segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

A MINHA AUTOBIOGRAFIA


INTRODUÇÃO

Contar histórias da vida, é algo íntimo ao ser humano e faz parte da nossa vida. Ao escrever uma autobiografia, revivemos por meio da memória cada etapa da vida, resinificando-a. Ao estruturar o passado, encontramos a clareza que precisamos para construir no presente o futuro que queremos ter. É como se estivéssemos, literalmente, “passando a vida a limpo”. Todos nós temos a necessidade de falar de nós mesmos, de contar a nossa própria história seja em conversas ou em narrativas.

Ilídio Bartolomeu

“A Minha Autobiografia”

Neste trabalho, de acordo com as minhas lembranças procurarei ser o mais fiel possível para relatar factos que ocorreram na minha vida.

Nasci  numa aldeia do interior Argoselo, — enfeitada de rezas, procissões, novenas e pecados. Aldeia com sabor de água férrea das minas, onde a minha solidão já pressentida era tomada pelo vigário, professora, padrinho, beata, como exemplo de perfeição…

Meu pai e meus irmãos mais velhos tomavam conta de mim, a minha mãe doente, não me cantou cantigas de embalar para me trazer o sono. Encantados pelo meu sorriso de bebê, fez com que aquele ditado antigo falasse mais alto – “onde comem três comem cinco”! Então fui muito feliz pelos pais que tive, filho de um alfaiate e de uma humilde dona de casa doente.

A minha autobiografia é marcada por uma certa tristeza. Desta forma, eu rompi com a ideia de que criança é sempre feliz por ser inocente e não perceber os problemas da vida.... Eu entendo que todos nascemos velhos, porque somos parte de vidas já vividas pelos pais e até mesmo pela sociedade.

Escola Velha

“Primeiro ano de Escola”

Vou começar a falar sobre o meu primeiro dia de escola, dos amigos e colegas. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia em que fui à escola, 15 de setembro de 1954, estava muito feliz e com muitas expetativas de saber o que realmente consistia a escola e conhecer novos amigos. Lembro-me também quem me levou à escola no primeiro dia, foi o meu irmão Ramiro, o caminho também era perto. Foi muito importante para mim, visto ausência de meus pais devido ao trabalho. O primeiro impacto sobre a escola foi positivo. O professor Marcolino, era simpático e atencioso, o que é algo que nos preocupamos mais quando somos pequeninos. Isto deve-se ao facto de nos afligirmos por entrarmos num mundo de uma pessoa ou de pessoas que desconhecemos totalmente, é o medo ao nos sentirmos desprotegidos. Quanto aos meus colegas gostava de todos. Em relação às brincadeiras gostava de brincar a todos os jogos que havia nesse tempo.

A utilização das brincadeiras trazia-nos muitos benefícios, pois era através de brincar que despertávamos as nossas emoções, aprendíamos  a lidar com factos que interligavam o nosso dia a dia, aprendíamos a lidar com o mundo, recriávamos, repensávamos e imitávamos. Desenvolvendo a nossa a imaginação, a criatividade, a capacidade motora e o raciocínio.

Realmente as brincadeiras deixava-nos mais felizes, realizadas, espontâneas, alegres, comunicativas, entre outras características positivas que auxiliam no desenvolvimento infantil, podendo torná-las assim um ser mais humano, cooperativo e sociável.  Parecia que o tempo parava quando estávamos juntos, o mundo ganhava mais cor e os passarinhos pareciam ter um canto diferente, tudo era único.


A Praça antiga

“Uma diversão deplorável tinha ainda sete anos”

Era junho de 1954, conclui a primeira classe  passei para a 2ªclasse, tinha feito oito anos. Com a chegada das férias, mais ou menos dali a três ou quatro dias, entrei num período muito conturbado na minha vida. Aconteceu-me um caso inesperado de tamanha crueldade e malvadez por parte de um adulto de 18 anos. Um crime bárbaro, sem precedentes, chocou e revoltou os Argoselenses,  porque é difícil aceitar que um ser humano tenha capacidade de fazer com um miúdo tamanha brutalidade.

Na aldeia havia muitos miúdos e os nossos pais não tinham ocupação para nos dar, éramos ainda pequenos, queríamos só brincadeiras, mesmo sendo petiz, os pais levava-os  com eles para as hortas, para não os deixar sozinhos em casa. Como o verão é sinónimo de colheitas, os filhos sempre davam um jeito na apanha das batatas, cebolas e na rega dos produtos, aqueles que ainda se aguentavam mais algum tempo na terra.

 Um dia à tarde, em frente à capela do Senhor do Bonfim, eu estava a brincar na praça que estão a ver na imagem, sim nesse tempo, ainda tinha uma fonte e um tanque. Como vinha dizendo, eu estava com mais dois colegas de escola, o António de 10 anos, filho da tia “Prina” e o Antoninho de oito anos, filho do tio “Latas”. 

Capela do Senhor do Bonfim
Aproximadamente dali a uma hora apareceu junto de nós, o Matias com dezoito anos, filho do sr. Abdiel, com uma corda na mão e convidou os meus dois colegas se queriam ir com ele buscar a égua ao lameiro que ficava nos prados. Eles disseram logo que sim. Ora como os meus pais estavam também para esses lados na arranca das batatas eu queria ir. Como não fui convidado pelo Matias, deixei-os distanciar consideravelmente e fui atrás deles. Só que o Matias, não sei porquê, estava sempre olhar para trás e fazia sinal intimidando-me, anda cá; se te apanho, prendo-te com a corda. Apanhando-me descuidado, conseguiu e prendeu-me de facto a corda à cintura, deitou-me ao chão e puxou-me a rasto, desde a Capela de São Sebastião, até à moagem do Lopes.

Depois desatou-me e, em vez de ir ajudar os meus pais, apanhar as batatas, voltei para casa. Consequências disto: a perna esquerda ficou esfolada e apôs alguns dias começou a inflamar. Eu, não queria dizer nada ao meu pai, porque tinha medo que me batesse. Mas a perna após 24 dias, já estava tão inflamada, não havia como não dizer, mesmo que levasse pancada. Quando mostrei a perna ao meu pai, disse-lhe que já tinha sido no dia da arranca das batatas.  Então porque não disseste logo nesse dia quem te fez isso? Eu respondi: tive receio que o pai me batesse. Foi o Matias filho do S. Abdiel.

Conclusão: o meu pai foi falar apôs eu lhe ter dito quem foi com o Sr. Abdiel, aceitou o acontecido e mandou vir o Dr. Jota, verificou a perna e levou-me para o hospital de Bragança. Estive hospitalizado primeiro vinte quatro dias, como eram as festas da Aldeia, deu-me alta hospitalar exatamente como a perna estava, ou pior. É claro que o meu pai ao ver que a perna podia piorar, deixou passar as festas e falou novamente com o Sr. Abdiel, ele disse que já não tinha nada a ver com isso. O meu pai, não teve outra alternativa que não fosse mandar-me internar novamente. Estive no hospital mais um ano. No total estive internado: (um ano e vinte quatro dias)

 O Dr. Jota queria levar-me ao Porto para me  amputar a perna, valeu-me: o Dr. Manuel Pires e o Dr. Flores, que me operaram, e assim fiquem com a perna. Meu pai foi para a justiça, mas pouco lhe valeu. No acontecido, só estavam duas testemunhas e o Sr. Abdiel, arranjou 30 testemunhas contra mim. Nesse tempo, o poder que os ricos tinham! havia muita fome mesmo… mas mesmo muita fome…

O Tanque da escola velha 1954

Como só tinha concluído a primeira classe, antes de tudo isto ter acontecido, não cheguei a fazer a segunda classe, e então, a contínua Augusta Fona, matriculou-me na terceira classe para não atrasar um ano,  porque via em mim um aluno que gostava de andar na escola e aprendia bem.

Da terceira e quarta classe,  tenho  boas recordações, apanhei uma professora excelente que até levava os alunos para sua casa estudar da parte da tarde, e dava-nos de lanchar, chamava-se: Dona Maria Cepeda, tinha pouca paciência para com os alunos. Naquele tempo, era permitido bater nos alunos nas mãos com uma régua a quem não sabia a resposta à pergunta que fazia. Concluída a quarta classe, gostava de ter continuado a estudar… mas, naquela altura, na província não era fácil, nem pela mentalidade dos pais, nem pelas dificuldades financeiras que marcavam tristemente a sua presença. Não posso dizer que foi tudo perfeito, mas também não foi algo que me fizesse não querer ter vivido.

 Tenho saudades da minha escola porque acho que na verdade tenho saudades de tudo o que me prende àquele tempo e que me lembra os amigos, a infância e os dias de chuva onde eu, por trás de um vidro molhado sonhava com as luzes da vida. Tudo isto apenas para vos dizer que tenho muito claro o lugar das minhas raízes, e uma delas esta aqui. Nesta escola. A minha infância até ao final da primeira classe, fui muito feliz! até ao dia, que me aconteceu o infortúnio.


