Argoselo Vila é o lema para este espaço. O Argoselo dos nossos pais, o nosso Argoselo, dos nossos filhos e dos nossos netos, das histórias em família, dos nossos anseios, dos nossos sonhos, das nossas realidades… As saudades aumentam ao passar do tempo e, o que não é partilhado morre só… Se achar útil este blog São Bartolomeu Freixagosa, siga-me… os comentários são bem-vindos mas, moderados...
sexta-feira, 30 de outubro de 2020
terça-feira, 20 de outubro de 2020
domingo, 18 de outubro de 2020
NO TEMPO DE ESCOLA ERA ASSIM!...
Cresci numa
terrinha chamada Vimioso. com chuva, muita chuva e frio os meus pais obrigavam
me a ir escola. E a pé!!...mas ...adorava ir a pé com os amigos e depois de
volta a casa…Eu não tive direito ao escalão, nem livros grátis, mas muito menos
cheque dentista! Não tinha google, nem telemóvel!
As pesquisas
para os trabalhos da escola eram feitos na biblioteca da escola, nas
enciclopédias e recortes de jornais, eram escritas à mão, com palavras nossas (
se fosse cópia do livro ou tivesse erros, estávamos lixados) Tínhamos
sempre TPC's (todos os dias de quase todas as disciplinas).
Na escola havia o gordo, a magricela, anão, o nariz de porco, o caganeira e por
aí vai... o narigudo, o preto e o branco... o índio…
Toda a gente
era gozado, às vezes até discutíamos, mas logo estava tudo resolvido e seguia a
amizade... era brincadeira e ninguém se queixava de Bullying....Muitos até hoje
ainda permanecem com os apelidos! Existia o valentão, mas também existia quem
defendesse…
Havia o dia do
flúor, o dia de combater os piolhos, dia da vacina, da foto do ano letivo, da
feira de ciências e período de olimpíadas!
Havia o
vendedor à porta da escola onde compravamos, as Gorila, aquelas chiclas que
traziam as tatuagens e fazíamos bolas enormes e os bolicaus que traziam os
tazzos .
A frase "já vou" era para ficar mais tempo na rua a brincar e não
enfiado num tablet ou num computador...
Colecionávamos figurinhas, papel de carta perfumados, bonequinhas de papel,
poster's da revista bravo, berlindes, piões, tazzos, etc. As brincadeiras eram
saudáveis, de bater em figurinhas e não nos colegas e professores.
Música era só no rádio, na hora dos discos pedidos, ficávamos a rezar para que
o locutor não falasse nem entrasse publicidade para que fosse possível gravar
na K7!! Inventava-se teatrinhos, brincávamos aos médicos, às escondidinhas, à
apanhada, jogávamos à bola, ao elástico, ao jogo da verdade ou consequência, ao
bate pé, ao espeto, á corda, e à macaca…
Andávamos de
bicicleta, carrinhos de rolamentos etc..etc...
Não importava se meu amigo era negro, branco, pardo, rico, pobre, menino,
menina, brincávamos todos juntos, "bulhas" era só "mano a
mano" os amigos de um só se metiam se do outro lado houvesse um chico
esperto a provocar e a meter-se no meio.
Na televisão
assistíamos à Heidi, Tom Sawyer, Sítio do Picapau amarelo, Tom e Jerry, Rua
Sésamo, Ao Bocas, Scooby Doo, jogos sem fronteiras....entre muitos outros...
Que saudades dessa época em que a chuva tinha cheiro de terra molhada! Em que o
Bom Dia, o Obrigada, o Com Licença o Por Favor, o Senhor(a), ainda se usava
diariamente! Em que o Não era sempre não e aí de nós que tentássemos
interromper as conversas dos mais velhos...uiiiii!!!
Época em que nossa única dor era quando chegávamos a casa todos arranhados e
com pisaduras. Éramos felizes em comparação com esse mundo de hoje onde tudo se
torna bullying e/ou preconceito, onde se esquecem as boas maneiras e a
educação.
Desde a primária íamos sozinhos para a escola...
Os pais eram donos e senhores dos filhos e a colher de pau ficava sempre em
cima da mesa, bastava os pais olharem.... Só nos era permitido levantar da mesa
quando terminávamos de comer e só depois dos pais darem autorização.
Quando foi que tudo mudou e os valores se perderam e se inverteram desta forma?
Valores (muitos
não todos) que temos que retomar!!
Bons tempos que
não voltam
PS: Se és deste tempo copia e cola
no teu mural....
Texto de:
Rita Vara
sábado, 17 de outubro de 2020
NEM TUDO É POLITICA! MAS A POLÍTICA ESTÁ EM TUDO!
