sábado, 20 de abril de 2024

A ENERGIA DA PRIMAVERA!


 

Assim como as estações do ano promovem um equilíbrio na natureza, é fundamental que cada um de nós tenha um equilíbrio energético nas diversas áreas da vida, incluindo a profissional, emocional, familiar, social e espiritual, além de uma sintonia com o universo.

Ou seja, devemos experimentar todas as particularidades que as estações do ano oferecem, como os momentos de introspeção, explosão, plantar e colheita.

Para sair do desequilíbrio que vivemos ocasionalmente e voltar aos eixos, é preciso descobrir o que necessitamos para estar bem. O meu equilíbrio, por exemplo, é Deus, que me dá energia e força para que eu seja uma pessoa centrada, com foco nos meus objetivos pessoais e profissionais. O ponto de equilíbrio varia de pessoa para pessoa, mas o importante é que cada uma encontre o seu.

A primavera ensina que devemos estabelecer uma conexão com a nossa espiritualidade e com a natureza, para que possamos nos conectar com o próximo e o mundo. Afinal, a natureza é feita nos mínimos detalhes, com cores, formatos e aromas variados, e temos que aproveitar essas particularidades.

O momento atual, marcado por intolerância e polarização política, é perfeito para colocarmos esse ensinamento em prática, porque, mais do que nunca, temos que respeitar verdadeiramente as diferenças e a opinião do outro. Isso é fundamental para que possamos ter paz interior e exterior.

Assim como as estações, a nossa vida é cíclica e temos que aproveitar as características particulares de cada momento. Os detalhes são importantes tanto na esfera individual como no mundo dos negócios, porque são eles que fazem a diferença e tornam especiais as empresas e as pessoas. Portanto, deixe que a vida faça consigo o que a primavera faz com a natureza. Floresça, ilumine-se e aproveite a energia restauradora.


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terça-feira, 2 de abril de 2024

DESABAFAR... TEM UM GRANDE PODER DE ALIVI0!

Hoje resolvi falar um pouco de mim, à minha maneira... Nem sei ao certo se sou bem assim, admito que acho difícil fazer uma definição de mim mesmo... Não gosto de falar sobre qualidades e defeitos... prefiro que as pessoas me conheçam e tirem as suas próprias conclusões... Não aceito qualquer julgamento, até porque não julgo ninguém, não me permito fazer isso porque sou tão ser humano como qualquer outra pessoa. Procuro plantar e semear bons frutos sempre por onde vou, pois acredito fielmente na lei do regresso.

Para começar: sou um ser humano normal, tenho defeitos, qualidades, desejos, sonhos, medos, vontades... Não sei para quantas pessoas sou realmente especial, nem sei da intensidade desses sentimentos de verdade, prefiro não saber, para mim a vida tem mais graça assim. Só posso falar por mim, só sei de mim, é à minha consciência que devo ou não alguma coisa. Às vezes posso parecer um espalha brasas, mas penso que não! Sei que é impossível agradar á todos, mas faço a minha parte, tento sempre ser uma pessoa agradável. Posso ser tímido no começo, mas se o assunto se der para falar, falo com toda a gente.

Acredito na lei dos direitos e deveres, e dentro dos meus princípios vivo e respeito essa lei. Não preciso prejudicar ninguém, não desejo o mal a ninguém, e por mais que tenham feito algo que me atinja, prefiro passar por cima, deixar que o tempo traga as respostas. Sou contra qualquer tipo de violência, injustiça e vingança. O ser humano não precisa disso, é isso o que mais repudio. Todos nós temos direito á vida e somos livres para escolher como vivê-la. Não se pode fazer o mal assim, como se fosse algo normal da natureza humana. Se não posso fazer o bem, ou ajudar, com certeza não irei atrapalhar e muito menos fazer o mal. Às vezes as minhas escolhas podem não agradar às pessoas que amo, mas, preciso viver, porque é para mim, uma necessidade que todos nós temos, mas é preciso coragem para enfrentá-la. Há quem diga: falas muito, mas fazes pouco... não acho, mas se chamam, é porque sou mesmo.

