sábado, 31 de dezembro de 2022

A TODOS OS MEUS AMIGOS, PRÓXIMOS E DISTANTES!...


 

Dentro de alguns dias, um Ano Novo vai chegar a esta estação.
Se não puderem ser o maquinista, sejam o seu mais divertido passageiro. Procurem um lugar próximo à janela desfrutem cada uma das paisagens que o tempo vos oferece, com o prazer de quem realiza a primeira viagem.

Não se assustem com os abismos, nem com as curvas que não lhe deixam ver os caminhos que estão por vir.
Procurem curtir a viagem da vida, observando cada arbusto, cada riacho, beiras da estrada e tons mutantes da paisagem.
Desdobrem o mapa e planifiquem os roteiros.

Prestem atenção em cada ponto de parada, e fique atentos ao apito da partida.

E quando decidirem descer na estação onde a esperança lhes acenou não hesitem. Desembarquem nela os vossos sonhos…

Desejo que a vossa viagem pelos dias do próximo ano, sejam de Primeira Classe…

FELIZ ANO NOVO

 Ilídio Bartolomeu

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

ESTOU INDIGNADO


 

Estou indignado com o que está a acontecer ao meu país, estou indignado pela ausência de responsabilidade política dos diferentes governantes.

O governo deve ser responsabilizado pelos seus atos, tem a obrigação de explicar as suas decisões e as suas ações aos cidadãos. Deve ter como divisa a comprometimento, a honestidade, a integridade, a transparência. Deve guiar-se por normas de ética e códigos de conduta. Desta forma prova que se esforça por exercer corretamente as funções para que foi nomeado, que tudo faz para impedir a corrupção e assegurar que as autoridades públicas continuem conscientes e responsáveis das suas tarefas.
Governantes que deixaram o país à deriva, sem rumo à vista, políticos que têm exercido o poder de forma irresponsável e incongruente, devem ser responsabilizados pelas promessas que fazem e pelas decisões que tomam no exercício das suas atividades, no desempenho de cargos públicos.

Ilídio Bartolomeu

domingo, 25 de dezembro de 2022

Reflexão do Dia de Natal


 Hoje é o dia 25 de dezembro, o Dia do Natal. A maioria das pessoas está nos seus lares curtindo a Paz que a data induz, mas com certeza também sonhando com um mundo novo mais justo, sem guerras e sem desigualdades. Portanto julgo ser necessário lembrar um trecho da Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco:

“Sonhemos com uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos e irmãs”.

Um belo sonho.

Ilídio Bartolomeu

sábado, 24 de dezembro de 2022

O Tio Penhas Visita a Familia em França pelo Natal!!!


TIO PENHAS E TIA DEOLINDA

"As capacidades intelectuais como a espontaneidade, a imaginação, a observação, a perceção e o relacionamento social, inatas em todo ser humano, mas que necessitam desenvolver-se mais e mais, encontram nas atividades dramáticas o seu maior estímulo".

As habilidades físicas voz, olhar, gestos, movimento, equilíbrio, flexibilidade, expressão corporal e verbal desenvolvem-se através dos exercícios dramáticos.
Da união do corpo e da alma, tangidos pelo teatro, nasce a criação para tornar a vida mais rica e ativa.”

O Teatro é uma das mais antigas manifestações artísticas. É uma forma de representação, na qual um ou mais atores interpretam uma história para o público, com o objetivo de despertar sensações e sentimentos. Porém, o papel do ator vai muito além de aproximar outras pessoas. Atuar também é um exercício profundo de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Parabéns, vocês são dois excelentes atores!

Ilídio Bartolomeu

 

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

NATAL E O COMERCIO...

O Presépio

 “ O Natal é quando o homem quiser”. Na verdade assim é. Fazer bem sem olhar a quem, qualquer altura é boa, bem vista, bem aceite e digna de realce. A humanidade aceita e agradece. O Natal, visto como época, efeméride, festa, aniversário ou algo mais que desconheço, é fruto de uma velha tradição católica, de há dois mil anos para cá. A sua forma e notoriedade têm sofrido algumas metamorfoses ao longo do tempo. Antes era visto, puramente, como época de índole religiosa; hoje de índole religiosa e comercial. Parece absurdo e blasfémico misturar as duas índoles.

O ambiente envolvente criado pelo marketing é fascinante. Milhões de lâmpadas a piscar ou constantes em iluminações públicas ou privadas, com configuração de estrelas, árvores, presépios, renas, colunas ou arcos, é espetacular. A música nas ruas, avenidas, lojas e centros comerciais, alusiva á época, entra nos ouvidos com uma doçura, tão grande, que quebra qualquer coração, por mais duro que seja. Este marketing, consegue criar um ambiente de amor, de ternura e tolerância. Com amor e ternura, as pessoas aproximam-se. A troca de prendas é a prova disso.

 As mensagens de Natal, por qualquer via de comunicação, têm um sabor diferente do que se fossem recebidas fora desta época. As palavras ou frases podiam ser as mesmas, mas não entoariam da mesma forma. Não há dúvida, cada coisa na sua época. Ao contrário do que muita gente pensa, o marketing desenvolvido, á volta do Natal, não prejudica em nada o seu significado religioso.

 Antes, reforça-o. Há mais solidariedade com os pobres e sem abrigo, oferecendo-lhe uma refeição, decente, na noite de Natal. Os lares de idosos, hospitais, prisões e outras instituições de caridade, ou não, fazem a sua festa de Natal. Ninguém fica de fora. Ninguém é esquecido.

Se o Natal fosse só quando o homem quisesse, pode ser que fosse sempre, pouca vez, nunca ou se limitasse á consoada em família. Assim, há a garantia de que pelo menos uma vez por ano, há Natal para todos. Neste caso as índoles comercial e religiosa combinadas, resultam bem. O resultado desta combinação é o que de mais sublime se pode encontrar: Amor e solidariedade entre as pessoas. E, isto é NATAL 

BOAS FESTAS

Ilídio Bartolomeu


sábado, 17 de dezembro de 2022

OS SINOS DA MINHA ALDEIA!!!


