sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

HOJE FALO DE MIM...

Hoje resolvi falar um pouco de mim, à minha maneira... Nem sei ao certo se sou bem assim, admito que acho difícil fazer uma definição de mim mesmo... Não gosto de falar sobre qualidades e defeitos... prefiro que as pessoas me conheçam e tirem suas próprias conclusões... Não aceito qualquer julgamento, até porque não julgo ninguém, não me permito fazer isso porque sou tão ser humano como qualquer outra pessoa. Procuro plantar e semear bons frutos sempre por onde vou, pois acredito fielmente na lei do regresso. 

Para começar: sou um ser humano normal, tenho defeitos, qualidades, desejos, sonhos, medos, vontades... Não sei para quantas pessoas eu sou realmente especial, e nem sei da intensidade desses sentimentos, e de verdade, eu prefiro não saber, para mim a vida tem mais graça assim. Só eu posso falar por mim, só eu sei de mim, é à minha consciência que eu devo ou não alguma coisa. Às vezes posso parecer um espalha brasas, mas eu penso que não! Sei que é impossível agradar á todos, mas faço a minha parte, e tento sempre ser uma pessoa agradável. Posso ser tímido no começo, mas se o assunto se der para falar, falo com toda a gente. 

Acredito na lei dos direitos e deveres, e dentro dos meus princípios eu vivo e respeito essa lei. Não preciso prejudicar ninguém, não desejo o mal á ninguém, e por mais que tenham feito algo que me atinja, eu prefiro passar por cima, deixar que o tempo traga as respostas. Sou contra qualquer tipo de violência, injustiça e vingança. O ser humano não precisa disso, é isso o que eu mais repudio. Todos nós temos direito á vida e somos livres para escolher como vivê-la. Não se pode fazer o mal assim, como se fosse algo normal da natureza humana. Se não posso fazer o bem, ou ajudar, com certeza não irei atrapalhar e muito menos fazer o mal.

Às vezes as minhas escolhas podem não agradar as pessoas que eu amo, mas eu preciso viver por e para mim, uma necessidade que todos nós temos, mas é preciso coragem para enfrentá-la. Os meus amigos chamam-me falas muito, mas fazes pouco... Eu não acho, mas se me chamam, é porque sou mesmo. Prefiro rir, falar baboseiras, brincar, imitar, fazer graça, do que ficar a falar da vida alheia. O melhor ingrediente para tornar a vida com mais fundamento, é o bom humor, isso é fundamental. Queixar-me? Enervar-me? Para que? Isso não leva ninguém a lugar nenhum.... Sou Argoselense, do nordeste transmontano, mas não gosto de me armar em Estorilista. Gosto de ser provinciano, o que tocar eu danço.

 Não gosto de dançar, mas não tenho nada contra quem gosta. Amo a minha mulher, ela é a minha razão de estar aqui, vivo! Sem ela eu não sou nada, sou loucamente apaixonado por ela, é o meu ar, o meu sol. É tudo! Vivo e tento viver, é uma boa norma para ser feliz. Não sou uma pessoa vazia, nem solitária, e também tenho medo da solidão. Odeio que me venham com declarações do tipo: metade da maçã, alma gêmea e coisas assim! Não sou metade, sou inteiro. Até porque estamos carecas de saber que absolutamente nada é para sempre. Por isso insisto que a vida é feita de momentos, alguns arrependimentos, mas nada que mate ou que impeça de continuar vivendo. Tudo que passamos durante a vida, contribui para nos tornarmos pessoas melhores, ter a certeza de que vale muito a pena viver, vale a pena de amar, vale a pena permitir-nos, sem repressões. Quando a gente se ama e se respeita, acaba-se entendendo que não se deve fazer aos outros o que não queremos que façam connosco. E isso é tão simples. Que mania teimosa que o ser humano tem de complicar e dificultar tudo, sem contar a malícia e a maldade que colocam em tudo. Mais genuinidade, mais espontaneidade, isso não significa ser ingênuo ou idiota. Dizem que eu sou cabeça dura, coração de pedra, mas não é isso, eu só não sou para ser romântico. Posso até falar, escrever, ler e assistir coisas românticas, mas não curto coisas doces o tempo todo, é muita falsidade para mim, não se diz “eu te amo” por tudo e por nada”