O melhor ingrediente para tornar a vida com mais fundamento, é o bom humor, isso é fundamental. prefiro rir, falar baboseiras, brincar, imitar, fazer graça, do que ficar a falar da vida alheia. Queixar-me? Enervar-me? Para que? Isso não leva ninguém a lugar nenhum.

Gosto de ser da minha terra, sou loucamente apaixonado por ela, É tudo! Vivo e tento viver feliz. Não sou uma pessoa vazia, nem solitária, mas também tenho medo da solidão. Odeio que me venham com declarações do tipo: metade da maçã, alma gêmea e coisas assim! Não sou metade, sou inteiro. Até porque estamos carecas de saber que absolutamente nada é para sempre.

Por isso insisto que a vida é feita de momentos, alguns arrependimentos, mas nada que mate ou que impeça de continuar vivendo, tudo que passamos durante a vida, contribui para nos tornarmos pessoas melhores, ter a certeza de que vale muito a pena viver.

Quando a gente se respeita, acaba-se entendendo que não se deve fazer aos outros o que não queremos que façam connosco. E isso é tão simples. Que mania teimosa que o ser humano tem de complicar e dificultar tudo, sem contar a malícia e a maldade que colocam em tudo. Mais genuinidade, mais espontaneidade, isso não significa ser ingênuo ou idiota. Dizem que sou cabeça dura, coração de pedra, mas não é isso, só não sou para ser romântico. Posso até falar, escrever, ler e assistir coisas românticas, mas não curto coisas doces o tempo todo, é muita falsidade para mim, não se diz “eu amo-te” por tudo e por nada”

Na minha essência, os meus pais ensinaram-me a zelar do meu nome, da minha moral, a ser honesto, é assim que quero ser, com o meu pai percebi que a vida é muito mais que sentimento, que é preciso fazer as coisas sem esperar nada em troca, aprendi a conquistar as pessoas assim. Com os meus irmãos, sempre percebi que depois de tantos anos, entre nós existe o perdão, a desculpa, que a aprendemos a praticar cada qual a seguir a sua vida, saber perdoar é uma virtude. Os meus amigos, fundamentais, são básicos no meu viver, tornam a minha vida mais feliz, provam-me o quanto preciso deles, o quanto é bom ser útil.

A vida é um passeio, uma volta, onde cada um é responsável pelos seus atos. Passamos uns pelas vidas dos outros, sempre levando algo de alguém e deixando algo de nós. A nossa fé, é o nosso tempo é a vida. É preciso acreditar em sensações, numa energia transcendente, que transborda o amor da criação, que está nos mínimos detalhes, nas coisas mais simples. É preciso acreditar e cuidar, porque a fé é o melhor caminho. Adoro crianças, bebês, queria ser pai, sem preferências de raparigas ou rapazes. Pois é, o nascimento de uma criança é um marco na vida de qualquer pessoa!

Quero envelhecer e conversar com os jovens, assim como converso com velhinhos com respeito e admiração. Pelo que vêm, gosto de conversar, adoro cavaqueiras longas e construtivas, não vão pensar que sou um chato que fala demais, nem que sou certinho ou algum santinho.

Escrever pode ser uma alternativa valiosa e uma forma de nos expressarmos com absoluta liberdade. Tente expressar os seus pensamentos e sentimentos por meio da escrita! À medida que os dias parecem sempre iguais, escrever pode ajudar a diferenciá-los e ajudar a diminuir o stresse.


Ilídio Bartolomeu



domingo, 24 de março de 2024

Endoenças em Argoselo 1999

Em Argoselo são ainda muitas as tradições cristãs e pagãs que sobrevivem e repetem na semana que antecede a Páscoa, desde os autos da paixão, as endoenças, vias-sacras, queima do Judas.

