“O Mantino”,
quando fundou a sua barbearia era uma
novidade na época. Onde não faltava o espelho e a cadeira de trono, esse luxo,
para o freguês, que quando não palrava, passava pelas brasas: o assento de
ferro fundido, estufada a napa. Um orgulho que na época lhe custou os olhos da
cara.
“O barbeiro
Adriano, “Mantino”, cuidava não só do nosso visual, mas levantava a nossa
autoestima. O trabalho dele fazia-nos sentir melhor com nós mesmos e transformava,
muitas vezes, a forma como nós nos víamos. A missão dessa profissão é fazer com
que a gente se sinta bem”.
Aquele cubículo
de salão do meu amigo Adriano Fernandes, “Mantino”, ainda hoje existente, como
museu vivo, lutando contra o tempo, em forma de “consultório” podia, sem favor,
ser tudo. Tão depressa era um santuário, onde se expressavam preces, se faziam
confissões e se planeavam casamentos, como, por milagre, virava uma “casa do
soalheiro”, onde se dizia mal de tudo o que mexia e de todos. Era ali que se
sabiam as novidades. “O Mantino”, o “técnico-barbeiro”, era um bom homem.
Mesmo sem
conhecer grandes técnicas de corte de cabelos, a vida dura ensinou-o a ser
assertivo. Como Deus, leal e omnipresente, que apenas tem ouvidos, habituava-se
a escutar, e, sem se comprometer, ao longo de décadas de profissão sempre foi
acompanhando as conversas de modo a que o cliente sentisse que participava na
história. Ele sempre soube colocar-se no seu lugar de ocasião, que um bom
barbeiro para além de ser exímio na sua arte, deve ser conselheiro, padre e
psicólogo.
Mas, se era certo que o gado dava mais rendimento, o mesmo se podia
dizer do trabalho do pastorejo. As ovelhas dava muito mais trabalho porque o
cabelo sempre se cortava resguardado da chuva e do frio, dizia a esposa de
Adriano Fernandes.
Tesouras e
pentes, ficaram pendurados, retratos da história, e também uma grande amizade
entre o barbeiro e o seu cliente: fica evidente a passagem do tempo.
Lembro dele,
era um garotinho, Só pensava que ele era só um bom barbeiro e um bom homem. “Mas
chegou a hora e morreu”
Sinto "tristeza"
pela partida do amigo barbeiro Adriano, a quem, como qualquer outra pessoa,
cobrava 5 coroas pelos seus serviços.
Os meus
sinceros pêsames à família.
Ilídio
Bartolomeu