Ainda que se
torça o nariz para a política, convém lembrar que em tudo há política. Nem
tudo é política, mas a política está em tudo. Por exemplo: um casal em lua de
mel não é necessariamente uma questão política. Mas a qualidade do hotel onde
se hospedam tem a ver com política. As pessoas, podem não ter a menor
ideia de que a qualidade do café da manhã que tomam tem a ver com política. O
que é certo é que tem mesmo.
A política é
uma faca de “dois gumes”, como se diz em alguns lugares. Serve para oprimir ou
libertar. É como a religião, que também serve para oprimir ou
libertar. Foi um erro de certa tradição marxista achar que toda religião é
alienação, até que, de repente, se descobriu que religião também é fator de
libertação.
Podemos não
saber que a política está em tudo, mas está. Porque o ser humano não inventou,
acredito que nem inventará, outra maneira de organizar a sua convivência social
a não ser através da política. A pandemia que estamos enfrentando é, antes de
tudo, um problema político. E para compreendermos adequadamente este momento
histórico, devemos começar por aquilo que, de tão evidente que é, por vezes se
torna ignorado. Por isso lembro a relevância da utilização de máscara, manter o
afastamento social, e a lavagem frequente das mãos gestos simples, que ajudam
direta e indiretamente a atenuar o esforço sobre humano, a que os nossos
profissionais de saúde estão submetidos.
Hoje em dia, muitas pessoas, sobretudo jovens, têm nojo de política, porque acompanham noticiários que falam de corrupção, roubalheira, descaramento, favoritismo, etc. Lembro a eles: quem tem nojo de política é governado por quem não tem. E tudo que os maus políticos querem é que tenhamos bastante nojo, para eles ficarem à vontade a raspar o tacho!
Portanto, não
existe neutralidade política. Existe a falsa ideia de neutralidade. Mas, de
alguma maneira, cada pessoa interfere na política da sua Terra, para o bem ou
para o mal. Afinal, nenhuns políticos que ocupam os lugares públicos, não é por
que eles querem. Todos são eleitos através do voto dos eleitores. Então, a
questão também é analisarmos por que nós os eleitores votamos mal. Mais uma vez
por causa da política. Porque vivemos num mundo onde a política verdadeiramente
é controlada por uma minoria.
Lembrem-se
disso! Quando você ou os seus amigos disserem: não quero saber de política, não
vou mais votar, vou anular o voto, estão a fazer o jogo dos maus políticos.
Quem nunca
ouviu na escola a frase: “o homem é um animal político”? Pois bem, quando
Aristóteles pronunciou essa frase, ele quis dizer que todo homem precisa um do
outro, que é da natureza humana viver em sociedade e que através da busca pelo
bem comum, é que se tem a constituição da pólis, ou seja, a cidade, e todos os
lugares onde é partilhada a vida pública.
Bom, apesar da
existência de corrupção e de manipulação de ações para atender interesses
específicos no ato político, temos que entender que esse quadro negativo só
poderá mudar através da própria política. Isso porque a política é o
instrumento de ação de transformação da sociedade.
Ora vejam,
quando uns administradores populistas de um Facebook de todos bem conhecido, parece
querer monopolizar alguma nostalgia do passado ao retirar algumas publicações incomodas, isso é
o quê? Claro que é política! Porque se as retiram, é algo que não vai ao
encontro das suas ideologias.
Quando alguém
fala em problemas como:
Faltam lâmpadas na via publica, a água das torneiras sai turva,
rebentou um cano da água, o lixo está amontoado nos contentores ou a estrada
tem falta de paralelos, etc. Logo a censura
vem dizer que ali não há lugar à política, este é um espaço para lembrar o passado
e esperar pacientemente que o futuro nos deixe mais distantes da realidade dos
nossos vizinhos. Este é o estado da mentalidade destas pessoas!
O que é feito
do espirito de Argoselo? Foi para isto que nascemos? Para ver este espetáculo
de pó de arroz que esconde as misérias de dia e espera que a noite mantenha o
que realmente importa na escuridão?
Não precisamos esquecer
o passado completamente, basta que o consideremos para tirar boas lições e
continuar caminhando vivendo o hoje e, com o foco no futuro que desejamos
construir. Temos responsabilidade de olhar para a frente e deixar aos nossos
filhos um Argoselo melhor (se tal não for possível pelo menos igual).
Não podemos
aceitar viver num presente a falar dum passado que é melhor do que o futuro. O passado, assim como o presente, é parte da
nossa história. Cada experiência vivida transforma-nos de alguma maneira, e
todas são fragmentos de quem somos hoje. Entretanto, é importante ter cautela
para que as memórias não se tornem impedimentos para viver plenamente o
seu momento presente na essência.