Na minha essência, os meus pais ensinaram-me a zelar do meu nome, da minha moral, a ser honesto, é assim que eu quero ser, com o meu pai eu percebi que a vida é muito mais que sentimento, que é preciso fazer as coisas sem esperar nada em troca, é fazer graça, aprendi a ser eu mesmo, conquistar as pessoas assim. Com os meus irmãos, sempre percebi que depois de tantos anos, entre nós existe o perdão, a desculpa, que a aprendemos a praticar cada qual a seguir a sua vida, e saber perdoar é uma virtude. Os meus amigos, fundamentais, são básicos no meu viver, tornam a minha vida mais feliz, provam-me o quanto eu preciso deles, o quanto é bom ser útil.

A vida é um passeio, uma volta, onde cada um é responsável pelos seus atos, assim como é responsável pelo que prende. Passamos uns pelas vidas dos outros, sempre levando algo de alguém e deixando algo de nós. A nossa fé, é o nosso tempo é a vida. É preciso acreditar em sensações, numa energia transcendente, que transborda o amor da criação, que está nos mínimos detalhes, nas coisas mais simples. É preciso acreditar e cuidar, porque a fé é o melhor caminho. Adoro crianças, bebês, queria ser pai um dia, sem preferências de raparigas ou rapazes. Quero envelhecer e conversar com os jovens, assim como converso com velhinhos com respeito e admiração.

 Não queria estender-me tanto, mas para mim é mais fácil escrever, embora ainda falte tanta coisa para descrever, mas vou ficar por aqui…pelo que vêm, gosto de conversar, adoro cavaqueiras longas e construtivas, não vão pensar que sou um chato que fala demais, nem que sou certinho ou algum santinho, é verdade que não tenho dom de palavra. Só tentei descrever o que não consigo dizer linguisticamente. Mas isto não é nada, quem me conhece de verdade, sabe bem que não me limitei nesta “breve” definição, escrever tudo o que teria para narrar…

 Ilídio Bartolomeu

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

AMIGOS ARGOSELENSES...

Pessoalmente, gosto muito deste Largo da Praça onde se encontra, em pleno centro de Argoselo a Capela do Senhor do Bonfim e a casa dos meus pais, onde concretamente a minha querida mãe no dia, 18-7-1947 acabou de me dar vida. Aproveito a ocasião para lhe agradecer, nem sempre nos lembramos de o fazer.

Mas não é da minha data de aniversario que vou falar, mas sim do valor histórico deste Largo em Argoselo.

Desde as minhas brincadeiras de infância, até ao ano de 1965 já jovem, confesso que foram anos onde passei momentos bons e outros menos bons, depois vim para o Estoril em abril de 1965.

No ano seguinte em agosto, vim de férias a Argoselo dois dias, nessa altura eram só os que tinha direito, foi em 1966, já lá vão uns anos, confesso que gostei, fiquei com boa impressão, muita gente jovem, terra de gente acolhedora enfim uma terra Transmontana.

Entretanto la casei em 1972, e sigo o progresso de Argoselo atentamente desde então. Com o passar dos anos não deixei de gostar desta terra, mas tenho alguns ossos atravessados na garganta. Tenho algumas perguntas sensíveis, alguma dificuldade se não mesmo muita a entender este Povo. Mas como sempre fui sensível, nunca me atirei aos lobos como por vezes se diz. Entretanto chegaram tempos difíceis, críticos, de mudança e acima de tudo, tempos para refletir.

Primeira reflexão; deixei Argoselo com 14 anos, conheço muitos sítios do País e em todas estas localidades nunca encontrei um Povo tão desunido como o Povo Argoselense. A união faz a força, proverbio bem conhecido e bem verdadeiro.

Segunda reflexão; agora pergunto-me; como foi possível que um Povo como o de Argoselo, riquíssimo em Historia, deixar que a própria historia não lhes fosse favorável. Como foi possível de Grande Aldeia a Vila de Argoselo, chegarem a estar "submissos” a Vimioso. A única desculpa ou atenuante que aqui encontro, é que a Historia também se engana. A Historia nunca pudera ser “Apagada”, mas pode sempre seguir outro rumo, assim haja vontade em unir esforços, UNIR...digo eu...