Quando me mudei para a cidade em abril de 1965, a primeira coisa que estranhei foram os toques dos sinos da igreja a menos de cem metros de casa. Naquela altura tocavam as Trindades a chamar para a missa, anunciar mortes, batizados ou casamentos sem descortinar alguns desses toques a desoras, quando não eram chamadas para novenas ou outras práticas.

Os sinos das torres das igrejas foram, ao longo de muitos séculos, o principal meio de comunicação entre as populações, sobretudo as rurais.

A sua principal função era convocar os crentes à oração e participação nos atos variados litúrgicos. Por isso, eram inúmeros os toques: o sinal (variando conforme se tratasse da morte de homem ou mulher), à missa (se fosse dominical havia um toque: espaçado no tempo para que as pessoas pudessem gerir o tempo até à hora da missa), mesmo assim ainda muitas estavam de saída da tasca apressadamente rumo à porta da igreja, ao terço, a batizado, a casamento, a procissão, às Avé Marias, ás Trindades e outros que, certamente, não recordo. Na minha meninice era o Sebastião a que dominava superiormente todas estas melodias arrancadas dos dois sinos da torre. Hoje é são outros que, briosamente, tratam de nos anunciar quem morre e que  casamentos já não há.

Mas o sino também era utilizado para fins laicos: para reunir as pessoas para qualquer assunto de interesse público, para acorrer a uma aflição, nomeadamente quando havia um fogo que ocrriam mais nas casas que nos campos. Nesta circunstância toda a gente pegava em baldes e acorria a ajudar. Os sinos serviam, até, para quando o povo estava farto do padre, chamar o povo e pô-lo a andar. Por regra, os sinos da Vila, nos tempos que correm tocam aos domingos para a missa enquanto houver padre e alguém  conseguir subir os degraus da torre. 

Sábados e domingos há sons repetitivos e urgentes e esses, eu sabia, eram os do chamamento para a ancestral voz do povo que por eles sempre se regeu ao longo dos séculos para funções civis, religiosas ou até mágicas.

Os que primeiro começaram a desaparecer foram os toques de rebate em caso de incêndio ou outra calamidade. também já não se usa o toque para a escola e perdura sobremodo o toque das horas, a evocar os tempos em que as pessoas não tinham relógio e se guiavam pelo sol e pelas estrelas, os sinos eram parte integrante da vida das pessoas e foram celebrados como no poema “Ó Sino da minha aldeia” de Fernando Pessoa

Na cidade não há lugar para sinos nem seus toques, a cidade não tem tempo para essas ancestralidades arcaicas. Gente de modernices sem sentimentos pelas tradições, a que chamam poluição sonora.

E de lembrar-me, dá-me saudade

Ilídio Bartolomeu


quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

QUEM AINDA SE LEMBRA DAS JANELAS E DAS PORTAS...


O primeiro era o pai, pela manhã, que,  bacia na mão, lançava a água  da lavagem matinal, sem dizer água vai. Depois a mãe, a seguir o filho mais velho. Abre e fecha, abre e fecha que foi para isso que foi feita. Tinha uma cor de madeira muito velha, com veios como se de impressões digitais se tratasse. E tinha um pincho gasto pelo uso da mão e do polegar que de cada vez fazia um ruído metálico leve. Dava diretamente para a rua onde começava o mundo todo e que nessa altura era o largo e as histórias sempre iguais que nele se contavam.

Durante muitos anos, eu não entendia porque a propósito de amuos da minha mãe o meu pai a acusava de estar com o cu para a porta, como não entendia a sua esperança desesperada dizendo que quando Deus fecha uma janela abre  uma porta outra ou ainda quando as coisas lhe corriam bem dizia que nem sempre o diabo está atrás da porta. Não sabia o que é que as velhas portas ou janelas de carvalho tinham a ver com tudo isto porque haveria mais portas e janelas mas eu só conhecia aquelas.

Não sei se era por não entender estas coisas que o meu pai aborrecido me dizia: és mesmo burro como uma porta, ficando sem saber se o insultos era para mim ou para a porta. Ainda não sabia o que era Braga e já, na persistência de não fechar a porta, me perguntavam: - Mas tu és de Braga?

Era no tempo que as portas e janelas serviam e cumpriam, silenciosamente ou com um doce ranger, a função para que foram feitas: abrir e fechar separando a vida pública da vida privada. Volveram anos e ninguém mais abriu as portas e janelas até uma rajada de vento a escancararam e ficaram incomodamente assim sem ninguém se importar do dentro e do fora.

Ilídio Bartolomeu


ENTÃO, ESTÃO A VER DE QUEM É O BURRO!!!

Afinal o que o burro tinha mesmo era sede. E pelo que dizem ao animal não serve uma água qualquer. Tem de ser cristalina e calma e mesmo assim é conveniente incitá-lo com uma forma de assobio própria. Daí que quando uma pessoa bebia água, por vezes atrombando em rio ou presa, e se lhe queria eufemisticamente chamar burro se lhe assobiava a dita melodia ao que o visado respondia: Nunca a água me amargou quando o diabo me assobiou. E o outro retorquia-lhe: Não fosses tu marrano da pia que já ninguém to dizia.


Era assim mesmo: Para andar: arre e para parar: xó.. O exemplar que vemos na imagem terá acabado a sua jornada. Cabisbaixo tem um ar cansado. Talvez tenha passado a manhã a tocar a roda, dado trazer a melena. Também pode acontecer que olhe o chão em que se vai espojar. Quem poderá entender a vida profunda de um burro?


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

VILA DE ARGOSELO CULTURAL― BRINCAR É PRECISO

Primeiro Parque Infantil da Vila de Argoselo     

Este é o mais antigo escorrega da Vila, nas Eiras das Figueiras, concluído no século vinte. O barroco já ali tinha nascido há milhões de anos, uma oferta da natureza. Na minha geração e todas as gerações anteriores  nunca experimentaram o prazer de escorregar.

Eis que séculos   depois, tivemos o primeiro e único parque infantil constituído por um escorrega, por um baloiço e pela roda que vemos na fotografia. Difícil de imaginar o quão importante foi para as crianças que vivem ou visitam a Vila. Lá está, uma pequena obra muito importante.