Tenho lido, com
muita atenção os textos de três ou quatro pessoas em dois dos facebook, e foram eles que
me fizeram reportar a um período em que (afinal) ainda acredito em Argoselo. Não
é que tenha desistido a acreditar, mas que sou obrigado – pela história da
nossa Terra a acreditar.
Confesso-lhes
que é com alguma tristeza que tenho vivido há anos a esta parte em análise da
politica que influencia os destinos de Argoselo.
“Em Argozelo há alguns políticos que nem
conversar sabem e pensam que sabem de política.” não é uma citação minha, mas
eu não diria melhor. Lembro-lhes, se me permitem, que eu também faço o
exercício de exorcismo que os meus amigos/as fazem muito bem – escrever para
não esquecer.
Sinceramente
tantos grupos de Facebook em Argoselo, só para carregar likes uns para os
outros, desculpem meus amigos, não faz sentido algum e não é benéfico, só
servem para dividir e não para unir. A não ser essas três ou quatro pessoas que
de vez enquanto escrevem uns textos relacionados com Argoselo, não descortino
algo mais senão likes e mais likes. Mas gostam de quê? Opinem pelo menos para
se saber se é sincero esse like. De
todos os seis grupos que existem de facebook, só um faria verdadeiramente sentido,
onde todos poderiam expor tudo e mais alguma coisa e discutindo Argoselo.
(Amigos de
Argoselo) haverá um nome mais consensual?
Somente uma opinião… vão dizer-me: lá está ele a fazer política. É
política sim… todas as opiniões são políticas, basta não estar de acordo. Mas o
bem comum está acima de tudo!
Por exemplo:
que é feito das forças políticas da Concelhia e órgãos Locais, quando querem discutir
com as habitantes um plano para o Concelho,
desaparecem de combate. Pois a bazuca que aí vem da EU, poderiam dar aso a uma
candidatura de projetos para o desenvolvimento das localidades tanto precisam. Com
certeza estão invernados, é o que têm
feito há longos anos? Só falam na última quando já não há possibilidades de
nada. Acordem... também é politica! E sem ela não há nada!
Está tudo
doido! Há alguma política pelo facto de alguém
expor uma opinião e o outro dizer que neste sitio não há lugar para
política, isto é areia para os nossos olhos. Isto não é Argoselo! Não é
Concelho! Não é nada!...
Portanto não se
escandalizem… falem o que coração sente! imparcial é quem já se decidiu pelo
mais forte.
Tenham um bom
dia.
Ilídio
Bartolomeu
terça-feira, 13 de outubro de 2020
Nº2 ARGOSELO MEMÓRIAS DE SEMPRE
Não podia deixar de aqui partilhar este belo filme, o qual retrata
algumas das artes e ofícios que se vão perdendo na voragem do tempo. Imagens do
ferreiro, do funileiro do alfaiate, do sapateiro e de muitos
outros, intercalando com retratos e pequenos apontamentos da vivência do
nosso mundo rural. É todo um modo de vida que dentro de alguns anos, não
muitos, fará parte somente das nossas memórias, pois os seus acores já
terão desaparecido e os cenários, as nossas aldeias e o nosso campo, denotarão
ainda mais abandono e desolação.
Filmado em Argoselo, podia-o ter sido em muitos outros locais
do nosso país, nomeadamente no seu interior mais esquecido e desvalorizado
por quem de direito.
domingo, 11 de outubro de 2020
JÁ FEZ UM ELOGIO VERDADEIRO HOJE?...
Falar de
pessoas tão especiais é motivo de muita alegria, porque são pessoas que
realmente se preocupam com o bem-estar alheio. São duros quando necessário. Às
vezes falam-nos coisas desagradáveis, ou melhor, que pensamos ser
desagradáveis, porém eles têm uma única intenção, ajudar-nos. Eu já passei por
algo semelhante!
O bem comum é
fruto da generosidade dessas pessoas que gostam de trabalhar em conjunto. Elas
preferem doar algo que poderia ser só seu.
Os verdadeiros
amigos estão presentes em todos os momentos, concorda? E quando falamos de
todos os momentos, incluímos tanto os bons quanto os não tão bons. Realmente
existe muita gente que só quer saber das horas boas, das comemorações e na
primeira dificuldade afasta-se.
É a aqui que
está a grande diferença dos verdadeiros para os falsos amigos. O verdadeiro
amigo é aquele que realmente fica feliz com a sua contribuição. E você sabe
distinguir quando alguém fica verdadeiramente contente com a sua vitória ou
está ali apenas para se aproveitar do momento, ou bem lá no fundo está com
inveja. Conhece alguém assim?
