Costuma-se dizer que as expressões culturais são as raízes de um
povo. Dizem ainda mais, que povo sem cultura é povo sem raízes. para os
antropólogos, a cultura é o que constitui a maneira de viver do povo, a soma
dos padrões de conduta aprendidos, atitudes e coisas materiais.
A identidade de
um povo está na sua cultura. Podemos entender como tudo aquilo que é construído
pelo ser humano: os mitos, símbolos, ritos, todas as crenças, todo o conjunto
de conhecimentos e todo o comportamento etc. A definição popular de cultura
inclui sempre as crenças, os padrões sociais, os princípios, os valores
religiosos, os usos e costumes e os traços materiais. Portanto, conhecer e
valorizar a cultura Argoselense, são auto-afirmações do que somos.
Contudo, as
gestões públicas locais, não se têm preocupado muito com os movimentos que
mantém a chama acesa da identidade do povo… Talvez por acharem desnecessário
manter viva esta identidade, cujo nascimento vem das classes mais
desfavorecidas do nosso passado. É o que acham estes gestores; o que morreu
esqueceu… mas o povo, diz: não!... “A alma de um povo é a sua cultura que todos
devemos manter”… Ao contrário, poderemos ser conduzidos por qualquer outra
tradição que chegue, desconsiderando os Valores Culturais de um Povo, já
existentes e merecedores do nosso apoio.
Em relação à
cultura, estes gestores não perguntam se o povo quer, eles ligam-lhe muito
pouco e impõem a que eles querem. Por isso, não poderemos consentir que o
Patrimônio Cultural de Argoselo seja esquecido ou trocado, mas sim manter
sempre viva esta cultura popular, não desvalorizando os grupos teatrais e a
arte das comédias. A cultura é uma preocupação constante e permanente
em qualquer Povo. Todos querem entender como é o modo de vida de uma
sociedade onde nós vivemos, isto é, como as pessoas se relacionam entre si, de
forma mais ou menos organizada, cooperando umas com as outras, na qual se
manifestam de forma especificas e às vezes até divergentes.
Complemento,
dizendo que cultura é a somatória dos costumes, tradições e qualquer
manifestação de criatividade humana. Os contatos entre diferentes bairros
marcaram a civilização dum povo ao longo da história, promovendo transformações
culturais tanto pelos movimentos internos, inter-bairros, como pelos movimentos
externos, entre as várias localidades vizinhas. É assim que eu entendo a
cultura.
Há muito
que o ser humano tem rebuscado de várias maneiras identificar-se, tomar
consciência de si mesmo, orgulhosamente nas experiências vivenciadas pelos seus
antepassados. Torna-se prudente preservar os bens que compõem a história
vivida, individual ou coletivamente, considerando as expressões dessa
diversidade, um suporte para a sustentação desta identidade cultural.
Cultura é
a maneira de falar, de vestir, de morar, de comer, de trabalhar, de
orar, de se comunicar com todos. Desta forma essa cultura fica a garantia,
a defesa e subsistência da vida de um povo.
No instante em
que as pessoas não perceberem que o passado não são só restos, ou só histórias
contadas através de monumentos materiais, que se relacionam com o tempo ou factos
aqui ocorridos, nós não estamos a assumir um novo legado de descobertas e
valores, associando o conceito de bens, tradições ou patrimônio, abrangendo as
relações estabelecidas entres os nossos antepassados. Sendo assim, as
manifestações culturais de um povo passam a ter elementos do passado que
vinculados a técnicas do presente possibilitam a ligação entre a história e a
vida atual. Mas para que tenhamos de acautelar o rico património deixado pelos
nossos antepassados, no cuidar desse Patrimônio deve-se considerar o restaurar
e não simplesmente o derrubar e deixar desaparecer de vista.
Os gestores na
altura, tudo que era património deixado pelos nossos antepassados, foi
destruído ou vendido a patacas, simplesmente para imporem a sua vontade. Hoje
talvez não fosse bem assim, porque o estado dispõe de dispositivos legais para
subsidiar a comunidade nas ações de integridade e preservação das propriedades
culturais. Dirão algumas pessoas… estás bem enganado… estarei… compreendo-vos
muito bem! Só quem está no convento, é que sabe o que lá vai dentro…
Quando a
cultura de um povo é destruída pelo domínio de outra cultura, o povo fica
desprotegido culturalmente. Todo o povo só existirá enquanto não perde os
seus valores sociais, culturais e religiosos e, não se deixar dominar,
destruir, invadir, influenciar por outras culturas. Na medida em que conseguir
resistir a sua identidade cultural, ele se fortificará e ficará sendo a razão
do existir de um povo que tem cultura própria, porque vive a sua própria
identidade cultural. Por isso que se diz: “Cultura é a alma de um povo”.
Povo sem cultura é um povo sem alma e sem identidade própria.
Nas relações
estabelecidas entre toda a comunidade, deve-se evidenciar urgência em preservar
a herança patrimonial, pois só é possível dela usufruir quando se reconhece no
modo que existiu e querem que continue. Seria interessante que vocês próprios
fizessem uma sondagem aos familiares oriundas destes antepassados, se tivessem
alguns objetos inerentes desse tempo, se podiam abdicar deles. Depois disto
sim; os gestores locais que começassem a encaminhar algumas verbas para recuperar o que ainda fosse possível reaver os (Pelames), e sedimentar um projeto de valor incalculável deste património
inexplicável no respeito à história, à cultura e à natureza. Se a cultura é a
alma de um povo, o povo tem que ter um caminho para seguir a sua história
cultural com a sua fé. Todo povo tem cultura. Não existe povo sem cultura.
Portanto, cultura é tudo o que um povo faz para poder
sobreviver e se relacionar com os outros.
Enfim, deve
haver entre o patrimônio e a comunidade uma espécie de cordão umbilical onde o
homem, ser social, estabeleça uma relação de vida preenchida de sentimentos, de
valores e de cuidados que espontaneamente entrelaçam passado, presente e
futuro.
O povo de Argoselo
praticamente não fala em conceito de “história e tradições familiares”. Mas
quando uma pessoa nasce, ela começa a escrever uma história com as ações que
vai praticando. Se pararmos e pensarmos bem a história de cada membro da família,
encontrará semelhanças essenciais e objetivos comuns dos seus antepassados.
Parece que cada um é um capitulo de uma historia maior, seguindo as tradições
ao longo de diferentes gerações.
Para assegurar
a permanência dos valores identificados. dos bens culturais advindos do modo de
viver dos seres humanos, torna-se importante caracterizá-los considerando três
grupos: natureza e meio ambiente, técnicas de saber fazer e conservar
patrimônio material e imaterial, bem como respeito pelas tradições herdadas.
A que propósito escrevo tudo isto? É simplesmente para manifestar o meu repúdio ao divorcio
com que é tratado o especto cultural em Argoselo. Temos talentos, diversidades
culturais, em função de uma população oriunda de culturas, cada bairro com as
suas crenças, tradições e costumes, temos todo um potencial que é ignorado ou
menosprezado. Esboços de projetos são lançados e logo esquecidos. Somos mais ou
menos seiscentos habitantes, e o povo hoje tem espaços decentes onde se
possa expressar as manifestações culturais.
Acho que está
na hora de se pensar com seriedade no assunto. Penso que é chegado o momento da
sociedade Argoselense manifestar-se a este respeito…
Viva a
verdadeira identidade de um povo… A sua cultura popular!
Ilídio
Bartolomeu