Há sítios muito interessantes para a sua instalação – Eiras das Éguas― Prado e outros a sugeridos

 Obras de baixo custo com alta importância

Ilídio Bartolomeu


domingo, 11 de dezembro de 2022

CULTURA E TRADIÇÕES DE ARGOSELO PARA REFLETIR:

Olá! Hoje vamos refletir (pensar) um pouco sobre os costumes e tradições de Argoselo e perceber que os nossos costumes e tradições têm muito a ver com a comunidade da qual fazemos parte. O propósito é de fomentar uma reflexão sobre a importância das raízes culturais do nosso povo, no sentido da afirmação da sua identidade.

Nesse sentido, é primordial ter conhecimento e manter viva na memória as próprias origens. Quem não vive as próprias raízes não tem sentido de vida. O futuro nasce do passado, que não deve ser adorado como mera recordação e sim ser usado para o crescimento no presente, em direção ao futuro. Nós não precisamos ser conservadores, nem devemos estar presos ao passado. Mas precisamos ser legítimos e só as raízes nos dão legitimidade.

Era  gratificante ver os jovens preocuparem-se com o futuro da nossa cultura, termos orgulho das nossas raízes, cores, sabores, crenças... mostrando-nos que o único e tenaz caminho é assumir, espalhar e manter cada vez mais as nossas origens, para que só assim outros povos nos relacionem com respeito e admiração"

A partir dessas considerações, acredita-se, que é um tema relevante que pode levantar reflexões e discussões que possam vir a contribuir com o despertar da consciência coletiva sobre a importância das nossas raízes culturais. A cultura e as tradições são elementos constituintes de uma identidade local. Fazem parte daquilo que somos e daquilo que nos caracteriza, mostrando o passado, caracterizando o presente e perspetivando o futuro com alegria e fé.

Pensei então em criar o "Blog Freixagosa" e servir como uma ferramenta para divulgar as notícias, a história, as tradições e as curiosidades. Aqui o leitor vai encontrar vários textos para ler, resenhas e opiniões escritos por mim sobre Argoselo. Vamos pois todos juntos discutir as nossas expectativas, impressões e também  as deceções da nossa Terra.

 Encaro esta iniciativa como uma missão de serviço à nossa comunidade, quer informando, quer construindo um arquivo histórico para o futuro. Se tiverem fotos antigas, documentos, notícias e que queiram partilhar podem enviar para o email: argoselobartolomeu gmail.com é o blog que revela o verdadeiro espirito argoseleiro.

Argoselo Vila, não é particularmente rico em monumentos históricos tal como têm outras Vilas deste nosso País, mas tem alguns pontos particulares de elevado interesse para quem quer conhecer a civilização de um povo.

Impera de facto uma decisão dos nossos Executivos Local que valorize e promova os nossos pequenos mas, marcantes patrimónios. Louve-se a ação da Associação da Amizade, criada em volta desta antiguidade “Peliqueiro”, que teima em não deixar morrer este dever de memorias, que é de elementar justiça.

Anteriormente temos os vestígios da Sala Assombrada, Poço do Fumo e o Castro da Terronha, que merece ser lembrado. O que não percebo é a falta de interação que não existe entre os Executivos Local e os respetivos munícipes, para a promoção da imagem e cultura da Vila de Argoselo. De que nos vale querer ser um local turístico, se depois nós próprios não cuidamos daquilo que melhor temos para mostrar?! Não há turismo sem património, ou sem promoção e demonstração de cultura. Porque não fazer exposições de objetos banais  da  nossa Cultura e Tradições,   que os nossos antepassados utilizaram, “ São Pequenos Tesouros,” influenciando as pessoas que os tenham  para que se disponibilizem a oferece-los.

 O Património, pretende mostrar realidades que existiram. As exposições são excelentes meios de comunicação, construção de novos conhecimentos, a estruturação de novas representações e o desenvolvimento de valores e atitudes ao mesmo tempo que se apresentam como locais de lazer capazes de criar momentos de escape para os seus visitantes. O novo edifício-sede da Junta de Freguesia, é um bom espaço onde podem ser criados, promovidos e/ou apoiados diversos projetos.

A maioria dos Argoselenses, com toda a certeza não conhecem alguns destes patrimónios que aqui enumerei. E acredito que não é por falta de vontade, mas sim por falta de conhecimento da sua existência. A criação de um roteiro em volta do património edificado seria uma solução. Porém, tudo isto só é possível, se houver antes de tudo vontade e iniciativa forte em querer de facto promover e valorizar o que é nosso.

Muito do nosso património parece quase irrecuperável e vontade de intervenção urgente, realmente é pouca ou nula. São patrimónios únicos que deveriam ser preservados e conservados para as gerações vindouras. Temos esta obrigação em lhes deixar história e saber. Mas de facto a preocupação dos Executivos Local, não tem passado por aqui. O que tem interessado na realidade, é o chamativo aos votos o mais visível aos olhos do eleitorado Argoselense.

“Lutar para que as tradições não morram” poderia ser a máxima dos jovens e das Associações Recreativas e Culturais de Argoselo. Além disso, Argoselo é um lugar que tende a reviver o passado e honrar os personagens da história.

A minha opinião é que o meu tempo já passou, já contribuí com o meu dever cívico, mas não fecho a porta na totalidade, deixo-a só um bocadinho aberta. Acho que depois de mim não há pessoas muito interessadas em continuar este trabalho.

O seu comentário é muito importante!

Ilídio Bartolomeu

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

NATAL É TEMPO DE MEMÓRIAS E GRATIDÃO


O “Nosso Blog”, de Argoselo vem lembrar hoje todos os que aqui nasceram, todos os que aqui se batizaram, todos os que, de fora, a adotaram, todos os que aqui com suor e com trabalho ganharam sustento, aos jornaleiros de enxada, aos lavradores que com seus arados revolveram as terras, aos pastores dos animais a quem tratavam pelo nome, aos que, por ofício, tratavam dos outros por cuidarem de si: Alfaiates e sapateiros, tratavam das roupas e do calçado, dos albardeiros que faziam as mulidas, as albardas e outros apetrechos  para as mulas e cavalos. E os ferreiros que com a forja amoldavam o ferro, sem o qual a aldeia seria uma impossibilidade: nem martelos, nem foices, nem facas, nem sovelas, nem gadanhas e nem ferraduras.