Estas tradições são marcadas por fortes sentimentos de religiosidade, mesmo quando constituem momentos eufóricos da expansão lúdica do povo"



sábado, 16 de março de 2024

Auto da Paixão de Jesus Cristo (Argoselo) 1ªParte



O TEATRO POPULAR


"O Auto da Paixão de Cristo é uma parte da identidade Argoselense. Este espetáculo é a reprodução da maior prova de amor realizada entre os homens. Tradição desta altura do ano, o teatro popular religioso pode estar em vias de desaparecer. Mesmo assim, há quem queira revitalizá-lo. A dinâmica social das povoações mudou, os autos, constituíam uma importante manifestação de teatro popular tradicional, podem estar em vias de desaparecer. É difícil juntar 50 ou 70 pessoas, em povoações desertificadas, duas horas por dia, para ensaiar a realização do auto, para que ponham de pé a representação, o dinheiro até aparece, uma vez tomada a decisão. Mas não há sequer dinamizadores locais. O clero poderia interessar-se mais, passando o entusiasmo à pessoas, para contrariar aquilo que pode ser a tendência de desaparecimento.

Não só o padre Manuel do Nascimento, que enquanto pároco, como alguns intelectuais argoselenses; Sr. Ismael, (latueiro) Sr. Raimundo (sapateiro) mais recentes; Sr. José Fernandes (conde) Sr. Humberto do Fundo (limpa chaminé) e Sr. Carlos Oliveira (sargento) ajudaram a dinamizar a tradição teatro popular. Nestas iniciativas desempenharam um papel importante.

Que eu me lembre, vi em Argoselo, Os Sete Infantes de Lara, A Paixão de Cristo e a Imperatriz Porcina. Os textos dos autos (como das endoenças) são, essencialmente, manuscritos por populares a partir de outros textos eruditos sobre a vida de Jesus.

Nas longas noites de Inverno, dizia José Fernandes (Conde) era fácil à comunidade encontrar-se para ensaiar. A emigração e a desertificação do interior foram causas evidentes da desmobilização popular em redor destas tradições. Como também o aparecimento de formas alternativas de passar o tempo livre, como os cafés. Hoje, para retomar a tradição, é mais difícil que aconteça. Junto de alguns conhecedores do fenómeno, numa década houve um só auto em Argozelo, havia muito mais realizações nas décadas de 50 e 60 foram, aliás, as mais intensas em termos de realização e recolha, neste século.

A comunidade diz também que nota não haver muito interesse por parte das entidades em " recriar, reinventar, recuperar ou não deixar morrer" o teatro popular.

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Auto da Paixão de Jesus Cristo (Argoselo) 2ª Parte








quinta-feira, 14 de março de 2024

MEMÓRIAS DA PÁSCOA QUE SERÃO SEMPRE DE HOJE!!!

 

Cabrito assado no Forno

Na Quaresma, no tempo antes da Páscoa, é altura de jejum: evita-se comer carne às sextas-feiras, por respeito a Jesus Cristo que foi crucificado numa sexta-feira. Mas o domingo de Páscoa já é dia de festa e ressurreição, voltando-se a comer carne como cabrito ou borrego, à imagem dos tempos antigos

Nos dias anteriores à Páscoa a água do rio lavava os cobertores, arejavam-se e perfumavam-se as casas com ramos de alecrim, limpavam-se as paredes, esfregavam-se os soalhos, substituíam-se os papéis que enfeitavam o rebordo dos armários da louça, ao mesmo tempo que se procedia à lavagem e renovação da palha dos colchões, enchiam-se, com a ajuda duma forquilha feita a partir de um ramo duma árvore. Areavam-se os tachos e panelas e tudo tinha de estar a brilhar para receber o Compasso. Do cheiro a rosmaninho, buxo e plantas que atapetavam a entrada das casas, do folar e da rosquilha acabado de cozer, que inundava a rua mal se abriam as portas, do sabor doce da jeropiga e do porto com que cada família recebia a comitiva da visita pascal, do som do sininho anunciando o percurso da cruz e da caldeirinha.

A excitação da época pascal começava no Domingo de Ramos. Sem fé e sem o mínimo conhecimento do significado dos rituais religiosos desta época, só me interessavam os ramos feitos com alecrim, rosmaninho, buxo e oliveira. Vestido de domingueiro, eu percorria a longa rua da aldeia, do cruzeiro de São Sebastião até à ao cruzeiro de Santo Amaro. Aí, juntava-me aos miúdos da minha criação, uns com singelos ramos, outros com ramos maiores cumpríamos escrupulosamente os ritos da missa do Domingo de Ramos no largo da praça, onde o padre terminava abençoando-os com água benta no largo da praça.

