Custa a acreditar que foi há tanto tempo, mas faz agora 2O anos no
dia 13 de julho de 2021, quando julho se escrevia com maiúscula, a moeda era o
escudo, (até os telemóveis eram uma novidade) que comecei a colocar online os
primeiros artigos, fotografias e vídeos num site e, depois no blogue muito
amador que chamei… (São Bartolomeu Freixagosa)
Viajar é um prazer, escrever é um estado de alma, fazer vídeos é
uma paixão. Juntos, os três verbos formam o recanto onde se junta a paixão de
fotografar pessoas, culturas e lugares.
Cresci e vivi na Aldeia até aos meus 16 anos, mas, só quando me
mudei para a Cidade, é que realmente me apercebi da riqueza cultural que lá
existe, geralmente desvalorizada.
Todos temos histórias longínquas – quer fictícias, quer reais – que
ao longo dos anos foram povoando o nosso imaginário, que nos acompanharam pela
vida fora e que foram tomando conta da nossa memória. Para os mais antigos, são
histórias de outros tempos, contadas nos serões das aldeias, à lareira, ou
transmitidas oralmente às gerações mais novas.
Podem ser relatos autênticos ou recriados, lendas, testemunhos,
contos, isto é, uma herança cultural coletiva que se vai adulterando com o
passar do tempo ou que, se não for transmitida, está votada ao esquecimento.
Podem ser, também, vivências pessoais de tempos idos, que habitam a nossa
memória individual e que recordamos com saudade e ternura. Em comum, têm a
oralidade, a singularidade, os afetos e a pertença a uma terra, a um lugar.
A Vila – porque é assim que lhe chamamos na atualidade – é aquela
aldeia especial. Muitos moramos longe, mas é aqui que o nosso coração vive. Não
há gerações na Vila, há amizades de sempre, para sempre e gostamos-mos, só
porque sim. Muitos sonham em voltar um dia, porque a saudade não morre. As
noites quentes de verão e os gelados dias de invernos, as vacas e aquele cheiro
a feno, o sino a tocar e o fumo das chaminés, a terra molhada e aquelas pedras
gigantes povoam redes de memórias em todos os lugares, mas é aqui que elas
renascem. E as estrelas? Em lado algum elas brilham assim, porque são nossas e
porque de lá, os nossos nos guardam. Todos voltamos, sejam por dias, horas ou
pensamentos, porque vir aqui faz bem. Aqui, há abraços de chegada e lágrimas de
despedida, porque aqui, somos felizes.
A conexão com a natureza, o trabalho com a terra e a oportunidade
de poder crescer e aprender em harmonia com os ciclos
naturais é algo que realmente valorizo e que me marcou bastante. Sentir
estas raízes ao estar imerso na natureza, assim como ao experienciar os
costumes e tradições, inspirou-me a trazer à superfície essa riqueza escondida
e partilhá-la de forma contemporânea através da minha perspetiva. O vídeo
acrescenta a perspetiva da união, a recriar estes costumes e tradições através
da performance. Honra também o trabalho realizado através dos excertos do
documentário gravado na Aldeia em 1973: Em Terras de Vimioso:
Argoselo, com Origens Judaicas, Curtumes, Artes, História e Cultura
RTP.
Sem dúvida. A paixão pelas filmagens, fotografia, música e mais
tarde o (blogue São Bartolomeu Freixagosa), sempre foi o cantinho pessoal
através do qual me expresso completamente: o espaço onde posso sentir,
partilhar e libertar sem julgamentos ou expectativas.
Fui à Aldeia à procura de cânticos tradicionais/ancestrais, comecei
a fazer filmagens, e descobri que já pouca gente não se lembrava ou não estavam
com disposição para me aturar, diziam: já não haver esse tipo de registos. Foi
algo que me fez realmente refletir sobre esta memória coletiva que não está a
ser preservada e que se vai apagando a pouco e pouco.
Acredito que cada um tem o seu próprio caminho e não há um certo
nem errado. Este meu trabalho autónomo surgiu da necessidade de fazer por mim
sem estar à espera que mais alguém aparecesse para começar. É essencial
acreditar que o ser individual é suficiente para iniciar a mudança: e, quando
nos aliamos às pessoas certas, mais fortes ficamos!
A vontade de partilhar é aquilo que realmente me faz crescer: e é
isso que me fez mover, no início, e que me continua a fazer mover agora. Sem
dúvida que pude aprender imensas coisas até agora trabalhando de forma
independente. Temos de aprender por nós como navegar no meio e isso cria bastante
resiliência, independência e liberdade. Porém, gosto imenso de poder colaborar
e trabalhar com mais pessoas dedicadas com aquilo que fazem. É esse espaço
terapêutico da transformação das emoções para as palavras que realmente me
emancipa. E depois pode liberalizar os outros também.
Hoje recebi os parabéns e mensagens que me emocionaram. Tive
saudades daqueles tempos, esconjurei o COVID que veio baralhar as nossas vidas
e retirar-nos do convívio essencial nestes dias. Mas também senti um enorme
orgulho em fazer parte de tudo o que construí e pensei que 20 anos é muito
tempo, mas não é assim tanto… foi um sopro, como a vida é um sopro.
Aprendi tanto com todas as pessoas, situações, desafios que ao
longo destes anos foram surgindo. "A mente que se abre a uma nova ideia
jamais voltará ao seu tamanho original”. É tempo de olhar em frente e não
para trás, pois os desafios e a viagem ainda agora começaram. Somos cada vez
mais e temos muito, mas muito mesmo, para fazer nesta comunidade Internet de
que fazemos parte e que é cada vez maior.
Para mim, há uma importância muito grande em publicar o que foi
escrito. Creio que, no mínimo, será um bom entretenimento e uma contribuição
deixada por este educador no sentido de promover o hábito saudável da
leitura
Estou muito grato por ter esta oportunidade de partilhar a minha
paixão e o meu trabalho com os meus conterrâneos, e acho que é
sempre incrível poder fazer isso!
(São Bartolomeu Freixagosa), não é mais do que uma partilha de
momentos. De opiniões. Partilha de emoções e vivencias. Umas publicadas, todas
por prazer. O prazer pelo prazer. É um projeto pessoal esperançadamente sempre
incompleto.
Fica o desejo de que sinceramente gostem de percorrer este espaço.
Ilídio Bartolomeu