E os latoeiros, do tempo que não havia plástico, que tornavam a vida funcional com o vasilhame ― (latos) baldes, regadores, caldeiras, cântaros, copos, jarras, funis, candeias, lanternas, enchedeiras e enxofradeiras etc.

E os barbeiros que trataram das nossas cabeças! E todos os ofícios aqui não nomeados. E todos os professores e professoras, (regentes também) os de boa e má memória que a bem ou a mal ensinaram os que podiam ir à escola. Lembro-me com extrema saudade da minha primeira professora: Dona Maria Cepeda. Mulher maravilhosa, transbordante de amor e de dedicação na condução dos ensinamentos que ela pacientemente transmitia á nós, seus pequenos alunos. O meu preito de gratidão e de saudade, e aos párocos a quem incumbia  dar sentido à vida de todos.

A todos os que no século passado tiveram de emigrar, e foi a maior parte. E aos poucos que cá ficaram e preservaram a continuidade.

Desde que iniciei este texto, que insistentemente, estão a bater à porta da memória:  E as mulheres? De propósito, deixei para o fim o mais importante. Ninguém está presente como elas: Guardam-nos nove meses em seu ventre, dão-nos ao mundo mas continuam junto de nós, cuidam de nós, alimentam- nos e protegem- nos. São elas que tecem a vida e a cultura. Acendem o lume, fazem o caldo, amassam, esticam e cozem o pão, lavam a roupa que cosem e remendam; e tratam do linho que maçam, espadelam, fiam e tecem; e espalham riso, lágrimas e ternura e contam as mesmas histórias de sempre.

A todos, aos ausentes, também. Mas, de um modo especial, àqueles que vivem em permanência na Vila, porque sem eles o que seria a Vila?

BOAS FESTAS E UM ANO NOVO PROSPERO

Ilídio Bartolomeu


sábado, 3 de dezembro de 2022

ALEGRIA EVITA MIL MALES E PROLONGA A VIDA....


 

Para viver bem a vida, devemos ter sempre em mente que a melhor maneira de consegui-lo, será tratarmos as demais pessoas, como gostaríamos de ser tratados... Com certeza, uma vez dado este primeiro passo, os demais serão mera consequência... Ósculos e amplexos … o ideal é poder viver agradavelmente…

Não há nada melhor do que conseguir viver de uma maneira amena, agradável, sem muitos problemas, sem dívidas, com a saúde perfeita, muitas e boas amizades e mais algumas coisinhas que não me ocorrem agora. Só que nem sempre, e porque não dizer, dificilmente conseguimos chegar a essa fase de plenitude total.

Possivelmente pela nossa maneira de encarar a vida, nunca estaremos totalmente satisfeitos com a nossa situação atual, por melhor que ela esteja. Estamos sempre à espera que venha uma ajuda de Alguém acima de nós, para que tudo nos venha às mãos, conforme os nossos desejos... Contudo, poderemos facilitar um pouco a tarefa Desse Amigo. Basta um pouco de boa vontade da nossa parte, observando algumas atitudes que poderemos tomar e que poderão aplanar o nosso caminho, pois acontece que por vezes temos problemas de comunicação e reclamamos de não ser bem compreendidos, mas na verdade, ocorre que precisamos saber falar com as pessoas, devemos saber expor claramente as nossas ideias e ideais, procurando, se for o caso, adapta-las à situação de momento, para que sejam possíveis. Se não conseguirmos comunicar com clareza, tudo ficará mais difícil. Assim sendo, é importante expressarmo-nos claramente.

Muitas vezes, a procura do sucesso na vida, impede-nos de vive-la adequadamente, pois na ânsia de conseguir atingir determinado status, abrimos mão de alguns prazeres, apenas dedicando-nos ao trabalho. Sem dúvida que é importante chegar-se ao topo, mas de uma maneira racional, sem que sejamos obrigados a privar-nos de muitos gozos, ou pior ainda, atropelando quem estiver à nossa frente, derrubando por vezes quem merece a nossa consideração, naquela ideia egoísta de que os fins justificam os meios. Nada pior do que esse tipo de pensamento. É importante entender que devemos usar a nossa energia interior de uma maneira mais adequada.

Na realidade, é muito mais importante fazer as coisas que nos possam dar prazer, pois nada tem graça se não for bom para o corpo, que não seja leve para o espírito e agradável para nosso coração e assim, devemos saber usar a nossa energia para fazer algo que realmente queremos e desejamos fazer, que nos faça felizes e que nos possa ajudar a fazer outras pessoas felizes.

Não podemos ter muita pressa para conseguir as coisas, mas devemos tentar, mesmo sem esperar que o sucesso venha logo da primeira vez. O que sempre deveremos manter é disposição para tentar novamente e para tanto, deveremos cuidar da saúde, para que não nos falte força para continuar tentando, com paciência e determinação. Devemos ter versatilidade para mudar o nosso alvo se as coisas se complicarem, não desanimando com eventuais erros ou fracassos. Temos que aproveita-los para aprender e não mais cometer os mesmos erros, conservando sempre a ideia de que o simples facto de estarmos vivos já é uma vitória, devemos ter sempre como meta a nossa vida procurando vive-la da melhor maneira possível, aproveitando a oportunidade que temos de ainda ter forças para tentar sempre algo a mais. E isso só será conseguido, se, pelo menos no nosso interior conservarmos a alegria de viver. Por pior que esteja a situação, por maiores que sejam os nossos problemas, somente poderemos resolve-los se não deixarmos que se apague a nossa luz interior.