O dia de Páscoa amanhecia bem cedo. As crianças andavam numa euforia! Vestidas com as suas melhores roupas, era nesta altura que estreavam roupa nova, mesmo os mais pobres, cujos pais tinham poupado uns tostõeszitos para a ocasião. Como toda a gente, eu acreditava na diferença entre água benta e água vulgar, pela pia de pedra onde se encontrava à entrada da igreja, ou outros recipientes onde se guardava para mais tarde. Tal como acreditava que era sangue de Cristo que o padre bebia por um copo de prata, e o corpo de Cristo que ele dava a comer em forma de hóstias a todos aqueles a quem a confissão limpara a alma.


A  Pia  da Igreja

A pequena sineta, nas mãos de uma jovem criança ou de um adulto, já se fazia ouvir de mansinho pelas ruas da aldeia e aquele som era uma música melodiosa que entoava nos ouvidos dos meninos. A alegria era contagiosa! – Já lá vem…já lá vem…, gritavam eles a plenos pulmões numa grande euforia.

O primeiro a entrar nas casas era o homem que transportava a caldeira da água benta e que aspergia a todos numa bênção desordenada. Ao mesmo tempo outro elemento da comitiva lia uma pequenina passagem da Bíblia, muito rapidamente, à qual ninguém prestava atenção. Depois entrava o homem que transportava a cruz e todos se ajoelhavam dando o crucifixo a beijar a todos os presentes, repetindo “Corpo de Cristo”, A seguir vinha o que transportava o saco do dinheiro, não poderia faltar, claro, todos contribuíam de acordo com as suas possibilidades. Lá fora o sineiro não parava de tocar.

A nossa tarde do Domingo de Páscoa era passada neste caminhar, entrar e sair das casas. Mas era o Domingo de Páscoa que me enchia de alegria. Adorava percorrer a aldeia atrás da pequena comitiva de acólitos de Cristo. Os breves minutos que o Compasso permanecia dentro de portas variava de casa para casa. Era nesta altura que o tempo media e separava os estratos sociais.


O Folar da Páscoa

Enquanto nas casas dos pobres o Compasso mal entrava já estava de saída, nas casas dos mais abastados havia uma mesa coberta por uma bonita toalha branca de linho e, em cima, por regra, uma garrafa de vinho do Porto assim como folares, rosquilhas, pão-de-ló, bolos e amêndoas, para acompanhar a pequena conversa de circunstância. Não faltava também um pequeno prato onde uma nota bem à vista ajudava a purificar a casa.

Assim recordo a Páscoa, muitos que já partiram para a terra do “nunca mais de lá voltam”, o domingo do sininho, da caldeirinha e da Cruz, o dia de “beijar o Senhor”, as ruas perfumadas com cheirinho de alecrim e outras flores, as casas com o perfume do folar e da rosquilha cozido e dourado no forno a lenha. Era assim a visita pascal, naqueles dias, que passava num ápice como uma rajada de vento.

A minha aldeia era uma terra de mineiros e, naquela altura, poucos anos após a segunda Guerra Mundial, o trabalho nas minas começava a escassear. As dificuldades surgiam, a fome era muita e as doenças, como por exemplo a tuberculose e sarampo atingiam praticamente todas as casas. Mas não havia preocupação nenhuma em beijar a Santa Cruz. Se a fé movia montanhas porque não poderia afastar as doenças?


As Amêndoas da Páscoa

Ou seria pura e simples ignorância. Ainda hoje a Páscoa representa, para mim, um tempo de renovação, um tempo de arejar as ideias após o longo e obscuro inverno que a precede. É urgente eliminar do pensamento tudo que seja negativo para que não haja qualquer resquício que atrapalhe o caminho.

Tão importante que se passem a escrito essas evocações de algo que se vai perdendo e consolidava a comunidade. Neste tempo de Páscoa, percebo, ano após ano, que eu posso ter saído da aldeia, mas a aldeia não saiu de mim.