Alfaiate Adelino  (Chastre)

“Somente o justo desfruta de paz de espírito”

Só com a profissão de alfaiate, o meu pai mal ganhava para o pão que comíamos “coitado dele”, com sete filhos, mais eles os dois, éramos nove bocas para alimentar, só ele a trabalhar era obra! Valiam-nos muitas vezes as pessoas amigas, que na altura das colheitas e das matanças do porco, ofereciam um pouco de tudo. Era esta generosidade das pessoas para com os meus pais para que não tivéssemos de passar ainda pior. Mas atenção! Como ninguém dá ponto sem nó!... meu pai pagava doutra maneira… com pequenos arranjos, quando as pessoas lhe pediam para meter umas cuadas nas calças, levantar bainhas, passar os fatos a ferro ou encolher calças. O mais louvável dele é que, não discriminava ninguém, fosse quem fosse, tanto aqueles que lhe davam, como a aqueles que não podiam dar coisa nenhuma, até mesmo não sendo cliente dele, não era capaz de lhes dizer não. considerava-os a todos como amigos, simplesmente agradeciam com um (obrigado Adelino chastre). Era por isso mesmo que os meus pais eram tão respeitados pela generalidade das pessoas do povo.

As brincadeiras de pião
“Concluído o ensino primário”

 Aos dez anos de idade, tornei-me um pouco mais autónomo e responsável. Fiquei por aqui porque tinha de ajudar os meus pais. Até aos meus catorze anos, o meu quotidiano de vida, nunca foi dos melhores, a vida do interior, foi sempre bem sofrida, muitas das vezes andava descalço, casa muito precária, enfim, só eu sei o dia-a-dia complicado em que se vivia nessa altura. Fui um rapaz comum, como qualquer outro pré-adolescente da aldeia de Argoselo, na realidade tinha sonhos, objetivos, mas sem as mesmas oportunidades que outros tiveram. Os meus pais eram pobres. Num contexto de miséria e dificuldades, desde cedo em condições brutais, os filhos têm de aprender a ajudar os pais nas atividades laborais, nos negócios ou noutros trabalhos. Muitas vezes o adolescente era convidado para aprender a profissão do pai, ou então tinha de que escolher outra profissão. As pessoas nessa época, uns trabalhavam nos campos, outros nos negócios das peles, pois não conheciam outro modo de vida, e os seus desejos de ambição resumiam-se às colheitas fartas que assim afastavam o espectro da fome.

Mas havia fome, muita fome. Estou a falar de um tempo antigo, do qual uma sardinha era dividida por três, do carolo de centeio bem negro torrado nas brasas, untadas com banha ou unto a servir de manteiga, caldo de cebola quando as batatas já se haviam acabado e de refeições em que a travessa do guisado era só uma.

Guisado de carne

Colocava no meio da mesa, quando havia mesa e no caso de não haver, à roda da fogueira, onde a família comia em silêncio depois de dar graças ao divino por mais uma refeição... o silêncio da refeição, não se devia ao não terem que dizer, mas sim ao tempo que perderiam se ocupassem a boca com palavras em vez de mastigar a parcela que a cada um calhava.

As batatas eram cozidas com a pele, não se desperdiçava nada. O pão, muitas das vezes, mesmo duro, era o único que havia. As crianças pequenas eram deixadas na rua todo o santo dia, por vezes entregues a elas próprias, enquanto os irmãos mais velhos saiam com os pais para fora aos quinze dias aos negócios das peles, aqueles que tinham terras iam cuidar das novas colheitas. Quando a fome começava a apertar, as brincadeiras faziam esquecer a vontade de comer o carolo de pão, porque muitas das vezes nem isso havia, e se resmungassem muito, ainda levavam uma valente tareia.

A melhor escolha 

  “Tomei uma decisão”

Se não gostava da arte de alfaiate, alguma coisa tinha de fazer, as responsabilidades assim o exijam. Tinha já catorze anos, optei ir trabalhar nas estradas e florestas com enxadas e picaretas ao sol árduo da meia tarde. Um ano depois fui para as minas, onde andava a trabalhar enterrado de lama até à cintura. Todo esse sacrifício para ganhar 120 escudos por mês, para fruto de um pão ao pequeno almoço, uma malga de caldo e um isco ao almoço, à noite ao jantar uma malga de caldo de arroz, de couves, de feijão ou de batatas e cebola. Nem sempre tive o que comer, ia muitas vezes para a cama com a barriga roncando, e com o pensamento de que ao amanhecer tinha de acordar. 

Minas de Argoselo
Comia um simples carolo de pão e lá ia novamente para mais um cansativo dia de trabalho. Era trabalho duro para um adolescente. Tudo isto porque não queria seguir a profissão do meu pai, alfaiate. Uma experiência nada estimulante para mim, não gostava. 

Neste período de adolescência, de mudança, de dúvidas, de curiosidades, inicia-se uma nova etapa. Fui convidado pelo meu Padrinho que estava em Lisboa, escreveu-me uma carta dizendo se queria ir trabalhar para o Casino - Estoril. É claro que disse que si! Estávamos em Abril de (1966), ano do mundial de futebol e do celebre Eusébio. Fui sozinho sem conhecer ninguém. Foi complicado, pelo facto de me  sentir sozinho e triste. Com idade de desaseis anos, entrei no mundo do trabalho.

Casino Estoril 1965

"Uma Aventura que não sei o que vai dar" 

Nunca tinha pensado em nenhuma profissão em específico, nem me lembro de ter decidido "já sei, é esta ou aquela que quero". Percebi que depois de trabalhar na copa, gostava da profissão de empregado de mesa, pareceu-me o melhor por enquanto. De entre todos os cursos que havia na área, decidi então que queria ir para a escola de Hotelaria Alexandre de Almeida, em Lisboa. Assim que aterrei no curso e tive as primeiras notas, vi logo que estava no sítio certo. Como era um curso que gostava, achava que tinha um espírito competitivo muito forte, levava o curso demasiado a sério. Acabei com média de 14, o que me pareceu uma grande proeza. Achei o curso interessante, tinha onze disciplinas entre pratica e o teórico, que davam muita relevância ao curso…e, sobretudo, achei que saí de lá com algum conhecimento específico.

Empregado de mesa

É tudo tão geral e superficial que sinto que me licenciei em Restauração. Com a concretização deste curso, apercebi-me que tinha aptidão para trabalhar nesta área. Pois era a profissão que gostava, tinha oportunidade de adquirir novos conhecimentos, algo que me fascinava.

Para quem ache que só sofri, está enganado, também tive os meus momentos de lazer e entretenimento, quando me foi proporcionado o emprego no Casino Estoril. Trabalhava-se muito, servíamos muitos banquetes de 800, 900 e até 1200 pessoas. Além disso, os empregados de mesa tinham de ser também estivadores, o que quer dizer: transportar as mesas às costas e bem pesadas que eram, colocá-las de maneira a que os clientes tivessem que caber dentro do espaço do restaurante. Ora este trabalho era bastante pesado, sendo eu uma pessoa que desde os meus sete anos sempre sofri de uma doença dos ossos, as probabilidades eram mais que evidentes de vir a sofrer cada vez mais. Apôs dois anos de trabalho no Casino, outubro de (1968), interrompi o trabalho que eu próprio escolhi. Fui chamado para me  apresentar no quartel de Infantaria 16 em Viseu para cumprir a vida militar.

R. I. 16  Viseu

“A História da minha vida Militar”

Passava por mim a grande velocidade o ano de (1967) e eu já com vinte anos no pêlo, fui obrigado pelo sistema político de então, a dar o nome para ser referendado e constar da lista dos gajos que estavam bons ou disponíveis para dar o coiro pelo país, pela Pátria ou fosse lá pelo que raio fosse. Era preciso que estivesse bom para matar ou morrer. Neste caso era mais para dar o coiro para salvar o coiro de outros “filhos da mãe”, que viviam nas suas torres de oiro e nos seus castelos de diamantes. Fosse como fosse, o que tem de ser tem muita força e como eu não tinha força nenhuma, tive de aguentar a pastilha e de dar o corpo ao manifesto.

Tendo dado o nome em (1967), fui chamado em (1968) para passar por uma inspeção como se faz aos cavalos para me verem se tinha dentes bons e patas sólidas, para me dizerem que estava bom tanto para matar como para morrer, mas que era muito melhor para morrer. Não era magrinho, mas também não era muito gordo e não muito alto, ou passava pelo intervalo das balas ou morria ao primeiro sopro de uma. Tanto fazia.

R. I. 16  Viseu

Mandaram-me para Viseu onde me instalei no dia, 22 de outubro de (1968) num convento ou outra coisa qualquer e, onde me iriam fazer permanecer oito semanas a correr para trás e para diante, sem eu alguma vez saber onde é que íamos parar, a verdade é que nunca fui ter a lado nenhum. Normalmente durante estas oito semanas éramos preparados, manipulados e forjados psicologicamente para termos a ideia fixa de o que estávamos a fazer era o melhor para o nosso país, para nós e para a nossa família, e eramos constantemente injetados com retórica a favor da guerra e que nós somos os bons e os outros eram os maus. 