Nunca deveremos iludir-nos, pensando que conseguiremos fazer tudo num dia só ou quando tivermos todos os recursos para tenta-lo. Devemos habituar-nos a conseguir as coisas paulatinamente. Cada dia tem apenas 24 horas. Vivamos um dia de cada vez, e para manter a nossa motivação, devemos sempre ter algum sonho para realizar. Algo em que pensar. Uma meta para ser atingida. E uma dessas metas, com toda a certeza, é viver um dia de cada vez, que deverão ser bem aproveitados para que possamos repeti-los na nossa vida.

 

Ilídio Bartolomeu

terça-feira, 29 de novembro de 2022

AFINAL O QUE TEM A VILA DE ARGOSELO A OFERECER?

Os tempos são de muita preocupação. Hoje, proponho uma análise diferente. Não falemos de caras políticas, mas falemos de feitos políticos: O que foi Argoselo, o que é Argoselo e o que pretendemos que seja.

 Por muito que nos custe admitir, Argoselo tem vindo a perder a sua identidade ao longo dos tempos, limitando-se a erguer-se em alguns eventos sazonais que aumentam a agitação e dão vida á Vila. Se retirarmos estes eventos, e falo da Feira da Rosquilha e das Festas de Verão, qual a identidade da Vila de Argoselo? O que faz com que as pessoas queiram morar em Argoselo e queiram cá construir a sua casa e criar as suas famílias? Infelizmente, neste momento, não consigo responder e talvez esse seja o principal motivo que leva os nossos jovens, a rumar a outras cidades e a fixarem-se noutros locais.

Argoselo parece perder-se numa tentativa frustrada de ser tudo quando, no final, não tem vindo a ser nada. A culpa? De todos os executivos que pela Junta de Freguesia passaram e que se encontram mais preocupados em reabilitar pequenos espaços públicos, o que tem o seu valor e não deixa de ser importante para uma Vila, mas que faz esquecerem-se do primordial, que é definir a identidade da própria Vila e, por conseguinte, criar verdadeiras políticas que fixem determinado grupo de jovens que permitam, assim, o crescimento.

A identidade que daria á Vila pode não ser a mais poética, mas seria aquela que faria a nossa Vila crescer. Argoselo não é uma Vila turística, apesar do esforço do presente executivo para tentar que o seja. Argoselo também não é uma Vila de serviços. Argoselo é uma Vila cuja maioria do espaço físico é coberto por terra, casas e árvores. A resposta é simples: Argoselo tem de criar condições para que os pequenos agricultores e para que as pequenas indústrias se tornem ainda maiores. Têm de existir políticas municipais voltadas para a agricultura e para a indústria, medidas essas que incentivem ao investimento e à criação de novas oportunidades. A indústria, principalmente a indústria mineira, já foi em tempos bastante competitiva na nossa aldeia e, infelizmente, com a economia instável veio a ser encerrada. A agricultura, por outro lado, sempre foram desvalorizadas na discussão política local e concelhia.

A cultura e as tradições são elementos constituintes de uma identidade local. Fazem parte daquilo que somos e daquilo que nos caracteriza, mostrando o passado, caracterizando o presente e perspetivando o futuro.

Argoselo não é particularmente rico em monumentos históricos tal como tem outras Vilas do País, mas tem alguns pontos particulares de elevado interesse.

 

Ilídio Bartolomeu

 

sábado, 26 de novembro de 2022

RECLAMAMOS POR TUDO E POR NADA!!!

Nunca estamos satisfeitos com a vida que levamos, isto é um facto!!!

Sempre temos algo a reclamar, reclamamos por que não temos isto, reclamos do que somos, reclamamos por que queremos aquilo, ficamos tristes por não progredir nesta vida por ficarmos estagnados numa inércia ao passar dos anos, enfim somos seres racionais, nunca estamos contentes com nada!!!

Porém depois de duas reportagens que eu vi, na televisão, de pessoas que nasceram sem os seus braços vivem normalmente, escrevem com os pés, abrem as portas com os cotovelos, tocam baterias, ajudam em casa, surfam no mar, enfim eu fiquei emocionado!!

Muitas pessoas ao verem falam, coitado é um deficiente, vai sofrer muito nesta vida com as suas limitações, nada disso!!! Quanto mais adversidades a pessoa venha ter na vida, mais fortalecido ela fica!!!

Pois a fé deles é enorme e inabalável; Porque eles vivem o dia a dia, segundo a segundo, como se fosse o melhor dia da sua vida, a cada atitude, a cada ação conseguem uma vitória.

Estas pessoas que sofrem tentando, superar as suas limitações não há tempo mau, estão sempre com um sorriso nos seus lábios, felizes e fortes!!!

Realmente é uma lição de vida, saber que quanto mais dificuldades estas pessoas venham a ter na sua vida, mais fortes elas se tornam, é fantástico a força de vontade que estas pessoas possuem, fico perplexo quando os vejo fazer coisas, que muitas pessoas normais não são capaz de o fazer, pois é na dor que eles se fortalecem, quanto mais difícil está a ser a sua situação mais forças eles arranjam na gana de vencerem na vida, a vontade de viver, a sua fé, a humildade que possuem, tentando passar a sua história de vida não para as pessoas ficarem com dó, mas sim para mostrar que sim é, possível ser feliz!!! Nestes momentos temos que ter fé, pois quem acredita sempre alcança!!! A Felicidade está no sorriso da criança, que por mais doente que esteja é feliz!!!

Pergunto-me: donde vem esta força da vontade das pessoas que fazem tratamento contra  cancaros  e leucemia? Realmente eu não sei!! Só sei que me envergonho muito, pois reclamo muito da vida injustamente!! E você não é feliz com a vida que tem? Sente que lhe falta algo na vida? Está depressivo, porque?

Eu procuro sempre agradecer a Deus por mais um dia de vida, agradeço pelo prato de comida que sempre tenho na hora do almoço, pelo café da manhã e pelo jantar, procuro ser grato com Deus, com a vida!! Acorde amigo ou amiga, antes que seja tarde demais!!! Se  não tem nenhuma deficiência, seja feliz, tem dois braços, duas pernas, anda sozinho/a, vê bem tudo, ouve, fala, estuda, trabalha, isto é o que importa, é lindo ver um pôr do sol, como é fantástico ouvir o cantar dos pássaros, sentir o cheiro da relva, sentir a brisa do orvalho, como é maravilhoso poder ir para qualquer lugar que quiseres, correr  e viver!!! como sou injusto com Deus, praticamente peço mais do que agradeço, assim são os seres humanos, só se preocupam em pedir nunca agradecemos o que temos e o que somos!!!