Há gente que se diz teu amigo, mas incentiva-te a
fazer coisas que vão prejudicar-te. Dizem-se amigos e só estão preocupados com eles
mesmo. Eles aproveitam-se de situações para se favorecer, mas não estão
preocupados seja com quem for. Só estão por perto, pensando no próprio bem.
Amigo de
verdade está por perto sempre. Independente da distância, cidade ou país onde
mora, ele está por perto e sabe que se pode contar com ele. Valorize os seus
verdadeiros amigos e tenha um novo olhar para as suas amizades!
Outro ponto que
não posso de deixar de falar: as criticas fazem parte das nossas vidas. Devem
receber uma atenção especial para serem “disparadas” com serenidade e brandura,
para que sejam utilizadas de maneira construtiva. Sempre tenho dito que as
criticas são importantes, mas mais importante que as agulhas, é o “frasco de
mel” que deve ter consigo para “molhar” a ponta da agulha, antes de a espetar…
Por acaso, já leu
alguns dos artigos históricos de LUIZ RODRIGUES, sobre Argoselo no Facebook? Se
não leu, vale apena lê-los. Se não os leu, ainda os poderá encontrar no
Facebook, se não conseguir, pode encontra-los no (blog Freixagosa em
Categorias, (Argoselo e sua História) o ultimo que publicou, foi no dia, 10
deste mês no Facebook (Todos Juntos Somos mais) não perca e…
Faça um elogio
sincero pelo menos uma vez no seu dia e mostre para as pessoas que, apesar de
toda ambição do mundo, ainda há quem vislumbre, reconheça e admire as virtudes
alheias.
Portanto,
elogiar é uma atitude que não deve ser extinta. A prática de elogiar as pessoas
pode aumentar os comportamentos que nos agradam, sendo que gratificar uma
pessoa dessa forma um comportamento favorável é considerado muito mais efetivo
comparado ao ato de ignorar ou punir o comportamento que não nos agrada...
Pensem nisso!
Elogiar faz bem para a alma e para o coração…tanto de quem faz, como de quem
recebe…
Tenham um bom
dia
Ilídio
Bartolomeu
UMA HISTÓRIA DE CONFLITOS DE MEMÓRIAS
Do Alto de S. Roque, ao vale mais profundo do Teixo, do xisto das
entranhas, donde saiu o estanho e volfrâmio, ao granito esculpido das campas
milenares, da água calma, presa nos Inverniços, ao som das cascatas que fluem
livres em Cal Silvar, do denso carvalhal da Estercada à rara crista do Serro
surge o trabalho ousado da engenharia popular, simples engenhos para dar
resposta a problemas quotidianos e a grandes obras que moldam a paisagem.
Chega até nós uma enorme riqueza cultural
que manteve um estilo de vida em comunhão com a Natureza, séculos de História
onde imperou um modelo económico centrado na casa.
A casa está concebida, não apenas como o lugar onde se mora. Engloba nela, para
além da vivenda, espaços complementares de trabalho: curral, lojas, adega, espaço
para o carro, para a lenha, procurando a intimidade, criando um mundo interior
para que o exterior seja visto apenas pelas janelas. O elemento de ligação com
o exterior é o portão, o único acesso para pessoas e animais e a sua estrutura
coberta de madeira dá abrigo ao carro e serve de armazém do arado e outras
ferramentas permitindo a realização de muitas tarefas ao abrigo do sol e chuva.
É a altura do carro que transporta os
produtos do campo, com os estadulhos, que determina a medida para a portada.
Define ainda a localização do armazém de sementes e palha, mantidos em lugar
elevado como é o caso do palheiro. Por vezes, alinhado com o portão, na parte
superior, fica a porta de abastecimento do palheiro.
Os diferentes tipos de casas admitem múltiplas variantes, o recurso a paredes
meeiras, por exemplo, é uma estratégia tendo em vista a economia de espaço e
recursos, muito utilizado em espaços mais urbanizados, cujas fachadas se
enfeitam com varandas no piso superior e janelas no piso inferior.
Em Argozelo ainda é possível encontrar habitações que correspondem à típica
casa transmontana, mas há sobretudo muitos exemplares que trazem até aos nossos
dias o testemunho das vivências dos nossos antepassados – casas que resistem ao
abandono, que nos gritam memórias de gentes que habitaram nelas e que receiam
cair no esquecimento.
Escrito por
Luiz Rodrigues
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
DÁ QUE PENSAR!