Não quero, não posso nem devo com esta pequena crónica tentar escamotear o que era a guerra pela libertação nas antigas Colónias, nem quero deixar de lembrar o sofrimento que causou a centenas de milhares de homens e mulheres deste país. Quis o destino, que é uma das poucas coisas em que ainda acredito, já que não tinha amigos ou conhecidos de alta patente no meio militar e nem no meio civil, que no fim da Especialidade, tivessem dado a (Especialidade de Maqueiro). Talvez porque constava no meu curriculum empregado de mesa, mas não tenho a certeza se teria 

S.N.S. Coimbra

E assim terminada a (Recruta e a Especialidade em Cimbra), sou destacado para Évora RAL 3, ao lado da Capela dos Ossos, e aqui fiquei impedido à enfermaria, até que o tempo me segurasse à espera da mobilização para as Colónias.

Um Maqueiro serve normalmente para ir buscar os soldados feridos e carregá-los às costas na zona de combate e trazê-los para a enfermaria de campo. Depois de 16 meses à espera que fosse mobilizado, parece-me que desta já te safaste Ilídio, não vais andar aos tiros e eventualmente não vais morrer, mas também não vais carregar ninguém às costas. Embora tivesse sido informado que o meu destino já estava traçado, já não ia para as colónias naturalmente porque estava lá o meu irmão Fernando, fui destacado três meses para fazer serviços no Forte de Elvas, para guardar o paiol, guardar a prisão, Piquete e segurança noturna, e assim foram passados os dias.

Maqueiro

“Sinceramente não gostava nada da vida Militar”

Estávamos em junho de (1969) estava na altura de sujeitar-me a uma Junta Médica para ver se seria possível ficar livre da tropa. Passados três meses, lá estava eu diante do Júri onde no final recebo uma carta dizendo que tinha ficado auxiliar; é claro, foi uma deceção! Mesmo assim valeu a pena, talvez na próxima vá tentar novamente. Esta vida da tropa cada vez estava a dar mais cabo de mim, dia apôs dia, ficava mais magro, estava mesmo desmoralizado. Eis que então, passados mais três meses, tornei a insistir noutra Junta Médica. E nesta tornei a ficar como auxiliar, mais uma vez fiquei muito desiludido e disse para comigo: Ilídio, não insistas mais… assim foi… Quando saí do Hospital Militar, fui a pé até ao quartel, era mais ou menos um quilómetro, pelo caminho encontro no chão um rosário. Quando cheguei ao quartel vou até ao meu camarote e penduro-o na cabeceira da cama. Sou católico, mas não praticante, mas tive e tenho por hábito de rezar todas as noites. Nas minhas orações está sempre presente na minha mente: o Senhor do Bonfim, Nossa Senhora de Fátima e São Bartolomeu e dizia para comigo: já que não querem que saia da tropa, vou ficar até ao fim dos 36 meses. Este era o tempo que tinha de estar a gramar até ao fim da tropa. Mas não, redondamente estava enganado! Quando passado mais dois meses, o oficial dia, ao render da parada, mencionou o soldado; 527 Ilídio C. Bartolomeu, presente, meu comandante! Apresente-se no Hospital Militar amanhã pelas 10 horas, nem me passava pela cabeça para o que seria, quando lá cheguei, qual o meu espanto, era para uma Junta Médica, como já tinha perdido a esperança, fiquei surpreendido e fiquei de boca aberta! Mesmo na muche!.

Finalmente fiquei livre da tropa depois de gramar 18 meses. Estávamos em março de (1969) saí, mas tive ainda de pagar 1.200 escudos de taxa e fiquei inapto para todo o serviço militar…Veio então um sargento buscar-me num jeep para tratar das minhas coisas, entregar o que havia para entregar e pôr-me a andar para casa, gozar férias.

R.A.L. 3 Évora

“O que me levou a entrar na Tropa Portuguesa”

Nada me levou a entrar para a tropa, entrei porque fui obrigado. Naquela altura éramos obrigados a cumprir a vida militar. Toda a gente, ninguém escapava. Mas valeu pelo que se aprendeu e pelos momentos bons e maus. Para finalizar deixei-me contar uma pequena história de outras tantas que ficarão para memória. Foi num dia de domingo de agosto abrasador, não tinha metido dispensa no dia anterior e, por isso não pude sair do quartel. Na parada havia um banco à sombra e fui sentar-me nele a descansar, outros colegas estavam a jogar a bola. Vem então o oficial dia, com uma barriga mais parecia uma bola e perguntou-me: Ó 527, o que estás aqui a fazer? Ó meu alferes, estou sentado à sombra descansar, ora como a parada era empedrada com seixos, criava muita relva por causa da humidade, vai daí manda-me pegar numa picareta e diz-me: vai rapar a relva da parada. Bem! Eu queria dizer-lhe que fosse pro ca****o, mas ó meu alferes; estão ali tantos a jogar a bola com tanto calor, manda-me a mim rapar a relva? Respondeu-me o alferes: pois é mesmo por isso, não estares a fazer nada… Na tropa só se safa quem for reguila, brincalhão e já agora bufo...

Casino

“Tropa feita vida nova! Regresso ao trabalho no casino”

Como tralhava no Casino, apresentei-me no trabalho com a profissão que já tinha, mas tinha três dias de férias  que não tinha gozado. Como já trabalhava no Casino anterior à tropa, tinha direito a gozá-los. Por isso mesmo deixei os três dias para as festas de São Bartolomeu, não dava para mais; era um dia para ir, outro para ficar à festa e outro dia para regressar, era assim nesse tempo, por ano três dias de ferias até ao 25 de Abril, com três dias de férias por ano, só dava para estar presente numa, havia três festas, opção era escolher uma.

“Hoje eu não quero um amor para recordar, mas sim um alguém para amar e ser amado”. 

Num certo dia de verão com um clima arrasador, fui à Cidade de Bragança, com a mente à deriva, caminhei até ao Caminho da Vila nº55ª, visitar os meu primos onde lá viviam. Quando lá cheguei, subitamente, mesmo à minha frente, estava uma rapariga, com olhos grandes e brilhantes, a olhar para mim. Pensei, que linda criatura. Sem ter a certeza se seria aqui ou não, olhei novamente na direção dela. Então, ela começou a conversar comigo; procura alguém? Respondi; Sabe se mora aqui a Sra.. Virgínia? e ela respondeu: mora sim, é aqui nesta porta. Depois da bela jovem indicar a porta, não perdi tempo em aproximar-me, desci para o terraço. Começamos a falar, as nossas almas se envolveram numa suave e feliz conversa, como se alguém tivesse passado pela minha mente e me tivesse dito: esta mulher vai ser a tua cara-metade! Depois disto, era claro que a solução só dependia de mim. Ela parecia muito determinada e, nesse momento, pude ver que ela estava a sofrer, tinha há pouco tempo sofrido de uma intervenção cirúrgica. Eu sabia perfeitamente o que fazer para a conquistar. Era a próxima questão lógica, dizendo-lhe se conhecia a minha prima Virgínia e ela respondeu: conheço sim, são nossos inquilinos. 

Caminho da Vila Bragança
A partir daqui foi a porta de entrada para lhe dizer que era muito bonita e outros gracejos como se gostaria de ficar como minha amiga, ela replicou logo, porque não? É claro que para mim foi muito difícil quando não se conhece. Torna-se mais fácil, quando há algum relacionamento. 

Mas realmente tinha de começar a conversar por algum lado, mesmo que levasse uma grande tampa. Pelo contrário, fui bem correspondido, até parecia que o destino queria a gente juntos para sempre. Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões que gostem de mim e ter paciência para que a vida faça o resto. Quando, olhava para mim, tudo o que eu podia ver nos seus olhos era amor. Sou o único responsável pela minha atitude, e pelas minhas ações. Os dias que se seguiram foram um pesadelo para mim, enquanto tentava encontrar uma forma de vivermos juntos em harmonia. Neste momento, aprendi a segunda lição: não desistir. Se não conseguir à primeira, é continuar a tentar, destemido e persistente, mas também respeitador e corajoso. Sou o único responsável pela minha atitude, e pelas minhas ações. Alguns rapazes têm dificuldade neste cenário, eu também me incluía neste rol sinceramente, esta matéria era sério de mais para a conquistar porque de facto, deixava-me com os olhos em bico e o coração despedaçado, se a minha timidez, fosse ao ponto de desistir da mensagem que a minha mente recebeu.