Ou seria pura e simples ignorância. Ainda hoje a Páscoa representa, para mim, um tempo de renovação, um tempo de arejar as ideias após o longo e obscuro inverno que a precede. É urgente eliminar do pensamento tudo que seja negativo para que não haja qualquer resquício que atrapalhe o caminho.

Tão importante que se passem a escrito essas evocações de algo que se vai perdendo e consolidava a comunidade. Neste tempo de Páscoa, percebo, ano após ano, que eu posso ter saído da aldeia, mas a aldeia não saiu de mim.

Desejo boa Páscoa a todas as Famílias paz e felicidade!


Após a casa benzida,

O povo a cruz beijou,

Aleluia! Nova vida!

Cristo ressuscitou!


Blog Freixagosa













domingo, 10 de março de 2024

ENTENDER O PODER DAS PALAVRAS

Há um poder intrínseco nas palavras que transcendem a sua simplicidade aparente. Elas são mais do que meros sons ou símbolos escritos; são veículos de emoção, conhecimento, conexão e transformação. As palavras têm o poder de acalmar corações inquietos, inspirar mentes cansadas e provocar mudanças profundas no mundo ao nosso redor.

Quando proferidas com cuidado e intenção, as palavras podem erguer castelos de esperança nos corações despedaçados, acalmar tempestades internas, curar feridas antigas e iluminar caminhos obscuros. Como pincéis nas mãos de um mestre pintor, as palavras podem criar paisagens de beleza indescritível na mente daqueles que as ouvem.

No entanto, assim como têm o poder de construir, as palavras também têm o poder de destruir. Uma única palavra lançada ao vento sem pensar pode causar estragos irreparáveis na vida de alguém, deixando cicatrizes profundas e perpetuando dor por gerações. O cuidado com o uso das palavras é essencial, pois o que é dito não pode ser facilmente desfeito.

O poder das palavras é tal que elas podem atravessar fronteiras, conectar culturas e unir corações distantes. Por meio das palavras, partilhamos histórias, conhecimento e experiências, encurtando as distâncias que nos separam e nutrindo a empatia que nos torna humanos.

Assim, ao reconhecer e honrar o poder das palavras, tornamo-nos não apenas mestres da nossa própria narrativa, mas também artesãos de um mundo mais compassivo, justo e belo. Cada palavra que escolhemos cuidadosamente representa uma oportunidade de construir pontes em vez de muros, de curar em vez de ferir, de amar em vez de odiar.

Que possamos, portanto, lembrar sempre o imenso poder que reside nas nossas palavras e usá-lo com sabedoria, gentileza e compaixão, espalhando luz e esperança por onde quer que passemos.

Blog Freixagosa




terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

NAS HORAS DE NOSTALGIA...


Ainda se lembram?

Crónica


Escrevo para os que gostam de ler; para as pessoas que debatem ideias, ainda que diferentes das minhas, mas, sem assumirem o posto de guardiãs da verdade ou do absolutismo de uma vertente – sobre qualquer assunto que envolva, sociedade, cultura ou política. Escrevo para as pessoas com alma, que querem permanecer lúcidas, mesmo que na paisagem haja falta de empatia. A minha aldeia não é o mundo, é uma ponte para ligar a História, colocar no mapa a opinião e o sacrifício do que significa.

No ano em que nasci, nasceram mais quarenta e cinco crianças nesta aldeia. Aos sete anos, todas fomos frequentar a escola pela primeira vez. Fizesse chuva ou sol escaldante íamos a pé, fosse do bairro do Latedo, do Bairro de Baixo, dependendo de onde vivia até à escola. A roupa e calçado que usávamos por vezes não se adequavam ao tempo. Lembro-me no inverno chegarmos à escola completamente encharcados. Nesta altura a escola tinha três salas para raparigas e rapazes (separados).

Desde essa altura… que a minha memória começou a fixar as coisas que via. Lembro-me que era uma manhã risonha, com orvalhada, mas com sol quentinho, o meu tio Porfirio, aparelhou um jumento que tinha, com uma tosca albarda, e pôs-me em cima do animal e resolveu levar-me com ele até à horta que ficava para os lados de São Roque. Foi a primeira vez que montei num animal. Uma verdadeira aventura para uma criança da minha idade.