Pessoalmente, quando converso com a maioria dos Argoselenses acerca desta Vila, o veredito é Fatal....mas que Vila, a gente não tem feito nada pela terra, não querem saber, querem saber é de Vimioso.....Aqui encontro duas saídas...A Ignorância ou a ignorância...Quando nasci, não nasci para julgar ninguém e nunca o farei, nunca tive aspirações a ser juiz, gostaria de ser muito rico...Agora pergunto-me; porque não aproveitamos o fato de termos nascido em Argoselo para promover a nossa Terra??????

 Ilídio Bartolomeu

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

QUE FUTURO VAMOS TER PARA ARGOSELO?!...


Depois das eleições para os órgãos da Junta de Freguesia de Argoselo que tiveram lugar no passado dia 1 de outubro, nas quais os Argoselenses, por maioria, disseram que queriam ver mantida a liderança de José Miranda, por mais quatro anos, coadjuvado por aqueles que sempre têm estado a seu lado, dita a Lei das Autarquias Locais, José Miranda verificou a presença de todos os elementos, cuja identidade e legitimidade foi verificada no ato da instalação.

 A seguir, saudou todos quantos se encontravam na sala, para em seguida agradecer aos Argoselenses, a confiança reforçada que, segundo disse logo ali, o motiva ainda mais em dar o seu melhor, sempre em prol da nossa freguesia. A prioridade de hoje é a de sempre, responder aos anseios e reais necessidades de quem como eu aqui vive e continuar a transformar todos os dias, Argoselo numa melhor Freguesia para se viver. Obrigado pela confiança e apoio desde o primeiro dia.

 Imaginando eu que assim fosse por estas palavras. Oxalá que  assim seja?!...

Quando olho para trás, para a minha longa vida como Argoselense, o que emerge não são os feitos passados, mas a preocupação com o futuro. Sempre me disseram que sou uma pessoa preocupada. Assumo que sempre fui uma pessoa muito inquieto. Aliás, eu próprio, apercebo-me disso, do nosso Argoselo.

O futuro de Argoselo preocupa-me genuinamente. No meio de tanta desordem que se tem visto, é mais do que nunca necessário reforçar todos os esforços, tornando-nos mais fortes e mais eficaz na defesa e do interesse de Argoselo. Para isso, temos de ter a coragem de prosseguir um caminho para reformas e melhoria de serviços de interesse à população que muitos têm defendido em eleições, e depois nada…

Ou seja, é preciso restaurar o orgulho de servir a Nossa Terra e contribuir para o bem do Povo. Depois uma imperiosa necessidade de defender de forma intransigente a separação de poderes, incluindo o segundo poder, (o da Câmara de Vimioso).

Defende-se também exigência de rigor no financiamento para a Junta de Freguesia e o exercício de boas praticas nos serviços, assim como a necessidade de uma reflexão sobre os contornos da vida democrática.

Argoselo vai ter cada vez menos pessoas em idade para trabalhar. Só reformados, algumas crianças e outros inativos, hoje são poucos aqueles que trabalham e contribuem para a economia local. Não é muito diferente do que acontece noutras freguesias do País, mas o problema é que tem tendência aumentar nos próximos anos, com o envelhecimento da nossa população se nada for feito para modificar o rumo que Argoselo, tem vindo a levar. Por isso é que os nossos representantes têm que ser mais exigentes.

Esta é uma questão para a Junta de Freguesia procurar saber como é que Argoselo pode ser sustentável com cada vez menos pessoas em idade para trabalhar?  Por isto mesmo há que insistir na reivindicação e persistência.  Com o inevitável envelhecimento demográfico em Argoselo nenhuma projeção avançará outro cenário, e se nada se fizer tenderá a agravar-se. A população idosa de Argoselo, superará em muito a jovem e a tradicional pirâmide de idades ficará empolada no topo, nas idades mais avançadas, nas quais o número de mulheres ultrapassará em muito o de homens.