“Mulheres são deusas que nos fazem sonhar”

Foi um privilégio encontrar-te. Tudo aconteceu tão rápido, mas foi suficiente para eu nunca esquecer, imaginando momentos, viajando no tempo, criando uma vida em que estou contigo, sentindo-me triste e lento, quando percebo que não estás ainda perto de mim, porque és a metade que me faz falta aqui… Sim! Comecei logo a pensar no futuro e a planeá-lo de forma conjunta, seja para namorar algum tempo, casar e começar uma vida a dois… Começar uma vida a dois, significa que o homem e a mulher, afirmam um para o outro o seu sentimento e a vontade que têm em construir e desfrutar de uma vida em comum. Assim, apostamos na partilha das tristezas, alegrias e emoções, dividimos o que temos e fazemos planos para o futuro, nomeadamente fazer a família crescer.

Casados

“Encontrar alguém que me aceite, com os pedaços que me faltam”

Afinal de contas, eu fui encontrar quem estava a procurar, mas também quem estava a esperar por mim! E tive logo a perceção, que esta mulher tinha instinto adorável e fazia qualquer homem sofrer, logo descobri que o apaixonar era inevitável, de repente tive a intuição que devia tomar e seguir um caminho apôs este sonho, uma situação que se tornou na minha vida que o acreditar não acontece assim nem mais nem menos por acaso. Coincidência? Talvez sim, talvez não, mas que estávamos guardados um para o outro, parece não deixar dúvidas, que o sofrimento de ambos que passamos foi quase semelhante, também me faz pensar! Depois de nos conhecermos, logo notamos que o nosso futuro seria junto um do outro. Assim, começamos a namorar e, de seguida casamos.  Os dois éramos de famílias pobres, ela nasceu em Bragança e eu em Argoselo. O casamento foi realizado no dia 30 de Janeiro de 1972, eu estava com 24 anos, ela com 17 anos recém completos. Após o casamento, fomos morar para, a Av. Biarritz, Nº 21-1ºDtº Monte Estoril – Estoril. Aqui começamos a construir uma vida juntos. Antes de casar estava extremamente ansioso, é normal, mas relaxei! Casei tranquilamente!

Agora com mais responsabilidades e sempre à espera de que a minha vida profissional seja mais auspiciosa, até que os chefes um dia, achem que estou apto para desempenhar a função como chefe de turno no restaurante. Muitos casais tem expectativas de como será a sua vida depois do casamento,  eu não fugi à regra. Tudo me estava a correr bem na vida um bom emprego, uma esposa admirável, tudo ela sabe fazer; cozinhar, costurar e com uma cultura geral muito razoável.

Estoril

A vida a dois é uma dádiva e é uma forma de crescimento para o homem e mulher. Eu achava-me um adulto maduro com os meus 24 anos. Hoje sei que faria muita coisa diferente, mas também não me culpo de nada, porque as imperfeições fazem parte da vida. Sinto-me uma pessoa mais sabida e preparada para encarar qualquer desafio. Isso é maturidade.

É claro que nem sempre conseguimos contornar e até mesmo superar as dificuldades ou chances falhadas. A maturidade não é infalível, mas juntamente com o bom senso é um ingrediente poderoso na vida de cada pessoa. Ser maduro não é ser chato ou responsável. Ser maduro é aceitar os desígnios da vida com mais tranquilidade. Não imaginava que uma simples visita à cidade de Bragança iria mudar completamente a minha trajetória. Eu era um adulto visitando a cidade e deparei-me com uma linda rapariga. Foi amor à primeira vista. Essa princesa  encantada tornou-se a mulher da minha vida.

Depois de casada, a vida de Maria do Carmo não foi fácil, deparou-se com muitas dificuldades de saúde. Pelo facto de uns meses antes de casar ter sido hospitalizada no Hospital de Bragança, submetida a uma cirurgia apendicite pelo Dr. Jota. Achando que era mesmo isso, enganou-se, era outra coisa muito pior, limitando-se a fechar e remetendo-se ao silencio. Ao não ter comunicado nada na altura aos pais, fez com que o improvável acontecesse, dali três meses, passou por duas intervenções cirúrgicas muito difíceis  no Hospital do Desterro em Lisboa e a tratamentos muito  sensíveis.

Hospital do Desterro

A vida poderá ser um fardo insuportável quando alguém se agarra aos desgostos antigos, carregando todas as deceções do passado e quando as acrescenta às do presente. Mas se agimos com serenidade temos a prerrogativa de enfrentar os infortúnios da vida com mais facilidade e aceitação.

Enquanto solteiro, a pressão era: “ Quando me vou casar?” Quando me  casei, a pressão era: “ Quando terei filhos?” Porém, diante de tanta pressão, talvez, o solteiro viva o sofrimento de não ter encontrado alguém para se casar.

“Ao fim de cada dia tenho ainda mais certeza que o nosso amor durará até o fim das nossas vidas.”

Sejam quais forem as contrariedades devem ser encaradas com naturalidade e resolvidas, com a mente serena e a alma em paz. Os infortúnios, ou seja, a desgraça, o azar, a desventura, a tragédia, o flagelo, a fatalidade, afligem a vida de todos os seres humanos. Não podemos evitar, nem prever, mas podemos tentar suavizar os seus efeitos devastadores. Com a consciência serena e corajosa, ajuda muito nesta tarefa, porque contra os infortúnios da vida a lamentação de nada adianta, somente agrava e retarda o problema, portanto, nestes momentos usei a sabedoria agindo com muita firmeza e controle. A todos nos pode bater à porta. Muita gente pensa que as desgraças só acontecem aos outros, mas nem sempre é assim, quando menos se espera, estamos nós a cair nessa situação. Nunca se pode dizer - “desta água não beberei”. Mas, o meu lema era continuar a trabalhar e não ficar a chorar o leite derramado à espera que alguém faça por mim o que tenho de fazer eu.

Restaurante Casino Estoril

“Como ser reconhecido e promovido? Mostrando ser mais ambicioso”

Nunca refutei o trabalho, muito menos me refugiei na fama que os meus colegas que me queriam dar, pelo facto de ser da Terra do Patrão. Não!... Podia até ter aproveitado, mas o meu caráter não era esse, preferi ter algum estatuto dedicando-me ao trabalho não faltando, porque um dia tinha gripe, outra vez porque me doía a barriga ou a cabeça, ou porque embirrei com este ou aquele colega, justificando-me depois com uma falta justificada médica. Não!... Estava sempre presente, ganhando a confiança dos meus chefes, sem que nunca, mas mesmo nunca humilhasse ninguém, nem ninguém tivesse de dizer: olha!... Ele ultrapassou tudo e todos porque é o menino protegido dos chefes ou do Patrão.

Apesar de gozar dessa fama e privilégios, que os meus colegas tanto apregoavam, muitas vezes levava-me a querer que estava mesmo protegido por alguém. Mas se realmente era assim, então eu fui muito ingénuo, porque nunca fui beneficiado por esse alegado protetor. Posso declarar solenemente, se eu subi ou tinha algum estatuto, foi com o meu empenho dedicação e mérito próprio. Se podia ser mais favorecido, neste caso, lá isso podia, mas era preciso ter jeito e estômago para ser lambe botas, coisa que não ligava comigo. 

Restaurante

Mas, se estavam a mencionar como penso que seria o meu protetor o Sr. Dr. Manuel Teles, administrador do Casino - Estoril, posso afirmar: que era um grande homem, um grande amigo meu, uma pessoa justa e faladora para com os empregados. Ao Sr. Doutor Manuel Teles, devo-lhe muitos favores pessoais. Ficar-lhe-ei grato toda a vida. 

Profissionalmente, pedi-lhe um favor e não me concedeu, ele lá sabia porquê, mas mesmo assim, nunca deixei de considerar o Grande, filantrópico que era. Subi na vida profissional, porque os chefes achavam que era merecedor e conhecedor da profissão e das obrigações.

Depois sim! Passado algum tempo (1972), quando abriu a sala grande das máquinas, o Sr. Doutor Manuel Teles, mandou o Diretor Alifonso, falar comigo se queria ir chefiar o Bar das Máquinas, é claro!... Não recusei, pelo contrário, fiquei bastante contente e agradeci. Apôs alguns anos, iniciei a chefiar o Bar da Sala de Jogos. Por tudo isto, pelo empenho, dedicação, lealdade, assíduo e bem-humorado, em (1996) fiz trinta anos de casa, tive o privilégio de ser laureado com um relógio de ouro, como prova de um funcionário exemplar. Foi a cereja no topo do bolo.

Maria (tiró) e Adelino (Chastre)
“Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser, devo aos  meus pais”.

Do meu pai, lembro-me várias vezes, dizer-me com os seus olhos profundos e tristes de tanto trabalho: Ilídio, dá ponto de volta e faz as carcelas nestas calças. Não havia nada de errado comigo, somente não gostava do ofício de alfaiate. Não me sentia culpado pela confusão que trazia na minha cabeça. Estava sim com um dilema diabólico: existiam outros trabalhos mais gratificantes e, ao mesmo tempo não estava preparado para descobrir outros talentos para o meu gosto.