Enfim tudo tem sentido na vida, cada ação tem a sua reação, se praticares boas ações terás uma vida louvada, dê graças e acorde enquanto há tempo!!! Faça a sua vida valer a pena!!!

A Vida é repleta de desafios, temos que os vencer dia a dia, a cada vantagem vencida mais alegre ficamos porém, se cairmos e se estivermos mergulhamos numa forte depressão e tristes lembrem-se: pensar positivo, pois os pensamentos tem poder, mas nós é que temos que domina- los!!!!

Estas pequenas ações, como abrir uma torneira, abrir a pasta dos dentes, atender o telefone é que faz a vida ter sentido para estas pessoas deficientes, tudo é vitória, o importante é ser, boa pessoa, ser amigo, ter fé, ser humilde, ser simples, ser sincero e sempre em busca da felicidade!!!

A vida é muito curta, Deus nos deu a vida, nós escolhemos os nossos caminhos, traçamos as nossas escolhas, vivam de modo o vosso caráter e não sejam afetados. Sorria mais, seja mais alegre, escute mais, saiba ouvir conselhos, vivam com humildade!!

 

Ilídio Bartolomeu

 

domingo, 13 de novembro de 2022

"O Tio Penhas no Dia de S Bartolomeu com o Tio Chegato"



DIGNO DE TANTO LOUVOR!!!

“É com um «sentimento de alegria e gratidão» “A criação, quer como autor e ator, quer como encenador, Domingos Ferreira tem um prazer, uma alegria, uma felicidade individual e coletiva que naturalmente se entrega ao público.

Este teatro que aqui se apresenta tem como linha orientadora a análise dos valores e das práticas que consolidam a Associação e Recreativa Peliqueira na sua comunidade. Parti para o estudo desta problemática movida pelo interesse em conhecer o papel de um grupo de teatro de amadores, numa comunidade pequena e rural, na formação pessoal e social dos indivíduos. Os objetivos definidos e que este trabalho persegue são a descoberta da história do Tio Penhas, a compreensão da sua ação à luz do exercício dos valores humanos e a identificação dos mecanismos de participação cívica de uma comunidade concreta.

Como Argoselense estou muito orgulhoso…

Muitos Parabéns 

IªPARTE

 

terça-feira, 8 de novembro de 2022

CASA ABANDONADA FONTE DE PARASITAGEM...

O estado do edifício que ainda existe no centro da Vila, se antes estava horroroso, então agora ficou aberrante. A reminiscência deste antigo solar desabitado e deixado ao abandono e à mercê das forças da natureza há mais de quarenta anos, salta à vista de todos aqueles que por ali passam, apesar da vontade dos munícipes de querer dar nova vida a este lugar vazio e desocupado, que não impede o habitat  das ratazanas e outras espécies de bichos.

A Câmara de Vimioso, o que tem aludido ao Presidente da Junta de Freguesia e por sua vez, à sua população, é que não há nenhuma lei para controlar estes espaços de forma alguma, pois são propriedade privada: “Se um proprietário não mora ou aluga, a decisão é dele,  a Junta de Freguesia, pouco ou nada pode fazer para sancionar os proprietários destes imóveis.

A situação muda quando se trata de casas patrimoniais abandonadas que se degradam ao longo do tempo, como por exemplo a “Casa dos Quinas” pois existe uma Portaria de Áreas Históricas, através da qual se obriga, em teoria, porque normalmente isso não acontece, que o proprietário invista na manutenção da sua casa.

Bem, se não há uma norma que sancione o dono desta casa no centro da Vila, é fundamental a união e a organização do povo e protestar, não há outra maneira nessas situações. Esteticamente dá uma aberrante imagem á Vila, e além disso, a  casa só serve de covil às ratazanas e afins. Por isso as pessoas não podem ficar acomodadas, já que consideram o espaço desolado e que representa um foco de parasitagem  que põe em risco a saúde  e a segurança das pessoas que lá vivem e as que frequentam o local. Nesse sentido, há que fazer um esforço para coordenar ações conjuntas entre todos os munícipes.

Se a Câmara Municipal, não tem competência para exigir ou intervir. O Presidente Zé Miranda, não pode ficar indiferente a esta situação, se não está a comungar do mesmo conceito do Sr. Doutor Presidente da Câmara Jorge Fidalgo, ao não reconhecerem a péssima imagem que só serve para denegrir a Vila. Para a população e quem por aqui passa, é  uma vergonha  ver há tantos anos sem que haja uma solução a dar a este triste espetáculo.

 Ao deitar parte da parede abaixo, podiam ter determinado desterrar tudo, ficava melhor, como até satisfaria a vontade do Povo.

 A Câmara para ordenar deitar abaixo metade da parede do prédio, notificou o proprietário? E estes custos foram debitados ao proprietário? “Se disto nada foi necessário”, a Câmara, não fez os enseios do povo, ao não dar ordem para desterrar logo tudo? Ou está à espera que o proprietário seja um benemérito para que faça uma doação da casa ao Povo? Bem podem esperar sentados até que suceda tal nobre proeza.

 Sr. Doutor Presidente Jorge Fidalgo, dos munícipes desta Vila de Argoselo, tenha em atenção que os votos também são consoante os ventos: “A violência nas mãos do povo não é violência, mas justiça”.

As Leis são para todos cumprirem; sejam pessoas Comuns,  Juízes, Presidentes de Câmara, Primeiros Ministros ou Presidentes da Republica, Lei é Lei. E o Município de Vimioso, tem a obrigação de notificar os proprietários da casa para que a mantenha em condições adequadas, justamente para não gerar doenças ou insegurança. Caso contrário a empresa municipal deve intervir encarregando-se das obras correspondentes, e os custos devem ser suportados pelo proprietário em tempo oportuno.

Acreditamos que uma sociedade civil comprometida e unida pode alcançar coisas incríveis.