No contexto deste turbilhão, esta é uma das Freguesias do Concelho de Vimioso, a que sofrerá um maior impacto precisamente por este motivo. Todavia, as atenções tipicamente e predominantes dos nossos políticos com pormenores que se esgotam no curto-prazo, não vão a lado nenhum. A nossa comunidade distraída é crescentemente míope e esse facto impõe-nos uma perigosa vulnerabilidade. Refletir um pouco agora poderá ser criticamente útil para o nosso futuro.

Esta Junta de Freguesia, se pretender através destes processos e projetos aproximar cada vez mais os eleitos e eleitores, promover a participação ativa do Povo nos processos de planeamento e gestão, para que com todos, possa gerir os recursos públicos de forma mais ajustada às necessidades da população para construir um futuro melhor, seria uma boa ideia. Não se procura diminuir a responsabilidade dos órgãos políticos eleitos democraticamente, mas permitir que todas as pessoas se possam pronunciar sobre as prioridades para a sua Freguesia. A Gestão Participada devia ser uma marca de Argoselo que se traduziria em vários grupos, projetos e ações. Isto é que seria proteger o futuro para as novas gerações.

O Poder Local Democrático tem que ser respeitado. Os eleitos dão voz à população, às instituições, às entidades e às associações. Devem pretender envolver todos. Escutarem e refletirem. Aceitar os contributos e com eles complementarem o seu conhecimento da realidade e das verdadeiras aspirações da população. Porém, devem estar em condições de apontar, desde já, alguns pilares indispensáveis para o desenvolvimento sustentável de Argoselo, como por exemplo: o económico, o social, o cultural e o da participação.

Do ponto de vista do desenvolvimento é essencial reposicionar Argoselo, valorizando a importância do conhecimento dos seus direitos e da sua capacitação. As vantagens da localização geográfica de Argoselo que outrora foram determinantes para a sua expansão, os transportes são igualmente estratégicos.

No plano social uma realidade é fundamental, para todos, a construção de uma sociedade mais equitativa no acesso aos serviços públicos. No plano cultural é imprescindível a sua valorização através da criatividade e do associativismo como dimensão essencial para o modelo de desenvolvimento que queremos e defendemos.

Outro pilar é o de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável à participação. A participação cívica. A partilha de opiniões e a construção de decisões que tenham em conta a reflexão feita com a população. Criar instrumentos que coloquem ao dispor de todos e que sirvam de alavanca para a criação de um Argoselo com intensa participação, com presença e intervenção efetiva na defesa do seu desenvolvimento.
A Vila de Argoselo, tem muito para evoluir. Esta Junta de Freguesia e o Povo, devem estar preparados para assumir os destinos da Freguesia. É importante acabar com o marasmo a que Argoselo e suas gentes têm vindo a ser sujeitos. Queremos terminar com o ciclo da gestão tecnocrática, feita a partir do gabinete da Câmara de Vimioso, baseada em números e não nas pessoas.

Vamos todos trabalhar para a construção de um futuro melhor. Queremos um futuro próspero e feliz para a Vila de Argoselo. Estamos prontos para ajudar a construir um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.

Ilídio Bartolomeu

terça-feira, 7 de novembro de 2017

COFLITOS ARMADOS!


Mais uma História sobre Argoselo que vem no seguimento de personagens que contaram histórias mais ou menos reais, que se intitulavam “José Vasconcelos”. Tive curiosidade em saber mais quando para minha surpresa, remete para alguém falecido há 76 anos e que está ligado à História da nossa querida terra! Leiam com o interesse que melhor vos aprouver.

José Leite de Vasconcelos era beirão de nascimento. Nascido muito próximo da fronteira sul da área dos dialetos transmontanos e alto-minhotos (Cintra e Rei:1993) portanto, com conhecimento científico e empírico de algumas particularidades dialectais que pretendemos tratar. Nasceu na localidade de Ucanha, Mondim da Beira, a 7 de Julho de 1858, e viria a falecer em Lisboa, a 17 de Maio de 1941.