Meu pai Adelino, era alfaiate, o (chastre de alcunha) era brincalhão, humorado, humano e familiar. Lembro-me do coração perfumado de meu pai Adelino e da sua habilidade firme, como a não querer revelar o seu sentimentalismo e a sua bondade. Relembro a sua alfaiataria com as suas prateleiras, carregadas de peças de pano, do balcão e da sua máquina Singer. Lembro também como era espinhoso o seu trabalho principalmente no Verão.

 Mas eu gostava mesmo era do “chastre” cosendo na sua máquina de costura. Inesquecível aquele Adelino, às noites após o trabalho, saia para a taberna com a sua pequena bengala coxeando ao encontro dos seus amigos. Logo que pudesse, lá estava ele a fazer das suas partidas que mais adorava, meter as cascas dos amendoins e tremoços nos bolsos dos casacos dominicais dos amigos que mereciam a sua confiança sem eles se aperceberem. Depois quando os amigos iam para casa, trocar de roupa metiam as mãos nos bolsos, encontravam as cascas,  logo desconfiavam: “foi o agulha do chastre”. Era assim que os amigos depois lhe chamavam, por ser brincalhão e amigo dos seus amigos.

 Da minha mãe com aquela bondade piedosa pedia-me: Ilídio meu filho, vai buscar um cântaro de água à fonte da Espadana, já não temos água para fazer o caldo. Lembro-me, dentre tantas lembranças e nostalgias, dos Santos no céu amadeirado do oratório da minha mãe, do seu gosto de rezar e cantar e da sua voz firme dizendo assim e assim: Devota, de rosário de contas e promessas ao Senhor do Bonfim. Vivia para os Santos, para as rezas, para as igrejas, para abençoar quem passasse pela sua porta e para ver o mundo, ali sentadinha ao entardecer à porta de sua casa na rua. Em dias de missa, lá ia ela, toda miudinha, levando o rosário de rezas e crucifixos, de xaile escuro sobre a cabeça, possuía uma voz tão bela que os anjos se encantavam quando chegava à igreja. Minha mãe, a fina flor do meu coração. Sem outras palavras para descrevê-la, senão aquelas que dizem sobre a sua beleza, a sua doçura humana, o seu indistinto amor.

Cemitério de Argoselo 

"Meu pai em 1985, minha mãe em 1987, partiram"

 Com eles, todo o meu fascínio da minha infância e de adolescente se apagou. Nunca esta cena se me extinguiu da minha vida. Lembro-me de ter ficado autenticamente desvairado. Na cova que a terra os cobriu, ficou enterrada para sempre com eles a minha infância e de adolescente. E eu, eu sou uma parte de tudo isso, uma prenda viva de laços familiares, ou aquele que tudo faz para jamais se afastar daquele jardim de onde floresci. Por isso, quando me olho no espelho vejo-me em muitos. Naqueles outros e aqueles que nem sequer conheci, mas que em mim estão pela força hereditária.

O tempo passou! A minha vida é como um livro. Cada página um recomeço, cada recomeço um desafio, cada desafio uma conquista e em cada conquista nasce uma nova forma de ver a vida e fazer tudo valer a pena.

Igreja Matriz Argoselo

“Sou cristão tenho fé faria tudo na mesma”


Deus quis que a Minha Mulher não tivesse filhos. Também aqui, o destino nos pregou mais uma partida e algumas dificuldades sim, mas além de tudo, somos muito felizes há 50  anos. Ao contrário do que parece, por tudo isso, criamos uma criança, com todo o carinho, independente de qualquer preconceito, hoje é uma mulher formada, casada e tem três crianças. Juntando; sofrimentos, alegrias, criar uma filha de coração e ter três netinhos, vale a pena viver. Se me perguntam: a tua vida foi então um oásis? Eu diria que sim! Se não vejam; por tudo o que passei, de bom e de mau, estar aqui vivinho da silva, com um pouco menos de saúde é verdade, mas ter concretizado todos os meus sonhos, projetos de vida e desejos de obis, foi para mim algo de satisfação, de uma conquista capaz de colmatar muitos momentos desagradáveis, que me aconteceram na vida.

Meus pais sempre me diziam que não existe situação, boa ou ruim, que dure para sempre. De facto, a nossa vida é feita de situações e momentos bons e ruins, de alegrias e tristezas, facilidades e dificuldades, dores e prazeres. Quando estamos vivendo uma época boa das nossas vidas poucas vezes nos damos conta, mas quando estamos em situações de dificuldades parece que será eterno e que não acabará nunca. Entender que a vida tem altos e baixos não é tão difícil quanto aceitar essa realidade. Consentimos muito fácil o bom momento, já os momentos ruins tendem reclamar, murmurar e muitas vezes nos desesperar. Quantos de nós, homens e mulheres, já não se sentiu assim, submersos nos problemas e dificuldades, sozinhos sem ninguém que nos estenda a mão e nos puxe para a superfície. Tal sentimento nos afunda cada vez mais e nos sentimos desesperados, deprimidos e sem esperança…

“As Nossas Bodas de Prata 30-1-1997”

A conjugalidade, entendo-a como uma relação que o casal estabelece entre si, a partir do momento que mutuamente querem ser companheiros para a vida, tanto nos bons como nos maus momentos. Os vínculos que escolhemos devem estar disponíveis para nos comprometer a uma vida comum, investirmos em objetivos e interesses mútuos.

Para que tudo seja desenvolvido, nós precisamos ter clareza dos valores e desafios que nos unem. Além disso, é fundamental que o foco seja positivo e de cooperação entre o casal, isso sempre aconteceu entre nós. Outro ponto importante na nossa relação conjugal está em compreender os limites da vida a dois para que possamos viver como casal, mas sem perder a identidade individual. Isso implica em compreender os nossos limites e os nossos sucessos.

Confesso que fiquei horas imaginando o que dizer. Afinal não é todos os dias que se comemora 25 anos de casamento! A verdade é que eu queria escrever algo original, diferente de tudo que já escrevi ou falei até hoje, para que ao recordar tantas lembranças fizesse os meus olhos brilharem como na época do casamento, e os sorrisos que surgiram nos meus lábios que havia no dia, em que disse sim diante do altar! para que todos os convidados testemunhassem e ouvissem o quão esta união iria dar certo perante todos os obstáculos, quanto agora este casamento está sendo comparado a algo honroso e duradouro e muito valioso, a prata!

Renovação dos Votos 25 anos
Construímos o nosso mundo com base sólidas, o nosso futuro e a nossa felicidade que depende só de nós mesmo. Parece que foi ontem! No entanto, os meus cabelos estão mais brancos, raros e careca enquanto tu és linda, com um sorriso maravilhoso, as crianças que "ontem" não existem já estão tão grandes, fortes e formadas que já nos apresentaram uma nova geração de crianças que têm algo de nós dois para deixar ao mundo. Há 25 anos que eu te conheço de muito perto.

 Sou muito grato por fazer parte desta pequena família, de conviver contigo todos estes anos. Sei que ainda não havia dito isto antes. É que eu deixei para dizer num momento especial (como este), que tu me ensinasses muitas lições de vida, sendo que a principal delas foi amar.

A verdade é que sabemos que nem todos os casamentos dão certo, mas nós demostramos que sabemos a arte de viver a dois. Todos estes anos não é que não houvesse momentos de lágrimas e dor, mas quando esses momentos chegam, o importante é que um ao outro logo está ao lado para enxugar as lágrimas e dividir a dor mesmo quando não nos entendemos, mesmo assim vamos continuar ao lado dum do outro, porque casamento é isso: uma mistura de paixão, amizade, companheirismo e respeito. E juntos, esses materiais é que formam a fórmula perfeita para um amor duradouro.

É por isso que o nosso casamento é tão valioso! Obstáculos na vida a dois eu sei que surgiram e muitos! Mas juntos fomos capazes de resistir a todos, a prova disso é que estamos juntos até agora, por isso devemos comemorar este momento tão especial.

Queria presentear-te com algo que fosse original e único! Procurei... mas as lojas vendem sempre presentes iguais, os cartões de Bodas de Prata não mudam, é tudo tão repetitivo... e foi por isso que resolvi dar o que ninguém mais poderia dar! O meu presente nessa data tão especial é o que eu tenho de mais precioso: um pouco de mim mesmo! Estou aqui sendo sincero e abrindo o meu coração para expressar o quanto que tu és importante na minha vida. Sei que o que falo não é igual a prata, mas tem um valor imenso por que estou a expressar a minha admiração por um casamento que, mesmo alguns dizendo que vale prata, a verdade mesmo é que tem valor maior que o ouro.

O momento mais feliz da minha vida jamais será esquecido, o dia do nosso casamento! Comemorar mais um ano ao teu lado é uma dádiva. Sou pleno por celebrar contigo a data em que firmamos um compromisso intenso e cheio de emoção, o compromisso de formar uma dupla. Esse dia tão maravilhoso merece ser celebrado diariamente! Espero que tenhas em conta as razões em mim por não festejarmos mais intensamente este dia. 