 

Ilídio Bartolomeu 

 

sábado, 29 de outubro de 2022

PARTILHAR MEMÓRIAS

O ex-libris desta Vila é o Serro

Eu, me declaro: sou “Perro, nasci na Terra dos Peliqueiros” e aqui regresso sempre, porque aqui me sinto em casa, é a minha sede, a capital do meu mundo. A Terra que os meus pais me ensinaram a amar, respeitar e fazer bem sem olhar a quem. Num dia sem nuvens, de garotos subíamos ao  Alto do São Roque onde uma vista magnífica se avistavam as aldeias vizinhas podendo observar a imensidão do universo, uma singular beleza da natureza. E também não esqueço as vezes  aos domingos as idas por vale magas ao Planalto de São Bartolomeu! além de apreciar as belas e as sensacionais  paisagens incríveis e únicas! Aparte de todo o culto religioso, este Santuário está num local privilegiado, com uma vista sobre o vale do Rio Sabor, de beleza inigualável. Este local convida assim a uma visita obrigatória para desfrutar da paisagem em qualquer altura do ano. O contacto com a natureza é tão intenso, que um simples passeio pode proporcionar belas visões. Não deixa ninguém indiferente.

Sou um filho da Terra, aqui fiz os meus primeiros amigos, aqui me fiz jovem, jogávamos à bola, o fito, a relha, a corda, o bilro, ao cântaro e percorríamos inúmeras vezes as ruas da aldeia à bucha nova. Esta capacitação estava mais orientada para os jovens e adultos que não tinham ainda um percurso profissional definido. Mas também na altura, se integravam pessoas de diferentes condições sociais, etnias. Esta era uma forma de comunicar o potencial de identidade da aldeia, através da união entre tradição e a mudança.

Esta reativação dos jogos tradicionais, podiam muito bem resultar em momentos e eventos que se promove e valoriza este importante património e cultura.

Não esqueço que nesse tempo, nem todos tivemos as mesmas oportunidades. Não esqueço que muitos tiveram de abandonar o seu percurso mais cedo do que deveriam. Não esqueço que nesse tempo a estrada que nos liga à cidade, tinha mais buracos do que os famosos queijos franceses. Não esqueço que a minha Terra sempre foi uma Terra de gente, que tem de procurar fora o que a terra não tem para oferecer, somos uma Terra de emigrantes. Não esqueço que vivi numa Terra desigual em que progresso chegava sempre mais tarde.

E se eu não esqueço a “minha Terra”, a casa onde nasci e cresci, que me faz recordar um passado feliz e tudo o que ali vivi, obviamente que não posso esquecer as festas do mês de Agosto, não me esquivando, sequer, à obrigação social que tenho para esse Inesquecível Local.

E, aqui, não posso esquecer, se os meus pais me incutiram, entre outros, os valores da identidade e da disponibilidade para colaborar com a comunidade, não é menos verdade que me sinto muito feliz por perceber que,  pelos meus pais, tudo isso tenho vivido com especial afetividade.

Venho reforçando a ideia de que a idade é sinónimo de sabedoria. Tenho a esperança de chegar a este clube dos maiores de 75 anos, composto por pessoas que muito prezo, que já dobraram o Cabo da Boa Esperança e o Cabo das Tormentas”.

“Cada um de nós é uma enciclopédia viva”, continuo defendendo que “mesmo os que não tiveram a oportunidade de fazer grandes estudos, frequentaram a ‘universidade da vida’, com aulas diárias, de sol a sol, sem direito a férias e com exames todos os dias. E assim fomos adquirindo conhecimento e acumulando memórias de factos muito diversos”.

Saliento que as recordações, que muitos Argoselenses guardam, “fazem parte da nossa história, da nossa vida e da nossa Terra, que muito amamos”, sendo esta obra “uma herança para os nossos filhos, os nossos netos, para as gerações vindouras”.

A lembrança é o que fica daquilo que partiu, daquilo que já não é mais. Lembranças é ausência, é o sentimento de vazio que fica daquilo que se foi. Mas às vezes, a lembrança é um vazio tão grande que ocupa muito espaço dentro do coração, e aperta tanto o peito que acaba transbordando e escorrendo pelos olhos.

 

Ilídio Bartolomeu

 

sábado, 22 de outubro de 2022

A HISTÓRIA DE UM MIGRANTE PARA FRANÇA...


Os anos 60 e início dos anos 70 são caracterizados por uma forte emigração portuguesa para a Europa, não só para trabalhar, mas, também, para fugir à guerra colonial

«A minha ida para França » é uma história de vida contada na primeira pessoa, Horácio Silva, recorda o «salto» para França no ano de 1963. Estava sempre a ouvir que por lá se ganhava muito dinheiro.

Para sair daqui era preciso ajustar com o «passador», dentro da complexa maquina do «salto» (assim se chamava a partida clandestina) o preço monetário a pagar, na altura em média era 10.000$00, porque o resto poderia custar muito mais.  Mas Horácio Silva sabia-o e não hesitava, a decisão de procurar outra maneira de ganhar o sustento da família era profícua… não havia outro caminho a seguir. Dava logo metade do dinheiro antes de sair, comigo levava uma fotografia e quando lá chegasse rasgava a fotografia ao meio, dava metade ao «passador» para entregar à família para poder receber o total do dinheiro.

Assim, com alguma roupa preparada, só o indispensável e alguma coisa para comer, parti da terra que me viu nascer pelo silêncio da noite; deixando para traz a melhor fortuna que tinha…mulher, filhos e família. Comigo, iam mais 6 pessoas. Saímos da aldeia em direção à Espanha. Fazia bom tempo caminhávamos só de noite e apanhámos chuva em Espanha.

A primeira noite chegamos a Salamanca sempre a andar pé.  Fomos para um hotel e estivemos lá três dias a jogar às cartas, ao montinho com castanhas que apanhámos no caminho. Depois saímos de Salamanca, fomos para um palheiro onde se encontravam mais vinte homens que já ali estavam há 10 ou 15 dias, cheios de fome. Aqui  deram-nos de comer a todos uma feijoada, numas cortelhas onde havia só porcos. Dormimos e comemos lá no meio deles, enchemos a barriga. Até aqui, o nosso «passador» acompanhou-nos sempre, daqui em diante entregou-nos aos espanhóis, iam passando de uns para os outros.

