, intimamente, profundamente, internamente. Chegamos a certa altura das nossas vidas, olhamo-nos no espelho e, comparando-nos com quem um dia fomos, chegamos à conclusão de que já não somos mais os mesmos. E se não somos mais os mesmos de antes, pode ser que também não caibamos mais nas ordenações de outrora. Quando os galhos já não nos pertencem. Só nos resta voar para novas árvores.

A questão é que não é tão fácil quanto possa parecer, principalmente quando nos sentimos tão fixados àquilo sobre o qual insistimos. É como se, ao assumirmos para nós mesmos que já não condiz com quem somos, estaremos definitivamente rasgando com o passado que construímos. E se rompermos com o passado, precisaremos começar uma nova história. E seres humanos, convenhamos, não são tão parciais às novidades da vida.

Quem é livre bate as asas e voa. Voa sorridente. Voa tranquilo. Voa disposto ao que quer que seja que tenha à sua frente, porque sabe que, embora despedindo-se de tudo até aquele momento que tinha importância, será recebido por tantas outras experiências que se tornarão tão significativas quanto as coisas do passado. Voa rumo a novas descobertas. Voa rumo a novos sentimentos. Voa rumo a um novo significado para a vida. Voa para o universo de hipóteses existente, para outras árvores por aí.

Agora, quem se prende, quem sente que o galho já não é mais confortável como um dia fora, porém, mesmo assim, insiste em fincar nele, pode acabar destruindo as boas lembranças. É o que acontece quando insistimos em algo que já acabou. Pode ter sido a coisa mais maravilhosa que vivemos. Podemos ter feito, em qualquer momento, com que nos sentíssemos como os mais felizes do mundo vivendo aquela experiência. Mas condenaremos à ruína os memoráveis instantes por insistirmos naquilo que não combina mais com a pessoa que nos tornamos. Consigo ser claro? Podemos apagar uma história tão linda por não sabermos como encerrá-la.

Precisamos das asas. Elas mostram-nos os horizontes sem fim da imaginação, levam-nos até aos nossos sonhos, nos conduzem a lugares distantes. São as asas que nos permitem conhecer as raízes de nossos semelhantes, e aprender com eles.

Voe quando chegar a hora. Bata as asas. Seja valente. Não se intimide. A vida é isso mesmo. Nada é definitivo. Algumas coisas poderão durar para sempre. Mas outras não. E as que precisarem chegar ao fim não precisam ter um fecho dramático, traumático. Saiba encerrar os ciclos com a mesma grandeza com a qual eles foram iniciados. Honre o que o fez feliz na vida.

Bendito quem tem asas e raízes; e pobre de quem tem apenas um dos dois.

E permita-se às novas etapas.

 

Ilídio Bartolomeu

 

terça-feira, 6 de setembro de 2022

À COMUNIDADE PELIQUEIRA

Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer o honroso convite que me foi endereçado pelo Domingos Ferreira. Fico verdadeiramente feliz por se ter lembrado de mim. Impossibilitado de comparecer, agradeço o honroso convite e aproveito-me da oportunidade para desejar pleno êxito a todos os vossos eventos e, reiterar ao Domingos e a todas as pessoas do Bairro de baixo a mais alta e distinta consideração.

Agora quero cumprimentar-vos e felicitar a Associação dos Peliqueiros pela continuidade e pela renovação dos seus dirigentes.

Os peliqueiros tem uma história e uma tradição – e as tradições são fundamentais na vida das instituições: são como as raízes das árvores, fixam-nos ao chão, à realidade, mas permitem que os ramos da árvore cresçam e se expandam com liberdade.

Para esta missão é essencial dedicação, espírito de serviço.

Estes são valores do passado, do presente e do futuro, integram a tradição desta Associação, e espero que as honrem com fidelidade

Depois, permitam-me um apelo: Tenham honra na Associação, não por dever de espírito de corpo, por medo ou esmagados pelo peso das tradições, mas porque os vossos antepassados merecem.

Mais uma vez, agradeço a todos os promotores desta iniciativa por tudo o que tem feito pela nossa terra em especial pela comunidade peliqueira! Vocês são realmente uns entusiastas pelo que fazem. Até podiam ser uns mercenários como muitos que por aqui existem,  mas a vossa sabedoria, a vossa humildade e honestidade, fazem de vocês uns homem únicos e diferentes. Quero dizer-vos que, um dia esta nova geração ou outra que virá, vão reconhecer-vos o que tem feito pela comunidade peliqueira, que ao fim e ao cabo eram os vossos bisavós, avôs, pais e toda a família relacionada a estas atividades, dedicando-lhes tanto amor e paixão. Mas não disse porque penso que já todos sabem. Portanto, deve-se a vocês, nestes últimos anos, a grandeza e a qualidade com que tem sido divulgada e projetada a comunidade PELIQUEIRA E ARGOSELO. Vocês são a prova decisiva de que santos da casa também podem fazer milagres. Eu, só vos posso agradecer de todo o meu coração, o meu muito obrigado, pelo excelente contributo que têm dado à Nossa terra Argoselo…

Ilídio Bartolomeu