A cada dia tenho a mais pura convicção de que tu és a mulher da minha vida, por isso quero permanecer o resto da vida ao teu lado. Que venham bodas e mais bodas. Que possamos celebrar a união da nossa amizade e do nosso amor. Amo-te incondicionalmente, não vejo a hora de comemorar no melhor lugar do mundo, que é sempre ao teu lado.

O casamento, é a relação afetiva mantida entre duas pessoas que se unem para estarem juntas e partilharem novas experiências. Eu pergunto: quantas experiências existem em vinte e cinco anos? Eu que me casei sempre com a mesma mulher, será que haverá muitos nesta situação?

Restaurante Roberto

Que Deus nos proteja este amor tão valioso que é o nosso, mesmo com pequenos problemas, ciúmes, tempo, medos, a rotina... o nosso amor continue a crescer a cada dia. Que a felicidade, o companheirismo, o alto astral também se multiplique sempre na nossa vida toda. Parabéns e que venham mais vinte e cinco anos.

Também aprendi que...conversar é a melhor solução entre o casal para resolver os problemas, guardar mágoas pode causar danos irreversíveis. Controlar as finanças e projetar o futuro é necessário. A relação sexual deve ser discutida, respeitada, realizada com amor e carinho. A compreensão torna a vida mais tranquila, lealdade e fidelidade são necessárias.

Quero poder dizer que estou 25 vezes mais unido à minha mulher. Sim, somos radicais, vamos até as raízes dessa aventura chamada amor, a esta união radical chamamos: casamento… Na alegria, na tristeza, na saúde ou na doença...não se resume apenas ao dia da cerimônia do casamento, quando se é casado temos sempre de nos apoiar um ao outro em qualquer momento da vida…lembro-me em cada dia que passa muito bem!...

Museu do Louvre France

“Mudar de preocupação faz-nos tão bem como tirar férias”.

Quase todos os anos fizemos questão de viajar pelo nosso lindo Portugal, em companhia dos amigos do coração. Incrível como Portugal tem lugares tão lindos, carregados de paz e tranquilidade.

E quando se trata de viagens pode não ser fora do pais mas dentro dele também, na minha opinião eu preferia fazer uma viagem em que conhecia os quatro cantos de Portugal do que fazer uma viagem há a capital da Austrália, pois eu tenho pavor de andar de avião, mas isso é outra história.

Mesmo assim conhecemos tantas coisas que pareciam distantes. O que mais nos impressionou, durante as nossas viagens, foi a facilidade de ter contacto com culturas diferentes. Acredito que cada viagem ou cada experiência nos modifica à sua maneira.

Por isso todas as viagens e todas as experiências porque passei em cada uma dessas viagens me modificou, me comoveu positivamente ou me fez crescer de alguma forma. Mas, claro que haverá sempre alguns momentos mais marcantes em viagem.

AS adversidades

“Superar as adversidades”

Em frente é que é o caminho. Enquanto trabalhei, as baixas médicas, tive por duas vezes, sempre por causa de ter que me submeter a intervenções cirúrgicas. A primeira delas foi à apendicite, foi logo dois meses depois de estar no Estoril e outra foi aos 55 anos à coluna. Desde então, aqui estou a pagar tudo isso com limitações de mobilidade e sacrifício sem poder fazer nada. Foi o fim da minha carreira profissional apôs 45 anos de trabalho sempre no Casino, sabendo que cumpri o meu dever, sem que tivesse de justificar uma falta sequer foi extraordinário, sem conflitos com os chefes, com os colegas ou quem quer que fosse. Talvez uma ou outra implicância passageira como é normal, quando se trabalha com muitos colegas, ou quando se está encarregue de secções e tem vários funcionários a seu encargo. Hoje encontro-me à mercê duma cadeira de rodas para me deslocar para qualquer sítio, e também ando a fazer hemodiálise. São os bombeiros que têm de me tirar de casa porque não tenho mobilidade nenhuma. Foram tempos, que não vou esquecer, os momentos bons, menos bons e maus, os convívios, almoçaradas e boas relações entre colegas e amigos, tudo isso agora me faz pensar o quanto a minha vida, tão feliz tão rica quanto de uma pessoa bem-sucedida. Sou argoselense, sou português, nunca fugi às minhas responsabilidades, tanto no trabalho como na família. A família esteve sempre em primeiro lugar.

Ainda se Lembram?

“Como conviver com a nostalgia”

 Muitas pessoas fazem confusão entre nostalgia e saudade, não são sentimentos iguais. Somos sujeitos atravessados por saudades, já que ao longo da vida vamos deixando experiências, pessoas e prazeres para trás. A diferença dos nostálgicos, diz que além de sentirem saudade, entendem que o que tinham ou viviam no passado, era melhor do que o que têm e vivem no presente. A nostalgia às vezes é vista como algo sentido apenas por quem tem um presente pobre de alegrias. Ela tem a sua importância. Tem a ver com a memória de um tempo que passou. Porque se as pessoas não puderem ter memória de tempos passados, das suas experiências e relações, acabam ficando como um arquivo vazio. Todos nós estamos sujeitos a sentir essa mistura de tristeza e saudade quando deixamos para trás uma fase muito boa ou somos obrigados a fazer renúncias. Afinal, se nos abrirmos para outras novas situações não é fácil. Leva um tempo para nos adaptarmos às mudanças. Sempre que fazemos algum processo de transformação, por mais simples que seja, ou por mais que pretendamos esta alteração, experimentamos algum tipo de sofrimento. A nostalgia é saudável quando traz lembranças de um passado bem vivido e ajuda a entender o presente. Mas se for muito intensa, pode até paralisar a vida, o que prejudica a memória e faz a pessoa ficar presa ao passado. Portanto é necessário virar esta página para vislumbrar o brilho do presente. Para isso, preciso lidar com o que guardei dentro de mim sobre as pessoas ou situação que perdi.

Dialise 

“Conviver com Deficiência e Doença Renal”

O canal da medula apertado e duas vertebras fraturadas da coluna, tirou-me a capacidade de andar. Jamais imaginei que um dia viveria numa cadeira de rodas. A primeira vez que a usei foi para sair do hospital, na ocasião não liguei muito, pois estava focado em voltar para casa, acreditava que esta situação seria passageira.

No começo, foi muito difícil aceitar a nova realidade. Fiquei deprimido, com depressão, acreditava fortemente que durante um ou dois anos voltaria andar.

Não saio de casa há mais de dez anos. “Não tenho vontade de nada. Eu fico a pensar, meu Deus, como vai ser a minha vida numa cadeira de rodas? Tive de aprender a fazer todas as pequenas coisas na nova condição e de ganhar força e resistência física para as executar. Todavia, quando me perguntam em que medida a cadeira de rodas me transformou, respondo que "o que mudou menos foi a questão do andar". "Sou uma pessoa um pouco revoltante e vejo a vida de forma diferente”.

Obviamente que não fico feliz com esta situação, mas é do género: 'OK, esta é a minha condição agora. É uma porcaria? É, mas eu vou tentar viver com isto da melhor forma". Quanto tempo demoramos a mudar de roupa? A sentar no carro? A tomar banho? Eu também não sabia.

Só quero aproveitar a vida", dedico o meu tempo á escrita no blog. São Bartolomeu Freixagosa. Se há um elemento comum em cada um dos textos, vídeos e publicações, no blog, esse terá qualquer coisa que ver com a alegria. Podia ter sido tudo diferente? "Depois do que me aconteceu, tenho conhecido muita gente em cadeiras de rodas na clinica, ouço muitas histórias, de facto não consigo bem explicar porque é que reagi tão mal. As coisas acabam por ser cada vez melhores quando a pessoa aceita"

Transporte dos Bombeiros

“Às vezes as pessoas dizem-me assim, ‘ah, estás numa cadeira, a vida acabou”. Não, a vida continua, eu nunca questionei a Deus. Eu agradeço a Deus todo dia, porque eu sinto-me uma pessoa feliz. 

Uma coisa é imaginarmos estar numa cadeira de rodas, ou outra deficiência; outra completamente diferente é perceber como é a vida de quem tem de lidar também com a diálise. Isto sim complica muito comigo.

A minha fisioterapeuta, mantem-me um plano de exercícios que ajuda a diminuir a controlar o peso, a reduzir o stress e a ansiedade. Permitindo assim, ter uma perspetiva mais positiva, enquanto me encontro a fazer diálise. É claro, que o precioso apoio e aconselhamento da minha esposa, ajuda-me muito a adquirir uma nova e valiosa perspetiva sobre o que estou a sentir. 

A minha família e amigos também acreditavam que esta situação era passageira. Tive alguns que não aceitaram prontamente, assim como amigos que se afastaram até hoje, infelizmente perdi contacto com alguns, outros felizmente permanecem.