Como Autor de obra vastíssima, é considerado um linguista, filólogo e etnógrafo.
Algumas das suas obras que constam da bibliografia das notas monográficas do concelho de Vimioso: Religiões da Lusitânia; Estudos de Filologia Mirandesa, 1900, 2 volumes; O dialecto  Mirandês, 1882; Línguas raianas de Trá-os-Montes, 1886; Flores Mirandesas, 1884; Silva Mirandesa, 1903; Dicionário da Corografia de Portugal, 1884. Na página 42, pode ler-se e passo a citar Adrião Martins Amado:

“Li há pouco na página 315.ª da Etnografia Portuguesa do Dr. J. Leite de Vasconcelos o seguinte: «Argozelo, em Trás-os-Montes, compõe-se de 3 bairros principais: de Cima, de Baixo, do Latedo: o primeiro e o segundo acham-se ligados entre si e unicamente o terceiro fica algo afastado numa encosta, para lá do riacho do Prado, que corre num vale. Os bairros de Cima e de Baixo habitam-nos lavradores e comerciantes, e num deles ergue-se a igreja matriz: o do Latedo ocupam-no Judeus (há muitos em Argoselo como se dirá a seu tempo).

Não sei onde o sábio autor colheu tais informações. Não foi, decerto, em escritos do Prior Miranda Lopes que, enviando informes sobre a nossa terra natal para o Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular, disse: «O bairro-do-latedo, o mais pequeno da povoação, pois tem apenas nove fogos. É também antigo» - E ainda: (sublinhado e negrito meus) alguns escritores, levados por falsas informações, imperfeitas observações e ligeiras operações antropométricas, afirmam que em Argoselo predomina a índole, o carácter e o tipo da raça semita e que há aqui mil cripto-judeus. É leviana e falsa uma tal afirmação. Em época muito remota, vindos de Espanha, abordaram efetivamente a Argoselo alguns judeus; mas foram logo perseguidos pelas autoridades e naturais do lugar que nem sequer os admitiam nos cargos e funções públicas, chegando a haver entre uns e outros conflitos armados, ficando vencedores os naturais do lugar; e se alguns aqui ficaram, converteram-se e talvez nem chegassem a constituir família, porque os naturais do lugar não uniam a eles pelos laços do matrimónio.

«Note-se também que Argoselo foi terra de muitos padres, mesmo durante a época em que a perseguição aos judeus era violenta. Só nos livros do registo paroquial de 1751-1800 encontrámos notícia de 28 sacerdotes naturais desta freguesia. Ora é sabido que nos processos de ordenação eram excluídos, até à quarta geração, todos aqueles que fossem judeus os descendentes da sua raça. Na árvore genealógica de cada indivíduo, até ao quarto grau, entram oito troncos ou oito famílias ou dezasseis pessoas. Multiplicando esse número por 28, temos nos processos daqueles sacerdotes 448 representantes de famílias de puro sangue cristão – e isto na altura em que esta povoação tinha apenas 150 familias».

Por tudo isto conclua-se: o Latedo de Argoselo nunca foi ocupado por judeus. (final de citação)

A ser verdade que José Leite Vasconcelos recebeu a informações do Prior Miranda Lopes que alertava para alguns escritores, levados por falsas informações, imperfeitas observações e ligeiras operações antropométricas, afirmam que em Argoselo predomina a índole, o carácter e o tipo da raça semita e que há aqui mil cripto-judeus. É leviana e falsa uma tal informação.”

Falsas informações (de quem?) imperfeitas observações (por quem?) e ligeiras operações antropométricas (já se podia fazer outro tipo de medição?) Quem tinha interesse em veicular essas falsas informações?

Por que razão o Prior Miranda Lopes classifica de “leviano” e “falso” o indício que Argozelo foi terra de mil cripto-judeus? O que terá José Leite Vasconcelos levado a desconsiderar tal informação? Não seria credível a fonte? Estaria a mentir? Se sim - com que pretexto?
É desconcertante, no seguimento da explanação do religioso, ter referido que “ Em época muito remota, vindos de Espanha, abordaram efetivamente a Argoselo alguns judeus; mas foram logo perseguidos pelas autoridades e naturais do lugar que nem sequer os admitiam nos cargos e funções públicas, chegando a haver entre uns e outros conflitos armados(…)” Conflitos Armados?! Como foi possível? (tipos de armas, número de feridos e mortes)

Uma invasão de judeus hostis que tiveram de ser rechaçados por bravos lavradores crentes em Cristo armados de machados, foices, espalhadouras e calagouças e até estadulhos!?