Depois de sair do povoado, comecei a avistar a natureza. Do meu lado esquerdo, os olmos e as eiras dos Amados; do meu lado direito, o sol que há pouco tinha nascido, as vinhas, terras cultivadas e ao ouvir os diferentes cantos das aves, perguntava ao meu tio; que pássaros são estes que estão a cantar? e ele dizia-me… é o rouxinol, é o pintassilgo, etc., isto ao longo das terras de cultivo. Ao avançar para os pinhais, o canto das aves já era outro; o cuco o gaio etc... O caminho marcado pelos fundos rodados dos carros de bois; e gostei tanto daquele contacto com a natureza, que não sei porquê, as minhas retinas de criança, fixaram e gravaram para sempre na minha memória, aquele cenário, para o resto da minha vida. Talvez daí a razão do que vou contar, e eis o principal cenário que continua vivo na minha mente e o motivo por que escrevo esta crónica.

Lembram-se desta Fonte das Nogueiras?

À semelhança de outras aldeias do interior, a nossa também nesta época não tinha luz elétrica nem água canalizada. Todos os fins-de-semana havia um bailarico, vinham pessoas doutras aldeias e principalmente jovens, pois nesta aldeia havia muitas raparigas. Era um dos entretimentos, onde se divertiam novos e mais velhos, ao som da rádio, ou do realejo. Qualquer coisa servia para divertir este povo sempre muito danado para a paródia. Como não havia luz elétrica, estes bailaricos por vezes eram feitos à luz do luar. Os rapazes muito malandrecos, aproveitavam-se deste momento para dar um beijinho ao seu par e despiderem-se; até ao próximo domingo.

Hoje, ao olhar para trás, fico admirado por, numa aldeia haver tantas profissões no ativo diário…quanto a profissões, havia de tudo um pouco. A maioria das pessoas eram comerciantes, agricultores e era da agricultura que viviam. Mas havia profissões a dar com um pau, como, por exemplo: ferreiros, carpinteiros, padeiros, costureiras, alfaiates, tecedeiras, barbeiros, latueiros, peleiros, eletricistas e mineiros estes; de desgaste rápido, pressão e stresse; desgaste emocional e físico; e condições de trabalho exigentes, e bastante penosas.

Hoje… percorrendo o mesmo trajeto (paraíso) de à setenta e seis anos, o que fiz, o caminho hoje é rua, é diferente; desapareceram os vestígios dos animais de carga e os rodados dos carros de bois e deram lugar a casas, as aves… essas desapareceram; o seu cantar foi substituído pelo som da rádio e as terras que outrora estavam bem cultivadas dissolveram-se. O paraíso da minha infância, da memória a desabrochar para o mundo, como aquela manhã de Primavera…desapareceram… mas enquanto eu viver, ainda me lembro…Há coisas que nunca esquecem…e outras por serem das primeiras que o nosso cérebro guarda, quando começamos a tomar consciência do que existe à nossa beira, ficam-nos gravadas para sempre nessa calculadora maravilhosa a que chamamos memória e vão e vêm à nossa mente para o resto da nossa vida. Esta é uma delas. É algo impagável. É sinal que vivemos e que a nossa vida fez sentido, só pelas pequenas histórias e memórias que conseguimos juntar ao longo dos anos. Todos temos histórias longínquas – quer fictícias, quer reais – que ao longo dos anos foram povoando o nosso imaginário, que nos acompanharam pela vida fora e que foram tomando conta da nossa memória. Para os mais antigos, são histórias de outros tempos, contadas nos serões das aldeias, à lareira, ou transmitidas oralmente às gerações mais novas. Podem ser relatos autênticos ou recriados, lendas, testemunhos, contos, isto é, uma herança cultural coletiva que se vai adulterando com o passar do tempo ou

E desta Imagem lembram-se

que, se não for transmitida, está votada ao esquecimento. Podem ser, também, vivências pessoais de tempos idos, que habitam a nossa memória individual e que recordamos com saudade e ternura. Em comum, têm a oralidade, a singularidade, os afetos e a pertença a uma terra, a um lugar.