FARMACIAS REAIS
Farmácia
Ferreira - Argozelo
Em Argozelo, a
melancolia espreita a cada esquina. Entre casas abandonadas e becos que deixam
adivinhar prados verdes até se perder de vista, a cruz da Farmácia Ferreira
brilha timidamente. Uma utente nos seus 90 anos atravessa a custo a porta do
costume, com auxílio da bengala. No saquinho preto gasto traz uns grelos do seu
campo para oferecer à farmacêutica Julieta.
«Eu não lhes
peço nada», comenta sorridente a directora-técnica de 62 anos, «quando têm umas
verduras a mais vêm cá trazer-me». É assim que os utentes lhe agradecem o
serviço prestado ao longo destes 32 anos, que vai muito para além da dispensa
de medicamentos. A população, maioritariamente pobre e envelhecida, não tem
mais ninguém a quem recorrer.
Mas nem sempre
foi assim
Luís Cabral
conta que, quando o multibanco não funciona, as pessoas têm de ir a Bragança
levantar dinheiro
O utente Luís
Cabral, de 71 anos, guarda com saudade as memórias de outra época. Quando
chegou a Argozelo, com uns ternos 18 anos, trazia na mala o sonho de mudar de
vida. O ano era 1966 e, como tantos outros jovens, Luís deixava o conforto da
sua terra natal, em Viseu, para se juntar aos cerca de 160 trabalhadores das
minas de volfrâmio.
Os tempos eram
outros. Na pequena aldeia da freguesia de Vimioso, em Bragança, contavam-se
mais de 2.000 habitantes e a economia estava em expansão. Pelas ruas havia
pequenos negócios e grandes casas de famílias que ali se instalavam para
trabalhar na agricultura, no curtume, na produção de amêndoa ou de cortiça e
nas minas.
Porém, em 1985,
a exploração de minério terminou. Os trabalhadores foram todos despedidos, à
excepção de uma pequena equipa de manutenção que lá haveria de trabalhar até
1992, altura do fecho definitivo. Desempregados e sem perspetivas de futuro,
muitos emigraram e, gradualmente, a aldeia foi perdendo vida.
A farmácia
abriu em 1987, num antigo posto de venda de medicamentos. Na altura, apesar de
as consequências do encerramento da mina já se notarem, ainda se via jovens. As
escolas estavam abertas, havia algum comércio local e o centro de saúde tinha
dois médicos, com consultas quatro vezes por semana.
Luís constituiu
família e por ali ficou. Em tempos, chegou a trabalhar na agricultura. Agora
«as pernas e os braços já não querem trabalho». Mas não é disso que se queixa.
«Tínhamos o banco, tiraram-nos. Em 2001, a aldeia passou a vila e ainda ficou
pior. Queriam fazer isto, queriam fazer aquilo. E em vez de fazer, tiram-nos o
que havia». O multibanco lá ficou, embora chegue a estar aos quatro e cinco
dias sem dinheiro.
Com o passar
dos anos, a população envelhece e o despovoamento aumenta. Mas Julieta Ferreira
não se arrepende do dia em que decidiu abrir a farmácia em Argozelo.
«Acho que
somos mais úteis aqui do que na cidade», afirma a farmacêutica
«Acho que somos
mais úteis aqui do que na cidade», explica. «Faz-me sentir bem saber que ajudo
no que posso», desabafa, «e os utentes agradecem-me, voltando cá.» E mesmo
quando vão às urgências à cidade, é ali que levantam os medicamentos.
A viver no
andar por cima da farmácia, são muitas as vezes em que a farmacêutica atende os
utentes de madrugada. «Um dia destes foi preciso um medicamento às quatro da
manhã e a doutora abriu-nos a porta». O antigo carteiro da vila, Domingos
Afonso, vive ali com a esposa e a única filha que ainda não emigrou. «O que
temos de melhor é isto», chuta. «Os correios, para bem dizer, já nos tiraram.
Se nos tiram a farmácia mais vale irmos para outro lado».
Aos 70 anos,
Domingos não tem grandes dúvidas: «O que mais precisamos é de saúde». Porém,
para os cerca de 700 habitantes de Argozelo, o acesso à saúde é quase um luxo.
O médico de família está de baixa há um mês, por isso qualquer questão que não
possa ser resolvida na farmácia exige uma viagem de 15 quilómetros até Vimioso
ou do dobro da distância até Bragança. Com apenas dois autocarros por dia e sem
veículo próprio, os idosos gastam entre 30 e 40 euros em táxi de cada vez que
precisam de se deslocar.