Daqui para a frente, tivemos que atravessar um rio a pé, ficámos todos molhados, a roupa enxugou-se no corpo até entrarmos para uma camioneta de transporte de animais, para irmos misturados, e assim fazermos  a travessia de toda a Espanha. Para estes homens zeladores que nos transportavam, eramos rotulados como «borregos» para ludibriar as autoridades espanholas para não revistarem o camião.

Ainda nos encontrava-mos  em território espanhol, quando  os carabineiros mandaram parar a camioneta e disseram para abrir as portas, ficámos todos caladinhos, cheios de medo a ouvir os guardas falar com os «passadores». Calhou a ser num sítio em que havia muito transito e talvez tivesse desviado as atenções dos carabineiros mais para o transito, se não estávamos desgraçados. O cheiro era insuportável, uns cagavam aqui, outros mijavam além. Eu tive que rasgar o forro da camioneta, fazer lá um buraco, não se aguentava o cheiro e o calor.

Estas viagens levavam alguns dias e por vezes até mais de uma semana, consoante as dificuldades ou facilidades que se deparam, muitos fatores e  pormenores tinham que ser conhecidos e ponderados, o que por vezes obrigava a atrasos. Uma vez chegados ao destino desta segunda etapa da viagem, próximo da fronteira Francesa fomos novamente descarregados junto com os animais para outro lugar onde aguardamos as ordens dos «passadores».

Desde que entravamos em Espanha  eram os  espanhóis que se entregavam das  operações, embora seguidos à distancia pelo nosso «passador» angariador dos mesmos.

Nova noite, nova aventura o que seria a final etapa para o escape além Pirineus. Era a travessia  destas montanhas rudes e rochosas tantas vezes geladas e cobertas de neve, que tivemos suportar a pé pela escura noite, que eram mais temidas, pois historias se contavam e muitas verídicas, de que  os que se recusassem ou arrependessem da travessia ou por qualquer motivo sofressem qualquer acidente que os impossibilitasse de se moverem pelos seus próprios meios, eram mortos a tiro ou abandonados  na montanha. 

Verdadeiras ou não estas afirmações, constavam em todo o distrito de Bragança. Quantos corpos de compatriotas nossos não foram encontrados nestas montanhas ou desapareceram? Seria preciso  entrar em muitos detalhes, pormenores e averiguações para se constar quantos foram, mas… foram alguns. E todos os que passaram por estas andanças o sabemos.

Este fator atormentava muitos dos que seguiam a aventura, se seriam ou não forçados a seguir a rota a pé, pelos Pirineus, mas não havia garantia, pois eles nunca sabiam qual a modalidade escolhida pelos «passadores».

Uma vez entrados em território francês continuávamos a não estar seguros. Isto dependia das leis em vigor de acolhimento aos emigrantes em França. Havia ocasiões  em que eram aceites mesmo indocumentados, desde que tivessem a confirmação de um lugar certo de trabalho, noutras eram  mesmo postos fora do país, noutras eram  aguardados ou guiados por Portugueses ou Espanhóis para os levarem às autoridades francesas, as quais lhes davam um salvo-conduto até chegarem ao local de trabalho,  que muitas vezes era arranjado previamente por esses intermediários, a troco de mais uns milhares de escudos ou francos, e assim chegavam  ao desejado destino depois de uma aventurosa viagem de fuga à miséria e à guerra colonial em África.

No dia seguinte logo fiz uma barraca, no outro dia, o Zé Júlio da Arrifana veio-me a buscar para o patrão. A partir daí não estive um dia sem trabalho na França. Oito dias depois de dormir na barraca, o patrão logo me arranjou alojamento.

Uma vez chegados ao local de trabalho, uma dura vida nos esperava.  Alguns ficaram em Saint Denis mas, nós os de Argoselo, combinámos a levarem-nos a Paris. As primeiras dificuldades; a língua, o isolamento a que éramos forçados, trabalho duro na agricultura, construção civil ou obras publicas, como pontes, tuneis, estradas, caminhos de ferro, eram os trabalhos que esperavam o emigrante português, explorado ao máximo pelos patrões. 

A francesa onde trabalhava, arranjou-me um terreno onde construí barracas que depois eu as alugava a outros. Mais tarde acabaram com as barracas. A mim deram-me 200 francos para deixar as barracas e ir para um apartamento. Ganhava 96 francos e pagava 60 de renda. Bastava assinar em como tínhamos alojamento, logo nos passavam o «rapicé» que era o primeiro documento, antes da «carta de séjour». O consulado dava o salvo-conduto.

Assim passavam os primeiros anos, trabalhando horas a mais do que o normal, muitos vivendo nas piores condições em velhos alpendres, carruagens etc, fazendo o próprio comer e lavando a própria roupa. Esta fonte de mão de obra barata interessava aos franceses.

E os emigrantes da França que conheçam  as dificuldades e perigos desta vida, saberão bem avaliar isso ...  ao fim e ao cabo acabarão por reconhecer que não foram mal empregados os milhares de escudos dados ao «passadores» pois sem eles era impossível a muitos emigrantes atingir o que desejavam, para obter uma vida melhor e muitos não estariam hoje na situação desafogada em que se encontram.

Enfim, há uns anos para cá, a forma é já mais digna de tratar um cidadão, pelo menos já não é necessário fugir como que um ladrão ou criminoso ou misturado com os animais. Seria necessário entrar em detalhes pormenores para se descrever o que os primeiros emigrantes passaram, desde as viagens do «salto» até as condições de trabalho e viver o que tiveram que enfrentar.

Entretanto as aldeias deste Portugal do interior ou melhor rural, porque nem só do interior emigraram, iam-se tornando despovoadas, como que povoações fantasmas e quem as percorre  apenas vê  uma ou outra pessoa a maioria  já de idade avançada, espreitando uma réstia de sol.

 

Ilídio Bartolomeu