Sonho daqui uns anos, mais velho, me relembrar de tudo o que vivi e saber que vivi a minha melhor vida. Rir comigo e com os meus amigos de todas as aventuras, experiências e peripécias que cada um viveu. Vão ser bons momentos.

Ao acaso dos caprichos das já longínquas e desvanecidas memórias minhas, sou assaltado por imagens desses outros tempos; inesquecíveis, vejo-as e ouço-as como se fossem hoje e agora. Como eu gostaria de saber transmitir numa tela, estas imagens de infância que ainda guardo na minha mente.

Adoro memórias. Adoro lembrar-me de pequenos momentos que me fizeram sorrir no passado e momentos menos bons que me fizeram quem sou hoje no presente. Ambos são tão importantes, apesar de ser muito melhor relembrar os momentos felizes. Pois na minha memória ficou mais acentuada aquela imagem da saída da povoação e o contacto com o espaço aberto da natureza (hoje sei) era de Primavera.

Regressar a uma aldeia onde fomos felizes, em crianças, é como tentar coser uma manta de pequenos retalhos de memória. Vale tudo para recuperar histórias e sensações antigas. Um cheiro, uma porta familiar. Ou uma conversa informal, entre amigos.

Na minha mente de criança, penso hoje, se existe o paraíso, seria aquela paisagem, aquele envolvimento com a natureza, naquele ambiente rural, naquela idade do desabrochar para a vida…visto por uma criança, nem me dava conta. Achava tudo normal.


A minha Aldeia primeira,

É linda de lés a lés,

Com o Serro à cabeceira,

E o Rio Maças a seus pés.


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sábado, 3 de fevereiro de 2024

A JUSTIÇA QUE TEMOS!


Como um sopro de nada, assim me esvaio nesta vida curta, onde uns tudo têm, tudo podem, tudo pisam, e outros, coitados, nada temos, nada podemos, coitados.

Um país estilhaçado por corrupção humana, sim, cometida pelos Homens, não por deuses ou arquitetos.

Um país que trata mal quem tanto deu à nação é um país sem futuro a quem um dia irá faltar o pão.

Um país despovoado é sinónimo de um futuro desequilibrado.
Triste sina a nossa onde nem a justiça nos vale, pois essa, que nos poderia servir a esperança, está mais cega do que nunca.

Valha-nos o calor do nosso humilde lar, com lenha apanhada por estas mãos, por animais criados por esta gente, por uma paz que não deseja a guerra, por uma vida que teima em não chegar ao fim.

A situação em que o mundo se encontra, diante de incoerências de mandatários de países impregnados de ideias dominantes, poderá resultar na deflagração de uma grande guerra em nível global...


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domingo, 28 de janeiro de 2024

A “MINHA ALDEIA DO SOSSEGO”

Já largos anos, sobre as minhas periódicas deslocações à aldeia de Argoselo, terra de onde são naturais meus pais, pessoas pobres e humildes, mas de gente imensamente rica em valores os quais incutiram à minha pessoa e aos meus irmãos. Esses longínquos tempos trazem-me doces recordações que por vezes recordo quando percorro o silêncio da minha mente e alimento uma felicidade interior sempre que vasculho as minhas memórias.

A minha rua era na altura cheia de vida, ao contrário dos tempos presentes. Lembro-me bem dos rostos de alguns vizinhos cujos nomes: tio Queninas, tio Tó, tio Funguinha, tio Tramar, tio Patarata, tio Alberto sapateiro, tia Estrela, tia Moca e tia Fernanda que nunca esquecerei... por ter sido a parteira de todos os filhos que a minha mãe teve.

Apesar dos anos que carregamos nos ombros, existem caras, amizades, conhecimentos e principalmente momentos que nunca esquecemos e as doces lembranças de Argoselo guardo-as também comigo…

As saudades conduziram-me a casa do meu tio Porfirio, com quem sempre tive uma relação muito especial. Na verdade, não sei o que esperava de alguém que já se encontra perto dos 90. Acho que nunca esperamos que as pessoas que amámos envelheçam, porque sabemos qual é o passo seguinte.