Uma brigada de infantaria de proteção das fronteiras do Reino, numa incursão não programada tratou de despachar à bastonada homens, mulheres, jovens e crianças de igual forma e mandaram os judeus todos para Carção? Será que foram aceites numa primeira fase e depois, por já não terem dinheiro para os vícios fora expulsos das tascas e mandado para Carção?

Mais à frente (P. 45) referem-se queixas de cristãos velhos aos representantes da Igreja pelos cristãos novos pegarem nas varas do palio nas procissões do Santíssimo Sacramento. Coitados, se vissem a falta de pessoal que há hoje para levar o palio não se queixavam tanto!

Está aqui matéria deliciosa para uma peça de teatro – em Argozelo sempre foram muito dados a essa arte.

Escrito por

 Luiz Rodrigues


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

AS CASTANHAS BOAS E QUENTINHAS!...

Com o Outono chegam as castanhas assadas. Sabia que as castanhas, que atualmente são quase um pitéu, tiveram, noutros tempos, uma enorme importância na dieta dos portugueses? No século XVII, eram mesmo um dos produtos básicos da alimentação dos transmontanos e beirões chegando, se necessário a substituir o pão ou as batatas.
A castanha é usada na alimentação desde tempos pré-históricos e a respetiva árvore foi introduzida na Europa há cerca de três mil anos. 
A castanha que comemos é, de facto, uma semente que surge no interior de um ouriço (o fruto do castanheiro). Mas, embora seja uma semente como as nozes, tem muito menos gordura e muito mais amido (um hidrato de carbono), o que lhe dá outras possibilidades de uso na alimentação. As castanhas têm mesmo cerca do dobro da percentagem de amido das batatas. São também ricas em vitaminas C e B6 e uma boa fonte de potássio.
As castanhas são comidas assadas ou cozidas com erva-doce. Mas, antes de cozinhadas, deve-se retalhar a casca. Como se pode ver no quadro, têm bastante água e, quando são aquecidas, essa água passa a vapor. A pressão do vapor vai aumentando e "empurrando" a casca e, se esta não tiver levado um golpe, a castanha pode explodir,
O amido é uma reserva de energia das plantas e existe, sobretudo, nas raízes e nas sementes. Surge com uma estrutura coesa e organizada, com zonas cristalinas e outras amorfas, chamada grânulo.
Quando cozinhamos alimentos com elevadas percentagens de amido um dos objectivos é torná-los digeríveis. A frio, a estrutura do amido mantém-se inalterada. Mas, quando é aquecido na presença de água (e a castanha contém água na sua constituição), grandes modificações ocorrem. A energia térmica introduzida enfraquece as ligações entre as moléculas do amido, a estrutura granular "relaxa" e alguma água penetra no interior dos grânulos, que incham, formando um complexo gelatinoso com a água. É isto o que acontece quando cozinhamos castanhas e lhes altera a textura
Existem várias espécies de castanha. Em Bragança as mais comuns são a camarinha, a judia, e a longal ou enxerta.
A castanha tem aplicações na medicina. As folhas, a casca, as flores e o fruto têm sido utilizados devido às suas propriedades curativas e profiláticas, adstringentes, sedativas, tónicas, vitamínicas, remineralizastes e estomáquicas.

Pelo seu valor nutritivo e energético, era utiliza outrora em vários estados de mal-estar e doença. É também tónica, estimulante cerebral e sexual, anti-anémica (castanha crua), antisséptica e revitalizante. Para afinar as cordas vocais e debelar a faringite e a tosse nada melhor do que gargarejos com infusão de folhas de castanheiro ou de ouriços.
A castanha constitui um tema para ditos, lengalengas, canções, quadras e contos populares, sobretudo no nordeste Transmontano.
Em Argoselo usa-se, cortar as castanhas com a faca antes de serem cozidas ou assadas. Depois leva um apertão com os dedos da mão, geralmente dados por rapazes ou homens atrevidos a raparigas e mulheres.

As castanhas assadas e descascadas ou peladas tomam o nome de bilhós (bullós em galego)

Ilídio Bartolomeu