«Temos de
juntar forças para que a farmácia não feche», pede Manuel Oliveira
«É mau os
poderes centrais não se interessarem mais por estas zonas, principalmente ao
nível do centro de saúde e da farmácia, que têm de estar perto da população». O
utente Manuel Oliveira fala sem rodeios. E conta que, mesmo antes do médico
adoecer, o centro de saúde funcionava apenas um dia por semana. Devido à falta
de resposta, o carpinteiro de 50 anos garante que há quem tenha de recorrer a
serviços de enfermagem privada para conseguir ser tratado. «Por exemplo, para
os meus pais, com 80 anos, se a farmácia fechasse era complicado», argumenta. E
remata: «Temos de juntar forças para que isso não aconteça».
Sem médico de
família e com os doentes crónicos a precisar da medicação, Julieta Ferreira faz
o que pode para zelar pela saúde das pessoas. «Às vezes, empresto o medicamento
e fico à espera da receita. Se tivessem de o pagar por completo, com certeza
iriam interromper o tratamento, porque não teriam dinheiro suficiente». Mas a
boa vontade nem sempre basta: «Há muitos medicamentos que faltam. Alguns temos
de pedir ao laboratório e nem assim há garantias».
Aos 62 anos, a diretora-técnica
não pensa muito acerca do futuro. Só sabe que baixar os braços não é opção: «O
pior é a falta de medicamentos, o resto vamos controlando». Habituada a gerir a
farmácia sozinha, acolheu alguns farmacêuticos em estágio, mas todos optaram
por se mudar para a cidade. «Não é fácil fixar as pessoas», lamenta, «a minha
filha é farmacêutica e também não quis vir para aqui».
Numa vila em
que nascem um ou dois bebés por ano, as dificuldades aumentam dia após dia. Com
o banco fechado, os correios a funcionar a meio-tempo e o médico de família
ausente, a farmácia é um ponto de apoio para tudo. «Diariamente tenho pessoas a
pedir-me para escrever cartas aos familiares, ler a correspondência e as faturas»,
conta. Como o marido da farmacêutica trabalha em Vimioso, alguns utentes
aproveitam a boleia e há até os que pedem para lhes tratar de recados.
«A gente aqui
está triste. Muito, muito triste». Leonor Fernandes, de 67 anos, chegou a
Argozelo aos 20 e por ali construiu a sua vida. Depois de ter perdido o marido,
há dois anos, tomou conta do café que era dos dois. E é atrás do balcão que
observa com pesar o isolamento da sua terra, nas ruas em que, a cada dia, passa
menos gente.
A farmácia,
assegura, é o bem mais precioso dos argozelenses. É lá que Leonor compra os
medicamentos, mede a tensão e o colesterol. À hora que precisa, a porta abre-se
e os problemas são resolvidos com todo o cuidado. Seja às duas da tarde ou à
uma da manhã. «Nós não temos mais nada sem ser a farmácia. Fecha tanta coisa,
sabe? Até já nos tiraram o banco. Se nos tiram a farmácia, tiram-nos tudo».
Recopiado de publicação
feita por:
Adosinda Tua Rua
25 de Março 2019
Excelente Crónica
Comentário
MANTER A
ESPERANÇA MESMO NAS DIFICULDADES
Apesar de tudo, mantenho a esperança de que alguma coisa mude para contestar o abandono a que têm condenado a Vila de Argoselo, Ter esperança é ter a coragem de criar expectativas positivas. É pensar que sempre haverá uma saída, é saber que não há mal que dure para sempre. Quem tem esperança, sabe que a qualquer momento coisas boas podem acontecer. É o impossível se tornar possível, porque somente no coração em que há esperança acontecem milagres.
Manter a
esperança viva é a maior prova de força que uma pessoa pode dar a si mesmo.
Ilídio
Bartolomeu
quinta-feira, 8 de outubro de 2020
A FALTA DE GOSTO PELA LEITURA…
O hábito da
leitura é de grande importância para a vida profissional e social dos jovens,
uma vez que a leitura é essencial para um processo de aprendizagem
satisfatório, pois é por meio da leitura que se abrem novos horizontes e
torna-se possível entender e aprofundar conhecimentos sobre o mundo, até atuar
nele efetivando o seu papel como cidadão.
A compreensão
do que se lê depende de uma série de fatores, desde o nível de conhecimentos do
leitor sobre a língua em que o texto está escrito, passando pelo tipo ou género
de texto, pelo vocabulário e pela escrita, pelo tamanho e tipo de letra, até ao
ambiente em que o leitor se encontra e à motivação que este sente pela tarefa
de leitura.
A motivação
prende-se, basicamente, com a vontade e o interesse. Portanto, é algo que pode
ser suscitado por outrem. Assim, não significa o mesmo que gosto. O
prazer sentido na leitura, constitui um estado ou sentimento de satisfação
intrínseco, que não pode ser facilmente induzido em alguém. No entanto, as
crianças e adolescentes podem desenvolver gosto pela leitura se forem
continuamente motivadas para tomar contacto com os livros.