A cadeira de rodas, será apenas um detalhe na minha vida. Confesso que até hoje faço fisioterapia, vivo dentro de mim a vontade de voltar andar, porém não deixo de viver momentos bons e outros menos bons, como qualquer outra pessoa sem deficiência física.

Ajustar a vida a uma condição de doença crónica é um processo desafiante. Lidar com estes sentimentos não é fácil, mas partilhar e reconhecê-los é essencial para manter a saúde física e mental ao longo do período em que me encontro a fazer diálise.

Graças ao enorme avanço médico e das máquinas de diálise, o “rim artificial” estão ajudando milhões de pessoas a continuar a prolongar as suas vidas por mais tempo e com qualidade.

Mesmo com uma doença crónica, a minha vida e a minha felicidade estão nas minhas mãos. "Todos os nossos sonhos podem tornar-se realidade, se tivermos coragem para os perseguir".

Não gostava, de ficar em casa, mas quando saio eu esqueço que ando numa cadeira de rodas, acho-me uma pessoa normal.


“Início da epidemia de COVID-19 em Portugal”

O início de 2020 foi marcado por um evento que fez enfrentar um problema de natureza invulgar, conhecido como epidemia Covid-19, que surgiu na China, e se alastrou por todo o mundo numa questão de poucos meses. No entanto, apesar de ser inicialmente um problema sanitário, rapidamente se propagou para o sistema económico e financeiro, fruto das incertezas causadas pela sua evolução. A 11 de Março, quando a OMS declarou oficialmente o surto Covid-19 como uma pandemia global, os países viram-se obrigados a acionar medidas de emergência para conter a propagação do vírus, como o encerramento de instituições de ensino, de espaços comerciais não essenciais, bem como tele-trabalho obrigatório para quem pudesse exercer as suas funções a partir de casa.

Em março 2020 foram conhecidos os primeiros casos em Portugal. Em 16 de março foi anunciada a primeira morte devido à covid-19. Portugal fechou quase tudo e só em maio recomeçou alguma atividade. Mas apesar de todos os esforços não parou de morrer pessoas.

A recuperação começa, com máscaras nas ruas, com medos de contacto físico e com um balanço grande de mortes.

A pandemia piorou o cenário econômico, o confinamento obrigatório decretado pelo governo, provocou o fecho de grandes e pequenas empresas,  aumentando  o desemprego cada vez mais.

Os impactos sociais que a pandemia causou, como o aumento da desigualdade, do desemprego e do número de pessoas à beira da extrema pobreza, não acabaram com a vacina contra a covid-19.

Igreja do Castelo Bragança

“As Nossas Bodas de Ouro 30-1-2022”

O segredo de tanto tempo juntos é o companheirismo. Eu avalio que hoje tudo está diferente os casais  divorciam-se rapidamente. No começo tivemos uma vida atribulada, mas vencemos. A gente ia-se “erguendo”, quando aparecia alguma dificuldade, ia-mos  indo e levando a vida conforme podíamos. Não me arrependo de nada, por isso agradeço a Deus por ter tido uma vida com muita dignidade e muito amor familiar.

Vamos lá esquecer aquela história de “alma gêmea”. Não existe casamento perfeito ou cônjuge ideal, muito menos gente que foi feita uma para a outra. Basta entender que o casamento não é um jardim de flores o tempo todo, mas também não precisa ser um permanente campo de discussão. Casado e Feliz não escondo as dificuldades do matrimônio, mas também não abro mão de mostrar que a plenitude é possível entre duas pessoas tão diferentes que levam para a vida conjugal uma enorme bagagem de sonhos, frustrações, valores e expectativas.

Certamente que já têm ouvido casais mais velhos como os nossos avós, por exemplo a dizerem que iriam celebrar as suas bodas de casamento de prata e de ouro ou até de diamante. O que eventualmente não sabem é que existe um material representativo para celebrar o aniversário do grande dia não só desde o primeiro ano do casamento, mas também desde os  primeiros meses, representando a vontade dos dois continuarem juntos e da perpetuação do amor que nos uniu.

As bodas de ouro representam 50 anos de casados. É um momento que merece ser comemorado ao lado da família e amigos que foi construída nesse tempo, renovando os votos e relembrando os momentos mais marcantes.

As Bodas de Ouro são muito especiais na vida de um casal. Trata-se de celebrar uma vida em comum. 

50 anos é uma vida. E é isso que simbolizam as Bodas de Ouro: uma vida comum, cheia de conquistas, momentos felizes, partilhas, vitórias. Sim, alguns momentos menos maus  também. Mas mais conquistas e vitórias, com certeza. A mais importante de todas é a nossa família: filhos, netos, sobrinhos, afilhados, bisnetos e até os amigos... As bodas de ouro não são só nossas, são deles também! E é por isso que esta celebração é para ser partilhada. Com os mais próximos, claro. A nossa história de amor vai servir de inspiração a outras. Ostentamo-la com orgulho! É por isso que a melhor forma de celebrar este ritual dos 50 anos de casamento é a renovação dos votos.

Eu e tu Maria de Carmo, fazemos no dia 31 de janeiro de 2022, 50 anos de casamento! Vamos celebrar as Bodas de Ouro na Igreja de São Vicente em Bragança, foi onde nos casamos para agradecermos a Deus e a Nossa Senhora por todo o amor, felicidade, respeito e companheirismo que nos tem unido ao longo destes anos e pela maravilhosa família de coração que conseguimos construir, sempre na Graça do Senhor!

Muitos casais voltam à Igreja para renovar as promessas. E  este vai ser o nosso caso, é claro que vamos de ter de marcar a celebração e vamos até escolher a mesma Igreja como já especifiquei a cima, onde foi realizado o nosso casamento, que oficializará o ritual da renovação de votos.

Para cada aniversário de casamento foi associado um material e o seu nome passou a representar a respetiva data. As bodas de casamento são comemoradas desde o primeiro mês (Bodas de Beijinhos), embora seja mais comum falar-se dos aniversários de casamento a partir do primeiro ano, que correspondem às Bodas de Papel. De qualquer forma, as bodas mais festejadas são as Bodas de Prata – quando o casal comemora 25 anos de casados, – e as Bodas de Ouro, quando o casal celebra, então, 50 anos de união.

Se tivesse uma casa com espaço para uma festa intimista, prefira usá-la em detrimento de qualquer outro espaço. Lembrem-se que esta é a celebração de uma vida em comum e que melhor sítio para a celebrar do que o sítio onde tudo se passou?

É um dia que ficará para sempre gravado nas nossas memórias! Vai ser um dia muito feliz que passamos juntos dos que mais amamos! Família e amigos!

O que desejamos do fundo dos nossos corações, é que toda a gente encontre a sua cara metade e viva um amor feliz! Porque é meio caminho andado para a felicidade!

Ouro é o metal escolhido para simbolizar uma convivência feliz e construtiva como a nossa, porque todos que convivem conosco sabem que somos um casal maravilhoso que percebem a riqueza deste amor dedicado que sempre tivemos em relação ao outro.

A felicidade que este amor de meio século irradia é algo maior ainda, pois nota-se que foi construída no dia-a-dia, com base num esforço solidário e comum que se nota cada vez mais raro atualmente, visto que nem todos os casais são capazes de enfrentar com esperança e dignidade as dificuldades que surgem, naturalmente, ao longo de uma convivência tão extensa!...

Nesta data feliz, fica evidente que sempre exercemos a tolerância mútua, sempre tivemos o cuidado de discutir angústias, incertezas e desesperos, que sempre tivemos o cuidado de preservar o outro lado de problemas menores, aqueles que cada um possa resolver por conta própria, mas o que fica mais evidente é que sempre exercemos o amor em sua forma mais pura e bela!

Nós soubemos transformar os obstáculos do caminho em pedras preciosas e, por isso, nós somos um exemplo de amor e união, nós somos exemplos de vida!

Realmente, é uma marca admirável, que chega a causar uma pontinha de inveja a muita gente, que tornam mais forte o desejo de que a felicidade de nós, possa ser contagiante e possa repetir-se com todos os casais do mundo!

Trocar de novo alianças, de ouro  é o nosso caso é uma tradição, para que fique como recordação das Bodas de Ouro. Vamos fazer um banquete onde se reúnam as pessoas (que podem ser ou não as mesmas que estiveram presentes no nosso casamento).

Para que não falte nada vamos ter um apoio, podemos preparar um álbum com as nossas melhores fotografias para ir comentando ao longo do encontro. Ou, então se preferirmos movimento, um vídeo onde se reúnam o mesmo tipo de imagens será um presente memorável.

Independentemente do tipo de celebração, o dia será, sem dúvida, muito emocionante.

Casados e Felizes, já passamos as bodas de ouro e encontramos uma valiosa ajuda para manter o nosso casamento. Elogios, romantismo, fidelidade, comunicação, amizade e renúncia são alguns dos elementos que, na minha opinião, solidificaram o nosso casamento. Mas há muitas outras coisas a fazer, dentro ou fora das quatro paredes, para que a vida a dois não seja um fardo difícil de carregar.