Num dos terrenos onde me deslocava com o meu tio Porfirio, colhia frequentemente do regato de águas límpidas a “merujinha” e os agriões com os quais a minha mãe preparava saladas que muito me agradavam. Gostava especialmente da merujinha … adorava voltar a comer, já não a saboreio à muitos anos.

Como todos os terrenos eram cultivados, encontrava-se sempre alguém para dar dois dedos de conversa, para além dos habituais cumprimentos.

Nos percursos efetuados de tarde era usual levar alguma coisa para se comer à merenda, tarefa que se realizava quase sempre à sombra de uma árvore que lá existia.

Numa dessas tardes, quando se estava a regressar a casa, encontramos um casal já idoso o António Amado que andavam a regar a horta. Após os cumprimentos da praxe iniciou-se uma pequena troca de palavras de circunstância. O casal não tirava os olhos da cesta da merenda que tinha bem à vista uma garrafa de vinho. O meu Tio Porfírio apercebeu-se e perguntou ao casal se queriam beber uma pinga. A resposta foi pronta e afirmativa. O senhor António Amado começa a beber e, golada após golada, esvaziou a garrafa.

Depois encontrei o meu antigo amigo de escola Eugénio Quina. Ao olhar para ele, recuperei velhas memórias, amizades perdidas, professores de quem não gostei e outros que não esquecerei, amores que se alimentavam de cartas e recadinhos em papel, recantos que foram palco de grandes histórias…

Durante os Invernos não havia tanto tempo para esta convivência. Os dias eram muito pequenos e frios e não dava para estar na conversa ao ar livre. As lareiras estavam quase sempre acesas, comiam-se sopas de cavalo cansado para dar força e ânimo, ou bebiam-se umas gemadas bem fortes.

Mal eu sabia que, dias mais tarde, teria mais memórias para chorar. O meu tio Porfirio acabaria por morrer. Sentiu-se mal, nada havia a fazer. Uns anos mais tarde, os meus pais também faleceram.

Pedaços da minha existência que se afastam. Pessoas que não víamos há anos, mas que quando sabemos mortas, sentimos que algo dentro de nós também se apaga, como se pouco a pouco o livro da nossa vida fosse perdendo folhas, uma história de vida, que vai perdendo os seus personagens.

Uma terra onde todos se conhecem, onde ainda se mantêm alguns costumes, tradições, princípios e onde também se adquirem muitos valores e isso sente-se quando as pessoas que nos visitam ficam marcadas pelo nosso acolhimento, respeito e simpatia.

Voltei para a cidade convencido que não tinha mais motivos para regressar à minha aldeia, onde as minhas histórias não se iriam repetir, onde não iria construir mais memórias, onde os rostos não me iriam abraçar como outrora, onde nada seria como era.

Deixo em jeito de conclusão, um sentimento de especial amor para com as suas gentes que tão bem me trataram desde a minha infância até aos presentes dias.


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domingo, 7 de janeiro de 2024

SEM ÓDIOS...

Revolta... a mania de certas pessoas de fazerem pactos com o diabo para prejudicar o próximo. São aqueles que por recalque e inveja, conspiram com tudo e com todos para prejudicar quem nunca os ofendeu ou lhes causou mal nenhum. Esquecem-se que essas pessoas da maldade, que o recurso á raiva, ao rancor e ao ódio, é como arma de arremesso que volta e atinge o agressor.

Melhor é viver a vida sem rancores e sem praticar maldades. Também sem ambições desmedidas que levam ao caminho da perdição. Pôde-se viver com dignidade sem ganância e sem venerar o bezerro de ouro. Que mal há em viver frugalmente? Não, ninguém deve abrir mão das suas ideias, deve defendê-las, mas para isso não precisa ofender quem pensa diferente.

Outro ponto, fica ridículo e é uma agressão ao bom senso negar os factos, tentar esconder a verdade. Tudo bem, todos temos os nossos temperamentos, antipatias e aversões pessoais. Faz parte da natureza humana. No entanto, não podemos transformar esses sentimentos em ódio e nem em maldade.

Estamos a viver um momento em que as pessoas até com boa bagagem cultural recorrem ao ódio gratuito.

Creiam, podemos viver sem recorrer ao ódio.

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