Pensar que
existem um milhão de outras atividades que lhes dão mais prazer do que ler um texto,
o grande leque de coisas para fazer nos dias de hoje é o principal competidor
na corrida do desinteresse pela leitura. Tantas as opções para ocupar o tempo e por
isso, o ato de ler não é realizado por muitas pessoas. Evitando perder a
oportunidade de tornar o ato de ler é algo natural e desmistificado, os
professores contam como é que se faz nas salas de aula para incentivar a
prática aos alunos. “Nas aulas, quando são de literatura, eles fogem da ideia
do clássico. Procuram não adotar os textos em si, mas numa versão adaptada para
que o interesse do aluno tenha em conta.
Vivemos numa
sociedade cada vez mais complexa, com inovações sociais precipitadas e imprevisíveis
alterações. Além disso, o uso veemente das novas tecnologias e a sede por
informações imprime nas pessoas a precisão de adaptabilidade, opinião crítica,
criatividade, competência para a inovação e abertura.
A leitura ponderada
representa uma das boas vias para entender a realidade. É verídico que na nossa
sociedade as práticas leitoras são pouco incentivadas e desenvolvidas. Desta
forma, dado a sua importância, a leitura deve ser estimulada e integrada ao
cotidiano dos estudantes e, consequentemente de jovens e adultos.
São muitas as
pessoas que descobriram o prazer de ler graças às sucessivas recomendações por
parte de amigos, que souberam motivá-las através de incentivos vários,
suscitando nelas curiosidade e desejo de descobrir os mundos que os livros
encerram.
Quanto mais aflitos
os jovens se mostrarem perante a falta de vontade de ler, pior. Em vez de ficar
preocupado ou irritado com o facto de se recusar a gastar um pouco do seu tempo
a ler um texto, faça um esforço para se manter calmo e demonstre vontade em
saber ao que se refere o mesmo. A criação de um bom ambiente passa pela
aplicação das estratégias, inclui zelar para que haja serenidade, de maneira a
que tenha condições para se concentrar na leitura.
Se até nós,
adultos, preferimos ver um filme do que a ler o livro, pode ser difícil tentar
explicar a uma criança porque deve ler… Ponha-se no lugar do seu filho e
procure identificar-se com os seus sentimentos. Se o fizer, decerto terá mais
vontade de o ajudar a concentrar-se e a despertar nele a vontade de saber o que
o livro lhe poderá oferecer.
Contudo, tal
atividade não pode ficar restrita apenas na escola, tendo de ser incentivada
também em casa. O ambiente doméstico é o mais propício para combater á falta de
incentivo á leitura, contando com o apoio e incentivo dos pais e responsáveis.
Estes, por
sina, são os maiores colaboradores pela criação do hábito de ler. Entretanto,
por maior que seja o incentivo, apenas ele não é o suficiente. É preciso que as
crianças tenham curiosidade pelo assunto que está lendo. É de grande importância
que as primeiras leituras sejam leves e que proporcionem lazer e satisfação ao
leitor, consolidando assim, de forma mais fácil, o hábito da leitura.
Finalmente,
talvez seja bom sublinhar que também nós, adultos, sentimos por vezes pouca
vontade para fazer leituras extensas e resistência perante a ideia de ler por
obrigação. Os textos são objetos densos, exigentes e pouco atraentes, sobretudo
numa era em que o audiovisual impera, atraindo-nos a todo o momento.
Com base nos
resultados pode-se demonstrar que o interesse pela leitura está precária. Mas
não podemos deixar de salientar que ainda existem jovens e adultos que costumam
procurar os livros não apenas como obrigação, mas como um meio de lazer. Assim
sugere-se mais incentivo às pessoas desde cedo para obterem o hábito da
leitura.
A leitura de um
bom texto é um diálogo incessante: o texto fala e a alma responde.
Tenham um bom
dia. Boa leitura.
Ilídio
Bartolomeu
domingo, 4 de outubro de 2020
TODA A GENTE É LIVRE DE SONHAR!
Traçar planos para o futuro é normal, pois é importante termos algum objetivo na vida. Não importa a idade, devemos ter algo porque lutar, por alguma coisa que desejamos alcançar.
O que seria de
nós, com todos os nossos medos, incertezas e angústias, sem o reconforto que a
esperança nos dá? O viver não passaria de um purgatório sem saída. Só quem tem
esperança é capaz de sonhar. E quem sonha, seguramente, é mais feliz!