Nós tivemos o nosso amor de novos e, hoje, nós precisamos mantê-lo para nos acolher um ao outro nesta velhice que estamos caminhando. Deus é quem sabe quantos anos ainda vamos estar juntos.

Não há nada como acordar de manhã e olhar para nossa cara-metade. Principalmente quando esse amor dura há mais de 50 anos.


Operação à Cervical

A vida é uma Aprendizagem!

Reclamamos das rasteiras que a vida nos dá, ficamos  cheios de tristezas que insistem em bater na nossa porta, mas a verdade é que nos faça perceber que levantar é possível....

O tempo suaviza qualquer dor. Não digo que seja capaz de extinguir, pois algumas dores que carregamos pelo resto das nossas vidas, com certeza reduz as pontadas agudas. Mas qual seria a graça de uma vida sem nenhum obstáculo, sem qualquer sofrimento?

É claro que, quando algo de ruim nos acontece, ficamos arrasados e sem esperança de início. Não existe positivismo algum que seja capaz de fazer com que não nos abalemos com os tombos que a vida dá. Mesmo assim, o que determina o nosso reerguimento não é o que nos fere, mas a forma como cicatrizamos as nossas feridas.

Saúde e doença não são estados ou condições estáveis, mas sim conceitos vitais, sujeitos a constante avaliação e mudança. No século passado junho de  1988, fiz a primeira cirurgia à coluna. A segunda cirurgia foi à coluna dorsal  em dezembro 2020, esta muito complicada, fiquei numa cadeira de rodas. Recentemente, 18 de junho 2023, terceira operação à coluna cervical. Continuo numa cadeira de rodas.

Algumas pessoas encararam a doença como estado de desconforto físico. Porque a capacidade para trabalhar, ser produtivo e divertir-se está relacionado com a saúde física e mental da pessoa. É social, os meus problemas de doença têm afetado outras pessoas significativas, a família, amigos e colegas. O meu obrigado pelo vosso apoio…

Tive momentos de raiva e revolta onde a mágoa e o rancor se faziam sentir com intensidade, mas não ganhei nada com isso.

Hospital Egas Moniz Lisboa

A fé faz-nos acreditar, mesmo que no momento não estejamos a ver o caminho ou soluções. Mas é a fé que nos dá alento nos momentos e fases de maior dificuldade!

É tempo de parar, relaxar e desligar um pouco. É tempo para recuperar dos anos desafiantes que tenho tido. Tempo de trabalho interior árduo, feito por impulso da dor e da vontade constante de ser mais, e de ser feliz todos os dias. Sim, feliz todos os dias, por estar vivo e poder transformar-me sempre na melhor versão de mim mesmo; feliz por cair e levantar-me, por viver a tentar, a errar e tentar de novo sem nunca desistir do meu caminho. Feliz no meu defeito e na imperfeição dos que me rodeiam. Porque isto de querer ver perfeição em tudo só nos leva à frustração e ao sofrimento.

A vida "obrigou-me" a aprender a gostar de estar comigo acima de tudo. “Tirou-me quase tudo”. Foi difícil, mesmo com ajuda fundamental de quem me quer bem, mas o resultado tem sido simplesmente extraordinário, apesar de nem tudo ser como eu gostaria que fosse.

Foi isto que a vida me mostrou, com tanta sabedoria e paciência, sem nunca desistir de me ver vencer e de me ver mais feliz! Sorrir para às pessoas que não gostam de mim, para mostrá-las que sou diferente do que elas pensam, calar-me para ouvir e aprender com os meus erros. Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade, para que eu possa acreditar que tudo vai mudar. E não temer o futuro, a lutar contra as injustiças. Sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo.

Aprendi através da experiência controlar a minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. A nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo.

Restaurante S. Bartolomeu
Argoselo

“As minhas vivências pessoais foram e são sempre iguais”

Apôs esta descrição, concluo que o saldo da minha vida tem sido muito positivo, só para exemplificar: Não imaginava ter uma casa confortável, uma esposa sempre ao meu lado ajudando-me nesta altura bem difícil da minha vida, um carro, gente que gosta de mim e tantas coisas boas que aconteceram. Que mais posso querer eu? A não ser um pouco mais de saúde!... Por tudo isto, digo novamente, valeu a pena viver! Nesta história de vida tive oportunidade de fazer uma “radiografia” às minhas memórias e recordar todos os bons e maus momentos que me fizeram crescer como pessoa e como ser humano. Percorri todos estes anos com alguma nostalgia, mas sempre na luta por dias melhores, dado que a vida tem muitas curvas e cabe-nos a nós saber contorná-las.

Toda a vida requer responsabilidade, coragem, empenho e dedicação, se assim não fosse, não teria o arcaboiço psicológico para arcar com tanta adversidade que a vida me tem apresentado. Não deixo, no entanto, de equacionar o que seria dela se não seguisse estas diretrizes. Todas as etapas da vida são uma aprendizagem e as adversidades que ela me tem colocado, servem para fortalecer o meu carácter. Sinto, no entanto, uma gratidão enorme por todos os momentos de felicidade que a vida me tem proporcionando e assim ter força interior para conquistar a autoconfiança e a coragem que é necessária para encarar a vida com otimismo. Todos os dias, todas as experiências foram importantes para o enriquecimento da minha vida pessoal e profissional. O importante é que a vida nos ensina de uma forma ou de outra, que o importante é viver, é fazer o melhor em qualquer momento, e isso só cabe a nós mesmos…

As Minhas Filmagens
“Fiz tudo o que pude e estava a meu alcance em prol de Argoselo”

No entanto, grande parte das pessoas tem para além da vida profissional, um obi. Desde setembro (1966) comecei a gostar muito de áudio e vídeo. Fiz muitos filmes de 8mm, mas tornava-se muito difícil para os revelar, gastava muito dinheiro. Em (1980) apareceram as máquinas de filmar Beta e VHS. Claro, comprei uma, e desde então tornei-me num autodidata. Realmente tinha jeito para fazer coisas interessantes! Se não sabem, ficam a saber, eu desde sempre fui um obstinado defensor por Argoselo e continuo a sê-lo. Então, achei que o projeto era para o colocar mesmo em prática e assim aconteceu. Comecei então a filmar tudo o que em Argoselo se fazia ao longo do ano. Fiz um filme dei o título: (Usos, Costumes e Tradições) são sete capítulos todos comentados e escritos no (blogue São Bartolomeu Freixagosa) por várias pessoas da terra, com grandes conhecimentos das tradições. Este filme já foi exibido uma vez em (2015) nas festas de verão.

Eu nunca tive uma presença forte online. Dito isto, no geral sempre fui indo, com mais ou menos dificuldade, mas o essencial eu fiz, e consegui colocar o nome de (Argoselo em todo o Mundo) graças às imagens e paisagens que gravei e pulas a circular na internet pelas redes sociais, meios de comunicação de grande alcance. Agora sim, a Minha Terra está no Mapa! Deixo um vasto Património sobre Argoselo, para que gerações vindouras possam orgulhar-se desta rica herança, que os nossos antepassados nos deixaram. Gostava que esta geração mais nova, olhasse um pouco mais pela sua Terra, que fosse mais bairrista, sem azedumes ou murmúrios, haja só vontade e o querer disponibilizar-se. Nunca procurei protagonismo ou amizades por interesses, também não quero ser bajulado ou relevante, somente prestei um contributo à comunidade e à Terra que me Viu Nascer. Sempre expressei a minha preocupação perante pessoas, que só olham para o seu umbigo, sem que minimamente se preocupem com a comunidade.

Praça de Argoselo
É com enorme alegria que me revejo nas paisagens, tradições, festividades, usos e costumes, património natural e cultural de Argoselo, além de rever amigos, inclusive muitos que já não estão entre nós.

Sem o apoio e colaboração de muitas pessoas e entidades com quem contactei ao longo destes anos, este trabalho não teria sido possível. Esta é uma oportunidade para agradecer publicamente o estímulo e solidariedade que recebi de todas elas.

É com muito gosto que deixo ao Museu estas filmagens, Vídeos e Fotografias sobre Argoselo e suas gentes, como forma de partilhar convosco estas memórias, doando estes vídeos para que as nossas raízes e cultura sejam sempre lembradas e passadas às gerações futuras. Não podemos viver o presente, nem construir o futuro sem as bases do passado!

Este Memorial menciona pontos significativos das minhas vivências com familiares e amigos, Desta forma foi escrito, com base em reflexões críticas e fundamentadas sobre uma trajetória de vida e de trabalho. Não perder a motivação só porque as coisas não estão a correr como o previsto. Adversidade gera sabedoria e foi isso que me levou ao sucesso.

Ilídio Bartolomeu

30-12-2019









 















 




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