Muito mais do
que uma sucessão de acontecimentos diários, rotineiros, e a falta de perspetiva
amarrada às pernas, viver é sonhar! A ideia é essa, estamos aqui para isso,
para fazer planos e deixar-nos levar por eles, acreditando numa probabilidade,
dez, em cem. Agarremo-nos aos sonhos e ao prazer de voar! Ter esperança é
sonhar acordado, acreditar na mudança, no recomeço, na sorte… É ter fé. A
esperança tem cheiro, tem gosto, forma, toque e mãos para segurar e caminhar
entrelaçados e confiantes por aí.
De que poderá servir uma
vida sem objetivos? Certamente ficará de tal maneira vazia, que acabará sendo
impossível de ser vivida.
Um grande amigo meu um
dia, enviou-me uma das suas geniais mensagens. Foi esta: "O sonho é uma
projeção do teu futuro. Nunca desistas dos teus sonhos, não tenhas medo de
lutar por eles... Não desperdices as oportunidades, não desperdices a chance de
seres feliz”.
Esses sonhos são muito
importantes. São os objetivos que sempre temos no mais recôndito de nossa alma.
São coisas que ambicionamos alcançar,
por elas devemos solicitar os nossos maiores esforços. Só que a
luta consciente pela vida pode provocar o adiamento da sua realização,
transformando os sonhos em utopia. Adiamento, mas não esquecimento, pois eles
não podem e não devem ser limpos. Devem ser salvos num cantinho da memória,
para depois, à medida do possível, passar da condição de utopia para sonho e,
com algum esforço, transformado em realidade.
Por motivos vários, temos que ir deixando esses sonhos para trás, até que chega
o momento de tentar tudo para realizá-los, para não terminarmos a nossa
existência com essa frustração, com esse sonho irrealizado. Sempre cabe
ainda uma reflexão, para se descobrir se
são ou não exequíveis.
Se a sua realização irá
depender apenas de um esforço extra, creio que devemos ir em frente, pois
sempre vale a pena a tentativa. É melhor morrer tentando, do que viver e nada.
É exatamente uma frase
que define tudo o que possa ser dito sobre se vale a pena ou não irmos atrás dos
nossos sonhos. Por vezes, temos que tomar decisões insensatas, na opinião
alheia, mas é a nossa vida que está sendo resolvida. É aquele sonho sufocado
por pressões, pela vida atribulada, por problemas mil. Em determinado momento
temos que tentar realizá-lo, porque se não o fizermos, a frustração permanecerá
no nosso espirito.
Essa frustração vai
deixar uma marca. Se não tentarmos, jamais chegaremos a saber se seriamos ou
não mais felizes, se atingiríamos ou não o nosso objetivo, permanecendo aquela
sensação de fracasso e o consolo do pessimista: Será que não iria dar certo?
Essa dúvida é um tormento. O eterno
perguntar-se se valeria ou não a pena ter tentado. Talvez esteja aí o
porquê de muitas pessoas terminarem os seus dias com aquela sensação de
"vida incompleta". Talvez porque não souberam identificar o sonho
secreto. Ou talvez porque não tiveram coragem de tentar a sua concretização.
Enfim, sempre é tempo de fazer algo por nós.
Claro que muitas vezes é
muito difícil. Se fosse fácil, não teria graça. O gosto está em superarmos
obstáculos aparentemente intransponíveis para atingir os nossos objetivos.
Para conseguir essa meta,
muitas vezes precisamos de apoio externo, muitas vezes esse apoio parece
inexistir e julgamos-mos incompreendidos ao não o encontrarmos. Muitas vezes
isso acontece por não sabermos a maneira de procurar esse apoio.
Na verdade, o apoio está dentro de nós. Temos que procurar forças no mais profundo
do nosso espírito.
O apoio existe e
descobrimos que não estávamos a vê-lo, simplesmente estava dentro de nós, uma
força interna que estava lá, querendo ser acordada. Se queremos muito alguma
coisa, temos que ir à luta.
Sonhar com os
olhos abertos é muito mais. Diz respeito às escolhas que fazemos: onde quero
estar, o negócio ao qual vou dedicar-me, os clientes que pretendo atender, o
lugar onde quero morar, a educação que desejo para os meus filhos, os amigos
que projeto ter e a causa que vou abraçar.
Mas o apego
exagerado a um sonho faz perder a oportunidade de concretizar outros. O grande
perigo é não realizar esse e nenhum outro, morrendo apegado à ideia de como a
sua vida poderia ter sido e não foi.
Confie em mim.
Esperanças multiplicam-se, elas nunca acabam.
Não basta
apenas sobreviver. Para viver é preciso arriscar, é preciso querer, é preciso
sonhar.
Ainda sonhando, espero
que todos tenham um bom dia.
Ilídio Bartolomeu